quinta-feira, dezembro 27, 2012

Ferritina


Ferritina



Ferritina, uma proteína globular, é a principal proteína que contem as reservas de ferro do organismo humano. A concentração da ferritina varia na razão directa das reservas de ferro do organismo aumentando quando há aumento de ferro sérico e diminuindo quando a siderémia baixa. No entanto, a ferritina também pode aumentar noutras situações, nomeadamente em processos inflamatórios e infecciosos, sem relação nenhuma com os depósitos de ferro do organismo.
Uma só molécula de ferritina pode armazenar até 4500 átomos de ferro.
A ferritina pode encontrar-se elevada devido a uma multiplicidade de factores, como hábitos inadequados de alimentação, bebidas alcoólicas, sedentarismo, obesidade ou doenças de base associadas ou não à herança genética, como a hemocromatose. Importante tem sido a determinação da concentração da ferritina nos desportistas como forma de evitar os riscos de lesões. Hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia também podem fazer subir a ferritina no soro, bem como o tabagismo.
O aumento da concentração sérica de ferritina, por si só, não causa nenhuma consequência.
O local de eleição para armazenamento da ferritina no organismo humano é o fígado, mas também se encontra em muitas outras células, especialmente nas envolvidas na síntese de compostos férricos e no metabolismo e reserva de ferro. O melhor indicador da quantidade de ferro armazenado no organismo é o doseamento da ferritina. Nas anemias hipocrómicas e microcíticas por déficit de ferro, a ferritina baixa ainda antes  de  se  notarem  alterações  das  concentrações  da  siderémia e alterações morfológicas eritrocitárias ( volume globular médio e hemoglobina globular média ). No entanto, a ferritina, por ser uma proteína de fase aguda, aumenta nas respostas a infecções, traumatismos e inflamações agudas, dando-se esta elevação nas primeiras 24-48 horas, com o pico no 3º dia, e se mantém por algumas semanas elevada, o que dificulta a interpretação. A ferritina também sobe quando há excesso de ferro, em doentes a fazerem transfusão sanguínea e em doentes com neoplasias, especialmente com leucemias, linfomas e carcinomas da mama, do fígado, do pulmão, do colon ou da próstata. Lesões hepáticas de etiologia alcoólica também causam aumento da ferritina. Doentes com hepatite crónica apresentam, em 25% dos casos, ferritina aumentada. Também as anemias hemolíticas e sideroblásticas cursam com aumento de ferritina.

A maioria ( cerca de 80% ou mais ) da ferritina existente no organismo humano encontra-se intracelularmente, sendo apenas uma pequena parte de localização extracelular, nomeadamente no sangue. Quando os órgãos que contêm a ferritina ( fígado, baço, mucosa intestinal, medula óssea e outros ) sofrem lesão, os níveis de ferritina séricos sobem, sem haver aumento de ferro, pela libertação da ferritina intracelular das células lesadas.

A ferritina é formada por uma proteína solúvel externa, a apoferritina, e um interior composto de hidroxifosfato férrico. A quantificação da ferritina é um dado laboratorial importante no diagnóstico das anemias ferropénicas por estar em paralelismo com os depósitos de ferro, indicando, desta forma, o ferro disponível no organismo. A ferritina pode estar baixa nas grávidas. A determinação dos valores séricos da ferritina também é usada para o controlo dos depósitos de ferro na insuficiência renal crónica.

A ferritina tem a forma de uma esfera oca, dada pela apoferritina, que forma a cobertura que protege o ferro que se encontra no seu interior. A apoferritina ( que não tem ferro ) pesa 430000-480000 daltons. A ferritina, que mais não é que a apoferritina com ferro, pesa 900000 daltons. A ferritina tem uma semi-vida de 50-75 horas e está em grandes concentrações no fígado, baço, medula óssea e músculo esquelético, encontrando-se também em muitos outros tecidos, na verdade em quase todas as células do organismo incluindo leucócitos e células tumorais, servindo nestes como marcador tumoral. A importância da ferritina é ser o armazém de ferro no organismo. O ferro iónico, não unido, é tóxico, mas o ferro é um elemento essencial à vida. A possibilidade, dada pela ferritina, de o ferro ser armazenado, não só evita a toxicidade do ferro, como possibilita que seja usado sempre que o organismo o necessite. A ferritina, completamente saturada de ferro, permite que o ferro livre seja incorporado imediatamente.

A ferritina plasmática, secretada por todas as células corporais produtoras de ferritina, difere da ferritina tissular, já que é parcialmente glicosilada e isenta quase totalmente de ferro, de tal forma que a ferritina plasmática não aumenta o ferro sérico, a menos que haja necrose hepatocelular.
Cada micrograma de ferritina plasmática por litro equivale a 8-10 mg de ferro de depósito. O principal destino da ferritina plasmática é o hepatócito e não as células eritroides imaturas.

