Cristais
de oxalato de cálcio
O processo de
biomineralização é o processo pelo qual organismos vivos formam
estruturas complexas inorgânicas, como é o caso da formação dos
cálculos renais. Podemos dividir o processo de biomineralização
induzida e biologicamente controlada, em que a principal diferença
é baseada no grau de especificidade e controlo exercido durante a
interacção entre os constituintes orgânicos e minerais no decurso
de todo o processo de precipitação.
A maioria das vezes, a urina não forma cristais no tracto urinário, devido a um adequado
equilíbrio entre os factores termodinâmicos ( como a
supersaturação da solução ) e os factores cinéticos ( como a
presença pré-existente de partículas sólidas e sobre o nível de
substâncias inibidoras da cristalização ). O desiquilibrio destes
factores pode levar à formação de cálculos, como o aumento de
tempo para a micção, que pode ser originado por uma ingestão
insuficiente de líquidos que também pode aumentar a supersaturação
das substâncias na urina.
http://www.youtube.com/watch?v=ky4rIo8Ro4I
No processo de
filtração, que ocorre no rim, o filtrado vai-se tornando mais
concentrado, e este aumento de concentração produz uma solução
saturada com formação de pequenos cristais. Estes cristais,
normalmente, são eliminados pela urina mas, devido a uma falha no
tracto urinário ou a uma grande quantidade de cristais formados, a
agregação e formação de cálculos pode ocorrer.
Os cristais de
oxalato de cálcio, para além de poderem ser formados no organismo
humano, também aparecem em várias plantas, como as folhas do chá,
espinafre, espargos, tomate, ruibardo, acelga, aracese, e muitas
outras. Pessoas, com história de cálculos renais, devem evitar
ingerir estas plantas.
O oxalato de cálcio
é um composto químico que forma cristais monoclínicos ( isto é,
em forma de agulha ).
Cristais de oxalato
de cálcio, na urina, são os constituintes mais comuns dos cálculos
renais e a formação de cristais de oxalato de cálcio é também um
dos efeitos tóxicos do envenenamento por etilenoglicol. Os cristais de oxalato cálcio podem surgir em 3 formas: whewelita ( monohidratados ), weddelita ( dihidratados ) e, a forma mais rara,
caoxita ( trihidratados ).
A litíase urinária,
ou urolitíase, é uma doença que se deve à formação de cálculos
renais. Estes cálculos são estruturas sólidas, resultantes da
aglomeração de cristais, que resultam de uma alteração metabólica
crónica do organismo, que provoca uma excreção aumentada de
substâncias pela urina, como cálcio, ácido úrico, oxalato, fosfato
e/ou diminuição de excreção de substâncias inibidoras da
cristalização, como sejam o citrato, magnésio, glicosaminoglicanos e nefrocalcina.
A composição
química dos cristais determina o tipo de cálculo formado, existindo
dessa forma vários tipos de cálculos, como sejam oxalato de cálcio
( 60 % ), oxalato de cálcio associado a fosfato de cálcio ( 20 % ),
ácido úrico ( 8 % ), struvite ( 8 % ), fosfato de cálcio ( 2 % ),
cistina e outros ( 2 % ).
A presença de um
cálculo no sistema urinário pode determinar, ou não,
sintomatologia, que pode chegar à insuficiência renal crónica.
http://www.youtube.com/watch?v=aljQsQJHW1c
Dado que a formação
dos cristais de oxalato de cálcio se deve a uma disfunção
metabólica crónica, uma vez tendo-se formado um cálculo, o doente
estará a vida toda em risco de formar um outro cálculo, embora isso
só aconteça em cerca de 50% dos casos ou menos. Neste âmbito, é
fundamental o doente submeter-se a medidas de prevenção e
tratamento médico.
