sexta-feira, janeiro 29, 2016

Terá o café ( cafeína ) a capacidade de impedir recidivas cancerígenas ?

Terá o café ( cafeína ) a capacidade de impedir recidivas cancerígenas ?


 

É conhecida a relação entre hiperinsulinemia e as recidivas do cancro colorrectal. Recidivas de cancro colorrectal são mais frequentes em doentes sedentários, que não praticam exercício físico, doentes que tenham uma carga aumentada de glicemia e naqueles que ingerem muitos carbohidratos.


Neste sentido foi colocada a hipótese de que doentes com cancro colorrectal que não bebem café apresentam um risco maior de recidiva do cancro, comparativamente com os bebedores de café.


Estudos preliminares revelaram que doentes com cancro colorrectal que bebem mais de 4 cafés por dia, apresentam uma redução significativa tanto na taxa de mortalidade como de recidiva. Esta redução não se verifica em quem bebe café descafeinado ou chá.


sábado, janeiro 16, 2016

Proteína C reactiva - PCR

Proteína C Reactiva


Proteína C reactiva, ou PCR, é uma proteína  de síntese hepática e a sua concentração sérica sobe em resposta a situações inflamatórias, bem como infecção, enfarte de miocárdio, no pós-operatório e em situações de traumatismos. A PCR é uma proteína de fase aguda positiva. A PCR não é um marcador específico de um processo inflamatório de um órgão ou tecido e a elevação da concentração sérica daquela proteína pode indicar inflamação não apontando, no entanto, para o local onde a inflamação se estará a processar.




Expressada na superfície das células mortas ou moribundas, e algumas bactérias, está a fosfocolina à qual se liga a PCR que activa o sistema complemento C1q, sendo que também activa células com a capacidade de fagocitose, agindo desta forma a PCR como uma opsonina.



A PCR, um elemento da família das pentraxinas, é sintetizada no fígado e adipócitos brancos sendo libertada em resposta a factores libertadores.



A elevação sérica da concentração da PCR é devida à subida da concentração plasmática da IL-6 sintetizada nos macrófagos, células endoteliais e linfócitos T assim como adipócitos da gordura branca.
O doseamento da concentração sérica da PCR é realizado em casos de exacerbação de doença inflamatória, avaliação de efeitos da terapêutica anti-inflamatória bem como noutras situações.



O valor da concentração sérica da PCR pode ser normal em situações inflamatórias, como se verifica em casos de artrite reumatóide ou LED.





O doseamento da PCR de alta sensibilidade pode ser utilizado para pesquizar o risco de cardiopatia. A interpretação das concentrações séricas da PCR de alta sensibilidade, segundo a American Heart Association, deve ser feita do seguinte modo:
  • Baixo risco ….................... PCR-hs < 1.0 mg/l
  • Médio risco …................... 1.0 mg/l < PCR-hs < 3.0 mg/l
  • Alto risco …....................... PCR > 3.0 mg/l


Embora, como se disse acima, uma concentração normal sérica de PCR não exclua estarmos face a um processo inflamatório, valores altos de PCR sérica sempre indica estarmos em presença de um doente com inflamação que pode ser secundária a diversas patologias como:
  • doença auto-imune
  • cancro
  • cardiopatia
  • lupus
  • DII
  • tuberculose
  • artrite reumatóide
  • febre reumática
  • pneumonia
  • segunda metade da gravidez
  • uso de anticoncepcionais orais
  • outros



O doseamento da hs-PCR utiliza técnicas especiais que permitem a quantificação de concentrações muito baixas, tendo como principal utilidade o estabelecimento do risco de patologia cardiovascular.
A proteína cuja concentração é determinada pelo doseamento da PCR ou da hs-PCR é precisamente a mesma, diferindo unicamente nas concentrações que as técnicas analíticas empregues são capazes de dosear e com diferentes objectivos, sendo que a técnica clássica é usada para casos inflamatórios enquanto que a técnica de alta sensibilidade, que tem a capacidade de dosear concentrações muito baixas, é usada para avaliar do risco cardiovascular da pessoa.




Uma inflamação crónica e persistente, de baixo grau, tem um papel no originar da aterosclerose, que se associa a doença cardiovascular e enfarte do miocárdio de forma frequente. A hs-PCR tem a capacidade de identificar o risco cardiovascular em indivíduos aparentemente saudáveis.



No tempo actual, a ideia que maior consenso apresenta, é que a hs-PCR tem uma fundamental importância na avaliação do risco cardiovascular antes das patologias cardiovasculares se desenvolverem, sejam elas enfarte do miocárdio, AVC, morte súbita cardíaca ou doença vascular periférica.








