Proteína
Rho
Proteína
Rho é uma proteína hexamérica, encontrada em eucariotas e
procariotas, necessária para a terminação da transcripção de
determinados genes. É uma proteína pertencente à família das
helicasas.
Constitui
um método de terminação da transcripção alternativo ao habitual
( as sequências de terminação palindrómicas nas quais o
transcripto primário se torna anticomplementar e dissocia do RNA
polimerase ). Em locais sem sinais de terminação, a transcripção
detém-se mediante as proteínas Rho, que se unem a zonas de RNA
desnudadas, denominadas sítios nut, hidrolizando o ATP com geração
de energia utilizada para fechar a transcripção e expulsar o RNA
A
proteína Rho está envolvida no controlo do ciclo celular, expressão
de genes e organização da actina.
http://www.youtube.com/watch?v=WBcS3fKfbxs
Nos
procariotas, o final da transcripção é um processo bem controlado,
no qual sequências típicas de transcriptos de RNA ( sinais de
término ) indicam o local para a finalização da síntese dessa
molécula.
Término
Rho
O
término Rho dependente não possui adenilatos na fita de DNA molde,
mas sim uma sequência curta que é transcripta, formando um grampo. A
RNA polimerase, ao passar por esta zona faz uma pausa e, se a
proteína Rho estiver presente, dissocia-se. A proteina Rho possui
actividade RNA-DNA helicase dependente do ATP, rompendo o híbrido.
Os
sinais activos para o fim da transcripção encontram-se no RNA
recém-sintetizado e não no molde de DNA.
A
proteína Rho é hexamérica e cada subunidade tem um domínio de
ligação ao RNA e um domínio de hidrólise do ATP. O local de
ligação para a proteína Rho é uma extensa ( cerca de 70
nucleotídeos, por vezes sendo 80-100 nucleotídeos ) região de
cadeia única, rica em citosina e pobre em guanina, chamada de local
de utilização da Rho ou rut ( Rho utilization site ) no RNA
que está a ser sintetizado. O Rho liga-se ao RNA e usa a sua
actividade ATPase para prover a energia para translocar ao longo de
RNA até atingir a região helicoidal RNA-DNA, onde desfaz a hélice
da estrutura dupla híbrida.
A
RNA polimerase pára na sequência terminal, pausa esta devida a haver
um local específico, afastada de 100 nucleotídeos do local de
ligação da proteína Rho, chamado essa região de local de pausa
Rho-sensível.
Assim
o factor Rho, ou proteína Rho, actua como uma enzima desenroladora
ATP-dependente, que se move ao longo do RNA em sintetização, em
direcção ao extremo 3', e desenrolando-o a partir do DNA molde à
medida que isso procede.
Nos
eucariotas, a família das proteínas Rho GTPase é uma família de
pequenas proteínas G ( 21 kDa ) de sinalização, constituindo uma
subfamília da superfamília ras.
Os
membros da família Rho GTPase regulam muitos aspectos da dinâmica
intracelular da actina e encontram-se em todos os organismos
eucariotas. As proteínas Rho representam um papel no desenvolvimento
dos organelos, dinâmica do citoesqueleto, movimento celular e outras
funções celulares. A família das proteínas Rho GTPase é formada,
nos mamíferos, por 20 membros diferentes, distribuídos por 8
subfamílias ( Rho, Rnd, Rho D/F, Rho H, Rac, Cdc42, Rho U/V e Rho
BTB ).
Cada
proteína Rho afecta numerosas cascatas proteicas, cada uma das quais
tendo papéis importantes em vários processos celulares.
Mais
de 60 alvos foram descritos para as 3 mais comuns proteínas Rho
GTPase.
As
proteínas Rho ajudam as células animais a regular a sua forma. Uma
óbvia alteração da morfologia celular controlada pelas proteínas
Rho é a formação de lamellipodia e filipodia, um processo que leva
à manutenção de certas células. Nas zonas sem sinalização de
terminação, a transcripção pode deter-se em presença das
proteínas Rho. Estas proteínas unem-se a zonas de RNA desnudo,
chamadas rut e hidrolizam o ATP gerando energia que inicia o
encerramento da bolha de transcripção e expulsa o RNA
A
enterotoxina A do C.difficile exibe actividade citotóxica que
induz uma desestruturação do citoesqueleto de actina, acompanhado
por alterações morfológicas. A despolimerização, induzida pela
toxina A, dos filamentos de actina correlaciona-se com o decréscimo
da ADP-ribosilação das proteínas Rho GTPase de baixa massa
molecular. A modificação da massa da proteína Rho induzida pela
toxina A foi de 162 Da, o que indica haver uma incorporação de uma
hexose na proteína Rho. Três membros da família Rho ( RhoA, Rac 1
e Cdc42Hs ) são substracto para a toxina A, enquanto que H-ras,
Rab-5 e Arf1 não eram glicosilados.