As medidas gerais
para a prevenção da formação de cálculos renais englobam:
- Aumento da ingestão de líquidos: ingerir 2-3 litros de líquidos diariamente, para impedir que a urina fique concentrada; os líquidos recomendados são água e sumos de laranja, limão ou maçã. Chá preto, café e refrigerantes à base de cola devem ser evitados
- Alterações gerais na alimentação
a) ingerir leite e derivados em quantidades moderadas, mas diária
b) ingerir carnes, preferivelmente magras, em quantidades moderadas para reduzir a ingestão de proteinas
c) diminuir a ingestão de proteinas
d) preferir pão integral e de centeio ao pão branco
e) ingerir gorduras moderadamente e glicose de forma moderada
f) leguminosas, como feijão ou lentilhas, não devem ser ingeridas mais de uma vez por dia
Devido ao teor das
substâncias inibidoras, o doente deve ingerir regularmente arroz,
batatas ( excepto batata doce ), clara de ovo, margarina, óleos
vegetais, mel, maionese, bolachas de água e sal, abacaxi, uvas,
melancia, pêra e cerejas.
http://www.youtube.com/watch?v=hnDN7EuBD68
Os doentes, com
formação de cálculos de oxalato de cálcio, devem evitar alimentos
ricos em oxalato, nomeadamente batata doce, beterraba, espinafres,
chocolates, café, chá, refrigerantes à base de cola e frutos
secos, sobretudo nozes.
Outros tipos de
cálculos, como de ácido úrico, struvite, etc, são prevenidos com
o uso de outras medidas de índole alimentar, sendo que a ingestão
de líquidos em quantidade de 2 litros, ou mais, diariamente, é uma
medida universal à prevenção de qualquer tipo de cálculo renal.
A presença de
cristais de oxalato de cálcio, por regra, não apresenta significado
clínico. A maior parte das vezes em que se encontram cristais de
oxalato de cálcio, e mesmo outros cristais, é resultado de
inadequado manuseamento da amostra de urina. Uma das causas mais
comuns do aparecimento de cristais, sem significado clínico, é o
caso em que as urinas são deixadas demasiado tempo à temperatura
ambiente ou refrigeradas e depois levadas ao laboratório. Cristais
de oxalato de cálcio são frequentes em urinas ácidas, podendo
também ocorrer a pH neutro ou mesmo, mais raramente, alcalino.
Normalmente a
urina não tem proteinas, visto que as proteinas não são filtradas
pelo rim. Pequenas quantidades de proteinas na urina podem ser
causadas por dezenas de situações triviais como febre, exercício
físico prévio à recolha da urina, desidratação, stress emocional
ou causas mais graves como infecção urinária, lupus, doenças do
glomérulo renal e lesão renal pela diabetes
O oxalato de cálcio
é formado no intestino grosso, quando fontes de cálcio da dieta se
unem com o sal do ácido oxálico ( oxalato ). O oxalato é produzido
principalmente no fígado, mas também aparece em muitos alimentos.
Quando o oxalato se junta ao cálcio forma um complexo, mais ou menos
insolúvel, de oxalato de cálcio que, ao entrar no rim, pode formar
cristais na urina. No entanto, mesmo estes cristais, na maioria das
pessoas, não são problema, pois não formam cálculos ou, se os
formam, são de dimensões muito reduzidas e não provocam
sintomatologia por via de regra. Apenas, quando atingem grandes
dimensões, a sintomatologia da litíase renal se manifesta.
A ingestão de
cálcio é uma medida preventiva da formação de cálculos. Embora o
cálcio seja o maior componente da maioria dos cálculos renais, não
se deve evitar a sua ingestão. Muitos cálculos renais são de
cálcio com oxalato, mas se há bastante cálcio na dieta, o cálcio
liga-se no intestino ao oxalato, impedindo que vá para a urina e
forme cálculos.
Também a moderação
da ingestão de sódio previne a formação de cálculos renais, pois
dietas com pouco sódio diminuem a excreção de cálcio e oxalato.