As disferritinemias observam-se frequentemente. A baixa da ferritinemia, ou hipoferritinemia, essencialmente manifesta uma carência marcial ( depleção do armazenamento do ferro ), enquanto que a hiperferritinemia, ou subida da concentração de ferritina no sangue, pode ter uma etiologia inflamatória citolítica ( cancros, síndrome  metabólico,  hepatopatias,  hemólise )  ou  devido a sobrecargas de ferro secundárias ou primárias ( transfusões sanguíneas, anomalias das hemoglobinas, hemocromatose )

A ferritina é uma macromolécula de 450 Kdaltons, formada por uma cobertura proteica, a apoferritina, de 24 subunidades, que rodeiam uma cavidade oca central onde se armazenam até 4500 átomos de ferro, embora costume conter cerca de 2500 átomos de ferro sob a forma de hidroxifosfato férrico. O ferro ferroso ( ião de ferro com 2 cargas positivas ) é incorporado e se acumula em forma de óxido de ferro férrico ( ião com 3 cargas positivas ) hidratado e fosfatado.
A ferritina apresenta-se em 2 tipos: subunidade L ( de light ou liver ), que predomina no fígado, e subunidade H ( de heavy ou heart ), que predomina no coração. Estes 2 peptídeos pequenos são codificados nos cromossomas 19 e 11, têm um peso de 21000 e 19000 daltons e migram electroforeticamente com a α2-globulina.
A subunidade H tem actividade ferroxidase necessária para a captação do ferro, e a subunidade L cataliza a formação do núcleo férrico no seio da molécula. A ferritina tem uma função de armazenamento do ferro, e dessa forma actua também como desentoxicante do ferro ( lembre-se que o ferro férrico é tóxico para as células ).
A ferritina, proteína essencialmente intracelular, encontra-se nos monócitos-macrófagos do sistema retículo-endotelial hepático, esplénico e da medula óssea, e está também presente no citosol de muitas outras células, como hepatócitos, eritrócitos, leucócitos, células cardíacas, pulmonares, renais, testiculares ou da placenta.
Uma pequena percentagem de ferritina, a ferritina plasmática, é em grande parte glicosilada e pobre em ferro, está no estado em que circula no soro e desconhece-se ainda o seu papel no organismo humano.
Uma pequena percentagem de ferritina tissular é captada pelos lisosomas e transformada em hemossiderina, que é uma mistura de ferro, lípidos e proteínas, formando a forma de reserva estável e dificilmente mobilizável, do ferro de localização predominante na medula óssea.
A ferritina é a reserva lábil de ferro, ou seja, directamente mobilizável do organismo. Existe uma correlação entre a concentração de ferritina e a do ferro do organismo: 1 g/l de ferritina corresponde a 10 mg/l de ferro de reserva, dependendo estas concentrações da idade e sexo.
A baixa da concentração da ferritina é um marcador fiável de carência de ferro, que pode causar anemia ferropriva. A depleção  primeiramente  se  manifesta  pela  baixa  da  concentração  da  ferritina  plasmática ( primeira alteração verificada na falta de ferro ), anteriormente mesmo a uma diminuição eritrocitária. Como reacção à baixa das reservas de ferro dá-se a subida da transferrina. O ferro sérico é o último constituinte a diminuir. Deste modo, a ferritina é a primeira a descer e a última a subir nas suas concentrações plasmáticas, nas situações de hipossideremia, pelo que é um óptimo parâmetro para vigiar a eficácia do tratamento e assegurar as reservas do ferro. Como excepção a esta regra temos que o tratamento com ferro injectável leva a um aumento rápido, grande mas passageiro da ferritina no soro.

A  hiperferritinemia   pode   ser  verificada  sem  sobrecarga  notável  de  ferro,  com  sobrecarga  de  ferro ( secundária ou primitiva ) ou por acção do receptor solúvel da transferrina nas disferritinemias.
No  caso  de aumento de ferritina sem sobrecarga de ferro, aquela pode ser provocada por uma inflamação ( hiperferritinemia raramente superior a 800 μg/l, anemia normocítica de instauração lenta, com ferro baixo devido ao sequestro pelos macrófagos, capacidade de saturação da transferrina normal ou baixa ). Nestas situações, o ferro não está em carência mas sim há uma má utilização dele.
Outras  situações,  que  originam  aumento de ferritina sérica sem sobrecarga de ferro, são citólises diversas ( com  valores  de  ferritina  muitas  vezes  superiores a 5000 μg/l ), alcoolismo  crónico  e  cirrose  ( com ferro e capacidade  de  saturação  de  transferrina  pouco aumentadas ), síndrome de hemossiderose dismetabólica ( com ferritina aumentada e capacidade de saturação de transferrina normal ), hipertiroidismo e tumores malignos
A hiperferritinemia com aumento de ferro pode ser secundária, como nos casos de hemólise, talassémia, síndrome de activação macrofágica, doença de Gaucher ou aceruloplasminemia hereditária, ou pode ser primitivo, como acontece na hemocromatose.

A ferritina aumenta de forma directamente proporcional à hemossedimentação e inversamente proporcional à albuminemia.