Glicosilação
das proteínas do subtipo Rho parece ser o mecanismo molecular pelo
qual a toxina A do C.difficile medeia o seu efeito citotóxico
nas células.
As
células têm várias formas de responderem a uma lesão do seu
material genético, podendo ir desde a reparação do dano até
apoptose ou a célula entrar em senescência. Quando estes mecanismos
falham, pode ocorrer cancro. A proteína Rho GTPase está
directamente envolvida na regulação da senescência e do ciclo
celular de células tumorais transformadas por ras induzidas
por agentes stressantes. As proteínas RhoA, Cdc42Hs e Rac1 ( todas substracto para a toxina A do Clostridium difficille ) pertencem
à família das proteínas sinalizadoras Rho GTPase que actuam como
interruptores moleculares, estando activa quando ligado a GTP e
inactiva quando ligada a GDP.
As
toxinas A e B são os principais factores virulentos do C.difficile,
sendo os agentes causais da colite pseudomembranosa associada a
antibioticoterapia. Os resultados citotóxicos das toxinas, advêm da
capacidade de induzirem a desagregação dos microfilamentos do
citoesqueleto.
A
toxina B actua na proteína RhoA GTPase, de baixa massa molecular. A
toxina B cataliza a incorporação de até 1 mole de glicose por mole
de proteína RhoA no aminoácido treonina, na posição 37. O
UDP-glucose serve selectivamente de co-substracto para a reacção de
monoglicosilação catalizada pela toxina B. A proteína RhoA
glicosilada causa desagregação dos filamentos de actina, indicando
uma actividade dominante negativa da RhoA glicosilada. A glicosilação
da proteína Rho também leva à inibição da fosfolipase D.
Existem
estudos demonstrando ausência de efeito enterotóxico in vivo
por parte da toxina B. No entanto, a toxina B provoca, de forma
dose-dependente, alterações electrofisiológicas e morfológicas na
mucosa colónica humana, in vitro. A toxina B também estimula
a síntese, de mediadores inflamatórios potentes, por monócitos e
macrófagos.
Já
os efeitos provocados pela toxina A são evidentes, caracterizando-se
por intensa secreção de fluídos e grande acúmulo de células
inflamatórias ( macrófagos, mastócitos, linfócitos e neutrófilos
) com libertação dos seus mediadores, nomeadamente prostaglandinas,
leucotrienos, factor de agregação plaquetária, óxido nítrico e
citocinas.
Foram
identificadas cepas de C.difficile presentes em humanos, bem
como em animais, não produtoras de toxinas e incapazes de causar
diarreia. Até há alguns anos atrás, C.difficile era difícil de
distinguir de outras bactérias, como C.sporogens. Com a
introdução de um meio de cultura contendo ciclosserina e cefoxitina
e frutose em agar esta distinção foi facilitada. Actualmente
existem meios automáticos capazes de identificar a C.difficile.
Contraimunoelectroforese
e aglutinação em latex são meios capazes de identificar as toxinas
do C.difficile.
A
resposta do hospedeiro ao C.difficile varia de portador
assintomático até à colite pseudomembranosa, pensando-se que esta
gama de respostas do hospedeiro ao organismo patogénico seja
relacionada com modificações nos receptores das toxinas ou das
defesas imunológicas.
Colite
pseudomembranosa tem sido correlacionada, em 98-100 % dos casos, com
C.difficile toxicogénica, enquanto que diarreia associada a
antibioticoterapia se relaciona em 50-80% dos casos.
As
toxinas de C.difficile,
particularmente a toxina B, alteram a arquitectura celular e
marginalização nuclear, mudanças estas geralmente irreversíveis e
que inibem a divisão celular tendo, desta forma, actividade
antiproliferativa. Para além destas alterações morfológicas, a
toxina B causa perda de potássio e cálcio intracelulares e
diminuição da síntese do RNA e DNA, com consequente diminuição
da síntese proteica.