As proteinas podem aumentar a excreção do oxalato e cálcio, e
proteinas em doses altas na alimentação podem também reduzir os
níveis de substâncias inibidoras de formação de cálculos renais.
A litíase renal,
nos doentes com DII, tende a ser mais frequente que na população em
geral ( 12 - 18 % dos doentes com DII desenvolvem litíase renal ).
Os sumos de melão e
melancia, por serem ricos em potássio, auxiliam a excreção do
cálcio e assim diminuem o risco de litíase. Os chás e cafés foram
associados à diminuição de risco de litíase renal devido à
diminuição da concentração urinária que provocam. O chá preto e
o mate devem ser ingeridos com moderação dado o seu alto teor de
oxalatos.
Mecanismos de
formação de cálculos renais
Três fases existem
na formação dos cálculos renais:
- Supersaturação e cristalização
A
supersaturação é um dos factores mais importantes para se ter a
cristalização; a supersatu-
ração
existe na formação da urina, mas não indica, por si só, a
formação de litíase.
Para a
formação dos cálculos, outros factores actuam como o tempo de
permanência, uso de
medicamentos
e o intervalo entre a colheita e o exame.
- Agregação, aglomeração e crescimento do cristal
Agregação
é o termo que descreve o processo de ligação entre os
cristais, formando aglo-
merados;
esta deposição é influenciada pela saturação e interacções
iónicas.
Os
componentes orgânicos também podem aderir ao núcleo e facilitar a
agregação dos cris-
tais.
- Nucleação
A
formação de uma urina, saturada ou supersaturada, propicia a
nucleação de cristais que
pode
ser homogénea ou heterogénea, sendo que a homogénea ocorre
quando o cristal for-
mado
serve de meio à deposição de outros cristais semelhantes, e a
heterogénea resulta de
deposição
de cristais sobre um meio formado de macromoléculas, impurezas ou
outro cris-
tal,
quimicamente diferente.
Acontecida a
nucleação, a deposição de outros cristais é facilitada, não
requerendo níveis de saturação tão elevados como no início do
processo. O núcleo pode crescer, agregar outros cristais ou matriz
orgânica, originando o cálculo ou ser eliminado pela urina.
Os cálculos de
oxalato de cálcio monohidratados podem ser subdivididos em papilares
e não papilares, sendo os papilares geralmente semi-esféricos, de
2-3 mm de diâmetro, enquanto que os não papilares são esféricos,
com vários lóbulos e diâmetro de mais de 1 cm. Os cálculos
papilares iniciam a sua formação nas papilas renais nos locais onde
a camada de glicosaminoglicanos é reduzida ou destruída. Nas
situações em que há pouca eliminação, dos inibidores da
cristalização, pela urina, há um risco maior de formação de
cálculo renal de oxalato de cálcio. Os detritos orgânicos nos
cálculos de oxalato de cálcio monohidratados papilares, actuam como
nucleantes dos cristais e podem crescer e formar um núcleo de
oxalato de cálcio.
Os cálculos renais
de oxalato de cálcio monohidratados não papilares geralmente
apresentam um dos nucleantes heterogéneos em sua formação e, sobre
este núcleo, o oxalato cresce em colunas onde formará o cálculo.
Outro tipo de
cálculo de oxalato de cálcio é o dihidratado, que se confina a
cavidades de baixa eficácia urodinâmica. Estes cristais têm
morfologia bipiramidal e um crescimento estrutural desordenado, razão
pela qual há sobreposição com fosfato de cálcio.
Os cristais de
oxalato de cálcio dihidratado, uma vez formados, podem induzir o
crescimento de outros cristais, em suas faces e arestas, favorecendo
a formação de agregados cristalinos, denominado agregação
primária. A matéria orgânica, como resíduos celulares, também
pode agir como nucleantes heterogéneos deste tipo de cristais.
http://www.youtube.com/watch?v=p0W350zbwfQ
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