Parâmetros para diagnóstico da anemia ferropriva

- Doentes sem doença inflamatória
anemia ferropriva provável …..................................... Ferritina < 20 ng/ml
anemia ferropriva improvável ….................................. Ferritina > 100 ng/ml

- Doentes com doença inflamatória, infecção, neoplasia, colagenose ou hepatopatia
anemia ferropriva provável …..................................... Ferritina < 30 ng/ml
anemia ferropriva improvável ….................................. Ferritina > 130 ng/ml


                                                              **  ##  --  ##  **

- Relação Ferritina/TGP ( ou ALT )
serve para diferenciar um aumento da ferritina causada por citólise hepática, em que a relação
é igual ou inferior a 8, de outras causas, em que a relação é superior a 8.

- Estimativa da reserva total de ferro no organismo
Ferro total = Ferritina x 8
esta estimativa não é aplicável nas situações de doenças inflamatórias e de sobrecarga de ferro.

10 comentários:

  1. Prezado, bom dia, um nível de Ferritina em torno de 350, é considerado prejudicial?Obrigado!

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    1. Boa noite
      Um valor de ferritinemia da ordem que referiu é um valor alto que por si só não é perigoso para a saúde mas tem de se saber o que origina essa subida da concentração sérica de ferritina que pode ter múltiplas etiologias desde inflamatórias, tumorais, sobrecarga do ferro no organismo ou muitas outras.

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  2. Ferritina nos níveis da pergunta acima, em torno de 350, pode ser um indicativo de doença inflamatória intestinal? Especificamente, Crohn?

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  3. Boa noite
    Hiperferritinemia pode ser encontrada em muitas situações e em doenças inflamatórias intestinais também se verifica mas nunca especificamente doença de Crohn nem nenhuma outra doença. Hiperferritinemia apenas é mais um dado a favor de continuar o estudo no despiste do diagnóstico causador dessa situação que pode ser inflamatória ou não.

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  4. Prezado Horácio, no meu caso específico, num acompanhamento de 4 anos, esse foram os resultados dos meus exames de Ferritina:
    2013 - 376,4;
    2014 - 340,4;
    2015 - 340,6;
    2016 - 400,1. Eu teria motivos para me preocupar? Obrigado!

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    1. Boa noite

      Não me é possível dar uma informação correcta sobre esse assunto e a única pessoa capaz de o fazer é o seu médico assistente.
      Posso no entanto dizer que esses valores são elevados. No entanto há muitas causas para elevação da ferritina e inclusivamente o próprio método de doseamento da ferritina pode ser a causa dessa elevação como pode verificar num post deste blogue de Abril 03 de 2016, intitulado "Interferência in vitro no doseamento sérico da ferritina".

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  5. Boa tarde,

    Fiz análises para detectar a anemia e os valores do ferro r da ferritina foram:
    Ferro - 27 unid ug/dl 60-170
    Ferritina - 4,8 unid ug/dl 50,0/200,0

    Estes valores são graves?
    Obrigada

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    1. Boa noite

      Os valores que refere informam que tem um deficit de ferro. a gravidade pode ser variável consoante a etiologia que tem de ser pesquizada, mas sem preocupações antes de se saber o motivo que pode ser tão simples como uma alimentação pobre ou pode ter outras etiologias ainda que em princípio a concentração de ferritina baixa aponte para uma falta de ferro por motivos como o da baixa ingestão e não por uma etiologia infecciosa, inflamatória ou outra que, em princípio, elevariam a concentração de ferritina.
      Assim, neste caso, a gravidade da falta de ferro advém da sua etiologia mas, em princípio, parece ser de relativa facilidade a sua reposição. Deverá consultar o seu médico assistente para ser investigada a causa dessa hipossiderémia.

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  6. Boa tarde, meus exames dao anemia hipocromia e macrocitica,deu me também análise ao anticorpo Ana positivo de 1/320 e meus resultados de Vitamina b12-435ng/ml
    Ácido folico-4.1ng/ml
    Ferritina-5.6ng/ml
    Capacidade total fixação de ferro-471unidade/litro
    Transferina-329.4ng/mk
    Sederemia-66unidade/l poderá ser a doença de Crohn? Será que me pode ajudar a entender melhor estes resultados, visto ter ferro suficiente no organismo?
    Obrigada

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    1. Boa tarde
      As análises que refere não são para despiste de doença de Crohn, nem sequer para doença inflamatória intestinal ( doença de Crohn é uma das DII mas não a única ), pelo que não se pode dizer se sim ou não tem doença de Crohn baseado nestes parâmetros analíticos.
      O resultado que aí mais salta à atenção é o título de ANA positivo o que pode apontar para uma doença autoimune, mas apenas o seu médico pode ser mais esclarecedor pois tem conhecimento da sua clínica e de outros eventuais exames que tenha feito ou que irá pedir, mas doença de Crohn não é uma hipótese a pôr baseado nestas informações

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