O fornecimento dos valores de referência por parte do laboratório é crítico visto que estes valores de referência de hs-PCR dependem de muitos factores como idade, sexo, raça ou técnica utilizada e assim os resultados da concentração sérica da hs-PCR podem ter interpretação diferente.




Estatinas e anti-inflamatórios não esteróides ( AINEs ) têm a capacidade de baixar a concentração sérica da PCR por combaterem a inflamação subjacente.
O risco cardiovascular que é avaliado pela concentração pelas técnicas de alta sensibilidade para PCR tem de ser determinado numa situação de ausência de inflamação secundária a uma outra patologia.
A hs-PCR é uma técnica dirigida à avaliação do risco cardíaco mas, apesar de ser esta a principal função da técnica de alta sensibilidade da PCR, o valor da concentração da PCR também se apresenta elevada em situações como cancro do cólon, complicações da diabetes ou obesidade.



Tem-se por certo que a PCR joga um importante papel na imunidade inata como sistema de defesa inicial contra infecções. Após o estímulo inicial, a PCR inicia a subida de concentração, atingindo o pico às 48 horas. A PCR tem uma semi-vida de 18 horas e, por esta razão, a forma principal de determinar os níveis de concentração sérica da PCR é feita pela determinação da taxa de produção e assim a gravidade do factor desencadeante.



Dado que a síntese da PCR é efectuada no fígado, a concentração sérica da PCR cai em casos de insuficiência hepática, sendo que esta queda da concentração sérica da PCR não se verifica noutras patologias intercorrentes.
Com a idade, a concentração da PCR sérica sobe de forma ligeira.




Fenómenos inflamatórios existentes nas placas de ateroma relacionam-se com o rompimento dessas placas no enfarte de miocárdio e AVC, e dessa forma a elevação da concentração sérica da PCR pode prever doentes em que o risco cardiovascular é maior.




O gene da PCR encontra-se no cromossoma 1 ( 1q21-1q23 ). A PCR é constituída por 224 amino-ácidos, tendo uma massa de 25106 Da, apresentando uma forma de disco pentamérico anelar. Na verdade, a PCR é constituída por 10 subunidades ( e não as 5 subunidades características das pentraxinas ) que formam 2 discos pentaméricos com uma massa total de 251060 Da. A PCR sobe a sua concentração sérica nas infecções víricas apesar de essa subida ser menor comparativamente com a subida verificada nas infecções bacterianas.

A PCR pode ser sujeita a glicosilação sendo esta variável com a patologia em causa, sendo o açúcar ligado à PCR diferente com diferente patologia.
Em presença de altos níveis de PCR séricos verifica-se alto risco de doença cardiovascular, hipertensão e diabetes.
A PCR pode ter utilidade na detecção de cancro dado que na presença de inflamação crónica alguns órgãos apresentam um risco maior de malignização.



Concentração sérica elevada de hs-PCR indica risco de patologia cardiovascular tripla da média e nas mulheres foi verificado que concentração elevada de hs-PCR sérica indica risco de patologia coronária em maior grau do que hipercolesterolemia.



A cinética da concentração sérica da PCR é mais rápida do que a da VS: concentração sérica da PCR sobe antes de se verificar aumento da VS e a descida da PCR também é anterior à verificada na VS.




Pode haver uma subida da PCR, sem significado clínico, em pessoas muito obesas, idosos ou quem pratica muito exercício físico. O intervalo de referência da PCR está compreendido entre 2,5 mg/l e 5,0 mg/l. Alcoolismo, sedentarismo, insuficiência renal, hipertensão ou tabagismo são outras situações que cursam com concentrações altas de PCR. Também pode subir a concentração da PCR no soro em situações de fadiga crónica, distúrbios de sono, depressão, gengivite e doença peri-odontal bem como pequenas inflamações locais que cursam com PCR da ordem dos 1.0 - 10.0 mg/l.
A concentração sérica da PCR facilmente ultrapassa os 200 mg/l em situações de sépsis.




À medida que o tratamento vai tendo efeito a concentração sérica da PCR vai diminuindo e por essa razão quando passadas 48-72 horas de antibioterapia a concentração da PCR se mantém, não diminuindo, temos de pensar que o antibiótico não está a ter efeito e deverá ser substituído.



No diagnóstico e follow-up de uma inflamação utiliza-se o hemograma com contagem de leucócitos e o doseamento da PCR, sendo que esta tem uma fiabilidade superior visto os valores apresentarem uma subida e descida mais rápida em consonância com o estado da infecção. No entanto, a regra geral, é a utilização das 2 análises em simultâneo.



A concentração da PCR, nas doenças inflamatórias crónicas, é elevada mas, ao contrário das inflamações agudas, como infecções bacterianas em que se verificam valores 20-30 vezes os valores normais, nas infecções crónicas a subida é moderada e ligeira sendo que a concentração da PCR no soro pode ser considerado um parâmetro de actividade da doença.
Importante referir que a actividade do LES não costuma ter boa relação com a concentração da PCR.



