Sombras
de Gumprecht
Sombras
de Gumprecht, também chamadas de manchas de Gumprecht, smudge cells
ou basket cells, são artefactos presentes no esfregaço de sangue
periférico correspondentes a restos de células frágeis, que foram
lesadas no processo técnico de estiramento do esfregaço sanguíneo.
Na
maioria dos casos as manchas de Gumprecht representam restos
linfocitários, mas a linhagem celular é de muito difícil
estabelecimento, dado a célula não se apresentar intacta.
As
manchas de Gumprecht representam, desta forma, pequenos linfócitos
maturos caracterizados por uma fragilidade peculiar da membrana
celular, que leva frequentemente à rotura da célula durante a
execução do esfregaço sanguíneo, com formação de restos
linfocitários. São portanto células mortas nas quais é impossível
fazer a distinção morfológica do tipo celular, mas que
frequentemente são de origem linfocitária, podendo também ser
derivadas dos neutrófilos, que aparecem frequentemente em doentes
com LLC, mas podem também aparecer em outras patologias, e em crianças
pequenas sem patologia significativa.
Na
realidade, smudge cells são restos de material nuclear condensado,
sem citoplasma identificável. O procedimento técnico de adicionar
uma gota de albumina sérica por cada 4-5 gotas de sangue, antes do
estiramento do esfregaço, resulta no evitar da formação destas
manchas de Gumprecht.
As
manchas de Gumprecht são principalmente vistas em patologias que se
caracterizam por fragilidade linfocitária, tais como LLC ou
mononucleose infecciosa.
Estudos
apontam, mas precisam de ser confirmados, para o número das manchas
de Gumprecht, em valor percentual comparativamente com os linfócitos,
se correlacionarem com a sobrevivência nos doentes com LLC.
A
formação de smudge cells correlaciona-se inversamente com a
expressão da vimentina, uma proteína filamentosa do citoesqueleto,
e que parece ser um marcador de prognóstico na LLC.
A percentagem de smudge cells é superior nos doentes com mutação do gene da cadeia pesada da imunoglobulina, comparativamente com aqueles doentes sem esta mutação ( as imunoglobulinas são formadas pela
acção de 3 genes diferentes: um para a cadeia pesada e um para cada
uma das cadeias leves, κ
e λ ). Importante referir
o facto que nos casos de LLC a maioria das células neoplásicas são
linfócitos B ao contrário do que acontece no indivíduo saudável
em que a maioria dos linfócitos são T.
Quando
a LLC avança, surge hipogamaglobulinemia ( carência total ou parcial
de anticorpos ). A diminuição do veículo de resposta imunitária,
as imunoglobulinas ou sua fracção gama, confirmam o diagnóstico de
LLC.
A
LLC é uma doença cumulativa e não proliferativa, isto é, os
linfócitos neoplásicos que são B e não T, CD 5+, têm um turn over lento, com uma semi-vida muito maior que a do linfócito B
normal, talvez por apresentarem um bloqueio da maturação. Na LLC os
linfócitos acumulam-se, primeiramente na medula óssea, e passando
posteriormente para o sangue periférico, linfonodos, baço e fígado.
A
vimentina, uma proteína de 52-58 KDa, da família dos filamentos
intermediários, compõe o citoesqueleto juntamente com outras
proteínas como a actina e os microtúbulos.
Um
monómero de vimentina, bem como todos os outros filamentos
intermediários, tem um domínio central em α-hélice,
coberto em cada terminação por domínios não helicoidais amino e
carboxi. Dois monómeros se retorcem, um sobre o outro, para formarem
um dímero em espiral. Dois dímeros formam um tetrâmero que, por
interacção com outros tetrâmeros, formam uma folha β.
Vimentina
O alto grau de
insolubilidade da vimentina sugere a sua função estrutural no
citoplasma como forma de ancoragem da posição dos organelos no
citosol. A vimentina está ligada ao núcleo celular, mitocôndrias e
retículo endoplasmático. Evidências existem de que a vimentina se
associa à membrana nuclear e à membrana citoplasmática, mantendo o
núcleo na sua posição e o fuso mitótico, durante toda a vida
celular. A natureza dinâmica da vimentina é importante para
oferecer flexibilidade à célula. A resiliência que as células têm
é proveniente da vimentina, resiliência essa ausente nas redes de
filamentos de microtúbulos e actina quando sob stress mecânico
in vivo.
A vimentina é a
principal proteína responsável pela forma celular, integridade do
citoplasma e estabilização das interacções do citoesqueleto. É a
vimentina que controla o transporte da LDL-colesterol do lisossoma
para o local de esterificação. As células passam a armazenar uma
percentagem muito menor de lipoproteínas do que as células normais
com vimentina. Essa dependência do armazenamento da vimentina parece
ser o primeiro processo duma função biológica em qualquer célula
que depende duma rede celular de filamentos intermediários. Este
tipo de dependência tem ramificações em células da supra-renal
que dependem de ésteres do colesterol derivados do LDL.
A vimentina é
fundamental na manutenção da potência do citoesqueleto responsável
pela forma da célula e sua resistência a forças externas.
O microambiente
extracelular tem a capacidade de modular a organização e expressão
dos filamentos intermediários, como a vimentina, durante os
diferentes processos pelos quais a célula passa, como adesão,
proliferação, migração e diferenciação celular.
A vimentina
apresenta-se dispersa por todo o citoplasma e processos celulares,
como redes bem definidas, sendo mais densa nas regiões mais distais
destes processos.