A
toxina B não apresenta efeitos enterotóxicos, ou seja, não provoca
secreção de fluídos, lesão morfológica nem infiltrado
inflamatório na mucosa intestinal in vivo.
A toxina A é cerca de 1000 vezes mais potente que a toxina B nos
seus efeitos citotóxicos.
Ambas
as toxinas são capazes de estimular macrófagos, in vitro,
a libertar potentes mediadores inflamatórios como os leucotrienos e
citoquinas.
Ambas
as toxinas do C.difficile, toxina A e toxina B, são potentes
estimuladores da libertação de α-TNF,
IL-1 e IL-6 por monócitos humanos.
A
toxina A é capaz de produzir intensa secreção de fluídos, aumento
da permeabilidade intestinal e potente reacção inflamatória aguda
na mucosa intestinal, caracterizada por necrose epitelial, edema
hemorrágico, ulceração e activação de macrófagos e mastócitos
com subsequente mobilização de neutrófilos para o foco
inflamatório.
Os mecanismos
envolvidos na resposta inflamatória da toxina A são complexos e
envolvem a libertação de potentes mediadores inflamatórios, como a
PgE2, leucotrienos B4 e C4, factor activador de plaquetas, IL-1,
IL-8, histamina e óxido nítrico por células residentes da lâmina
própria intestinal.
Também os
mastócitos têm sido implicados nas acções biológicas da toxina
A.
A
capacidade que a C.difficile
tem, de aderir à superfície das células, é primordial para dar
início à primeira etapa de colonização do intestino, sendo que os
níveis de adesão são mais altos em cepas mais virulentas.
Verificou-se
que o C.difficile pode
aderir em vários tipos celulares, essa adesão é dependente de
factores ambientais e mediada por vários componentes proteicos.
O
locus de patogenecidade do C.difficile
é formado por 5 genes: tcdA, tcdB, tcdC, tcdD e tcdE.
As toxinas A e B são
toxinas clostridiais de alto peso molecular, de cadeia única, com 3
domínios funcionais: domínio catalítico C-terminal, domínio de
ligação N-terminal e domínio de translocação putativa. O nível
de esporulação é inversamente proporcional ao nível de produção
de toxinas.
As toxinas A e B
causam o rompimento do citoesqueleto de actina e das tight juntions,
resultando na diminuição da resistência transepitelial, acúmulo
de fluídos e destruição do epitélio intestinal.
As
toxinas A e B perturbam o citoesqueleto de actina das células
epiteliais intestinais por meio de UDP-glucose dependente, sendo
capazes de monoglicosilar a proteína Rho e ras
que pertencem à família GTPase de baixo peso molecular. O efeito
desta glicosilação relaciona-se com a transdução do sinal.
Além da produção
das toxinas A e B, C.difficile pode produzir uma terceira toxina,
toxina binária ( ADP-ribosiltransferase específica para actina )
codificada pelos genes tcdA e tcdB.
O locus tcdC do
PaLoc ( locus de patogenecidade ) é o regulador negativo, e uma
mutação nesse locus origina uma superexpressão de tcdA e tcdB,
produção de toxina binária, maior esporulação em menor tempo,
maior capacidade de adesão e resistência a novos antimicrobianos,
principalmente quinolonas.
As proteínas Rho
GTPase actuam na regulação de vários processos celulares
essenciais, incluindo a transcripção génica, adesão celular,
migração celular e progressão do ciclo celular.
É importante
destacar o papel marcante das Rho GTPases nos processos celulares
envolvidos com a organização do citoesqueleto, como sejam a
regulação da polaridade celular, transcripção génica, progressão
da fase G1 do ciclo celular, dinâmica dos microtúbulos, vias de
transporte de vesículas e uma variedade de actividades enzimáticas.
As proteínas Rho GTPase também podem alterar a expressão de genes
codificantes de proteínas envolvidas na proteólise da matriz
extracelular.
Dos
membros da família Rho GTPase, a activação da proteína Cdc42Hs estimula a polimerização da actina para filopodia ( extensões
finas e longas ) enquanto Rac induz a activação de polimerização
da actina para formar lamelipodios ( projecções ). A subfamília
Rho também regula a agregação dos filamentos de actina em fibras
de stress e a formação de complexos de adesão focal.