A alteração da PCR não é sempre verificada nas situações de neoplasias e nos casos em que se verifica essa elevação é baixa e de difícil distinção da causada por outras situações patológicas. Uma subida inexplicável de PCR pode apontar para recidiva de cancro previamente tratado. Concentrações persistentemente elevadas verificam-se em casos de mieloma múltiplo e linfomas mais agressivos, sugerindo um prognóstico pior e uma menor sobrevivência.




Concentrações de PCR sérica da ordem dos 10-40 mg/l verificam-se em casos de infecções virais enquanto que nas situações de infecções bacterianas as concentrações séricas da PCR são bem mais elevadas sendo da ordem dos 50-200 mg/l, podendo, desta forma, a concentração da PCR ser usada como indicador de necessidade de antibioterapia com uma sensibilidade de 55%.






A VS é um exame que mede de forma indirecta a produção de fibrinogénio


O enfarte do miocárdio acontece, não porque necessariamente se faz a oclusão total da artéria afectada mas sim quando substâncias que resultam das reacções inflamatórias que se processam no interior da placa de ateroma digerem a cápsula protectora provocando a formação de coágulos que se desprendem e são levados pela corrente sanguínea.




O álcool tem efeitos dispares sobre a PCR: verifica-se que pessoas que não ingerem qualquer quantidade de álcool apresentam concentrações de PCR mais elevadas, sendo que estes níveis baixam nos indivíduos que ingerem quantidades moderadas diariamente ( 2-3 copos de vinho ), voltando a subir a concentração de PCR, de forma apreciável, nas pessoas que exageram no consumo de álcool diarimente.






Proteínas de fase aguda são as proteínas de síntese hepática que aumentam ou diminuem a sua concentração pelo menos 25% nos primeiros 7 dias após a lesão tecidual se verificar. As proteínas que apresentam uma subida das suas concentrações séricas são proteínas de fase aguda positivas incluindo a PCR, substância amilóide A sérica, haptoglobina e fibrinogéneo. Proteínas de fase aguda negativas são as proteínas que apresentam uma descida da sua concentração sérica e incluem a albumina, transferrina e TTR ( pré-albumina ).






Várias citoquinas influenciam a produção das proteínas de fase aguda como sendo IL-6, IL-1, IL-11, α-TNF, β-TGF, γ-interferão, factor inibidor da leucemia ( LIF ) ou factor de crescimento epidermal.
O doseamento das proteínas de fase aguda, também chamado de “provas de actividade inflamatória “ tem sido usado com o seguinte objectivo:
  • distinguir entre inflamação e patologia não inflamatória
  • fazer o diagnóstico diferencial entre
  • infecção viral vs infecção bacteriana
  • infecção vs actividade de doença auto-imune
  • infecção vs rejeição de transplante
  • determinar a extensão e actividade da inflamação e fazer o follow-up e resposta terapêutica

Com a introdução de técnicas de alta sensibilidade, também se usam estas proteínas na determinação do risco cardiovascular e no diagnóstico precoce de disfunção renal.




A inflamação está relacionada também com a etapa inicial, importante na patogenia da angina instável e do enfarte do miocárdio. O tampão fibroso protector do rompimento da placa de ateroma é degradado pelas metaloproteinases produzidas pelos macrófagos, monócitos e linfócitos T. O tampão fibroso diminuindo torna a placa mais vulnerável sendo levada à ruptura.




A PCR, que é um marcador inflamatório, também participa activamente no processo aterogénico. A PCR, que se localiza no interior da placa aterosclerótica, joga um papel importante na vulnerabilidade dessa placa e tem também importante acção na reestenose pós-angioplastia. Um gradiente de PCR se verifica na circulação coronária distal e proximal à placa.



A hs-PCR tem uma boa capacidade de prever a diabetes mellitus tipo II, situação patológica que compartilha alguns mecanismos inflamatórios com a aterosclerose.
Evidências apontam para que a hs-PCR tenha a capacidade de ser um marcador no rastreio das crianças em risco de, quando adultas, sofrerem doença coronária.




A hs-PCR tem a capacidade de prever eficazmente a mortalidade pós-enfarte, mesmo nos casos dos doentes terem sido tratados precocemente com revascularização coronária. A hs-PCR tem valor prognóstico, a curto e longo prazo, em situações de angina instável e pós-enfarte sendo controversa a interpretação da informação sobre o prognóstico na fase aguda do enfarte, propondo-se que a determinação da hs-PCR no soro deve ser realizada após o final da reacção inflamatória aguda do enfarte de modo a que os níveis doseados tenham regressado aos valores basais e os representem.