Vimentina
A vimentina é um,
de entre vários, filamento intermediário existente e que faz parte
do citoesqueleto.
As células
eucarióticas são estruturadas por um complicado sistema de
interacções entre os componentes do citoesqueleto e os componentes
da membrana plasmática. O comportamento dinâmico e a estabilidade
mecânica da arquitectura citológica depende de um sistema de
filamentos interconectados, formados pelos microtúbulos constituídos
por heterodímeros de α/β-tubulina,
microfilamentos formados de actina e filamentos intermediários
formados a partir de proteínas fibrosas.
As lâminas
nucleares são filamentos intermediários formadoras de um
revestimento fibroso no interior da membrana nuclear e que promovem
locais de ligação para os cromossomas na interfase e participam na
formação de complexos multiproteicos nos poros da membrana nuclear.
A actina e a
tubulina são proteínas globulares altamente conservadas, com
ligação a nucleotídeos e actividade de hidrólise conhecida,
enquanto que os filamentos intermediários são proteínas fibrosas
com uma pouco conhecida actividade enzimática. São caracterizados
por uma grande região central em α-hélice,
denominada “rod” ou “bastão”.
É uma estrutura bem
conservada mas que diverge acentuadamente na sua sequência primária
com excepção de 2 regiões altamente conservadas nas regiões
finais da α-hélice. Os
domínios amino-terminais que não fazem parte da α-hélice
contêm diversos resíduos de amino-ácidos básicos, com a
possibilidade de interactuarem com os domínios ácidos da α-hélice,
assim como de formarem locais de ligação com vários componentes
celulares incluindo locais de fosforilação.
Os filamentos intermediários citoplasmáticos agrupam-se classicamente em 4 classes ( tipo I a IV ) baseando-se essa classificação na homologia
de suas sequências. As lâminas nucleares formam a classe V e
actualmente considera-se haver uma classe VI. A vimentina pertence à
classe III e é capaz de se polimerizar com várias proteínas como a
desmina, proteína ácida fibrilar glial, periferina, NF-L,
α-internexina e nestina.
A vimentina é uma
proteína presente nas células mesenquimais, de 52-58 KDa, que pode
ser fosforilada no resíduo tirosina em várias condições. A
fosforilação de proteínas dos filamentos intermediários, como é
o caso da vimentina, é uma via que gera várias subunidades solúveis
que depois de serem desfosforiladas se apresentam prontas para nova
fosforilação. Desta forma a fosforilação-desfosforilação dos
filamentos intermediários permitem a modulação dinâmica das redes
de filamentos intermediários. A subunidade regulatória da proteína
fosfatase A2 e a proteína cinase-α,
que se liga a RhoA, têm sido relacionadas com a fosforilação da
vimentina in vitro e são co-localizadas com os filamentos
intermediários da vimentina in situ.
A vimentina é o
maior componente estrutural dos filamentos intermediários em células
de origem mesenquimatosa. As subunidades de vimentina polimerizam-se
formando um complexo sistema de redes com uma organização radial
que se estende centrifugamente até ao núcleo.
Vimentina-actina
As redes de
vimentina são coincidentes na localização com as redes de
microtúbulos, o que sugere que estes filamentos interagem uns com os
outros.
Vimentina-tubulina
A
polimerização-despolimerização da vimentina é controlada por um
complexo sistema de quinases e fosfatases. A vimentina pode ser
fosforilada em serina e treonina. Também o factor de crescimento
derivado das plaquetas ( PDGF ) pode induzir a fosforilação da
vimentina em tirosina e dessa forma promover a despolimerização em
certos segmentos.
Foi demonstrado que
a vimentina está relacionada com o controlo da rigidez celular,
sendo que a falta de vimentina daria uma maior rigidez às células.
Estudos sugerem
existir uma correlação entre a morfologia celular e a expressão
de genes do citoesqueleto.
Tubulina e actina
encontram-se na célula nas formas polimerizada e não polimerizada,
enquanto que a vimentina encontra-se na célula fundamentalmente em
forma polimerizada. A vimentina é uma fosfoproteína, sendo a taxa de
fosforilação da vimentina maior durante a mitose e estimulação
hormonal. A diminuição da taxa de síntese da vimentina parece ser
feita ao nível da tradução, porque a actividade do mRNA para a
síntese da vimentina é sempre idêntica.
Acúmulo de
vimentina fosforilada nas células correlaciona-se com o acúmulo das
células em mitose.
Os níveis da
expressão da vimentina correlacionam-se com a forma celular e
comportamento da mobilidade das células.
O alto grau de
sensibilidade da vimentina sugere a função estrutural no citoplasma
como forma de suporte e ancoragem da posição dos organelos. A
vimentina liga-se ao núcleo, ao retículo endoplasmático e às
mitocôndrias, seja lateral ou terminalmente. A vimentina também liga
as membranas nuclear e citoplasmática por forma a manter a posição
do núcleo e do fuso mitótico durante o tempo de vida da célula. Na
mitose, a vimentina é fosforilada no seu domínio amino terminal e
dispersa-se em agregados contendo formas filamentosas.
A flexibilidade
celular é, em grande parte, devida à natureza dinâmica da vimentina.
A vimentina oferece às células a resiliência, ausente nas redes de
filamentos dos microtúbulos e actina, quando sofrem stress mecânico
in vivo. A vimentina é uma proteína do citoesqueleto que é
responsável pela integridade celular, sendo que as células sem
vimentina ficam muito frágeis.