As Rho GTPases agem
como interruptores ( switches ) moleculares que alternam entre estado
inactivo, ligado a GDP, e activo, ligado a GTP.
No estado inactivo,
as Rho GTPases interactuam com as cascatas de activação
específicas, para desempenharem suas funções celulares. Este
processo é regulado pelos factores de troca de guanina ( GEF's - guanine exchange factor ) e
proteínas activadoras de GTPases ( GAP's ). GEF's catalizam a
conversão do estado ligado a GDP para um estado ligado a GTP e as
GAP's aceleram a taxa intrínseca de hidrólise de GTP para GDP.
Também participam
deste processo os inibidores de dissociação de GAP ( GAI's ) que
regulam a activação das Rho GTPases por meio do processo de captura
do ligante Rho em ambos os estados ligado a GTP ou a GDP, e permitem
o transporte dessas substâncias entre o citosol e a membrana.
** ## **
Os probióticos
podem oferecer uma terapêutica adjuvante promissora à terapêutica
com vancomicina e metronadizol nas infecções por C.difficile
uma vez que várias estirpes produzem proteases que degradam as
toxinas da C.difficile ou aumentam a resposta imune às
toxinas A e B.
Verificou-se que
tratamento combinado com probióticos, aos antibióticos, normalmente
usados para combate à C.difficile resulta numa resposta
superior e redução significativa do risco de infecção por
C.difficile.
Os probióticos
usados são as bactérias produtoras de ácido láctico, nomeadamente
L.caseii, L.bulgaricus e Streptococcus thermophilus,
e apresentam-se muito eficazes.
** ## **
As proteínas p21,
p27 e p57 são inbidores do ciclo celular, que bloqueiam a
proliferação das stem cells em vários tipos de tecidos. Rho GTPase
regula negativamente os níveis dos inibidores do ciclo celular
p21cip1 e p27KIP1.
P21,
p27 e p57 bloqueiam a proliferação das stem cells
Rho
GTPase regula negativamente os inibidores p21 e p27
donde
Rho GTPase
bloqueando p21 e p27 aumentam a proliferação das stem cells
O controlo do ciclo
celular é feito na passagem da fase G1 para S
** ## **
As Rho GTPases,
através de inúmeras outras proteínas alvo, participam de vias de
sinalização com notável relevância na biologia do citoesqueleto e
microtúbulos. Essas proteínas desempenham papel de destaque no
cancro, pois contribuem para o ciclo celular, morfogénese e
migração.
A proteína Rho é
necessária para impedir a expressão da p21.
As Rho GTPases têm
sido relatadas por contribuirem com a iniciação e progressão do
cancro, incluindo um potencial ilimitado de proliferação,
sobrevivência, apoptose, invasão dos tecidos e estabelecimento de
metástases.
A proteína Rho é
necessária, no final do ciclo celular, para a formação da actina e
miosina, que separam as células filhas.
O membro da família
Rho, Cdc42Hs, pode contribuir para a formação e progressão do tumor
activando a proteína Rac.
O aumento de
expressão de Rho A é relacionado com um aumento em sua actividade,
contribuindo para um mau prognóstico e recorrências em alguns
carcinomas, como o epidermóide do esófago. Estes dados sugerem que
Rho A tem papel importante na progressão da malignização de vários
tumores.
Rho B parece ter
funções de supressor do tumor e encontra-se diminuída a sua
expressão em carcinomas pouco diferenciados e altamente invasivo.
Radiações UV,
citoquinas ou factores de crescimento induzem a expressão da Rho B,
ao contrário do que sucede com Rho A e Rho C.
As proteínas Rho A
GTPase estão envolvidas na organização da rede de microfilamentos,
interacção célula-célula e transformação maligna.
A toxina A do
C.difficile inactiva as Rho GTPase através da glicosilação de um
resíduo treonina específico e impede interacções destas GTPases
com moléculas efectoras. A toxina A da C.difficile promove
alterações na forma das células e grande desorganização do
citoesqueleto de actina.
As Rho GTPases
contribuem para a iniciação e progressão do cancro incluindo a
aquisição de potencial ilimitado de proliferação, sobrevivência
e evasão de apoptose, invasão de tecidos e o estabelecimento de
metástases.