Procalcitonina
vs Neopterina
Febre em pediatria pode ter múltiplas etiologias.
Diferenciação entre infecção de origem bacteriana e de outras
etiologias é importante dado que o uso da antibioterapia deve ser
feito tão cedo quanto possível mas acarreta graves problemas como o surgimento de resistências, toxicidade à droga e aumento de custos.
Marcadores tradicionais, como contagem de leucócitos ou
temperatura corporal, são inespecíficos e o exame cultural pode dar
resultados tardiamente.
PCR e procalcitonina ( PCT ) têm sido usados no
despiste de infecções bacterianas e sépsis. Neopterina também tem
sido proposta para o diagnóstico de infecções bacterianas. A PCT é
um marcador de fase aguda usado para detectar infecções,
principalmente bacterianas, não se alterando as suas concentrações
em infecções não bacterianas.
Actualmente, tem-se considerado que o teste rápido de
PCT é superior à neopterina e contagem leucocitária no despiste de
infecções bacterianas, especialmente em situações de emergência,
quando é crucial tomar uma decisão terapêutica.
O diagnóstico de infecção bacteriana pode ser difícil
só pela clínica e contagem de leucócitos, e os exames
bacteriológicos podem positivar tardiamente, interpretação da
colonização local pode ser ambígua e marcadores tradicionais podem
ser inespecíficos. Parâmetros como PCR e PCT têm sido
considerados nos doentes com sintomatologia infecciosa sistémica.
A procalcitonina é um peptídeo de 116 aminoácidos com
uma sequência idêntica à pro-hormona calcitonina, sintetizada nas
células C da tiróide, cuja concentração sérica no indivíduo
saudável é de 0.01 ng/ml, mas que sobe para valores da ordem dos
20-200 ng/ml em situações de infecção bacteriana ou sépsis,
sendo o valor correlacionado directamente com a gravidade da
infecção.
A procalcitonina é sintetizada fora da tiróide em
doentes com infecções bacterianas, como se constacta nos casos em
que doentes previamente tiroidectomizados mostram valores altos, e em
subida, aquando de infecções bacterianas se fazem. A síntese da
PCT em situações de infecções bacterianas parece ser no fígado e
monócitos, como resposta às citocinas IL-6 e α-TNF.
Outros locais de síntese de PCT são os pulmões e pâncreas, sendo
que a origem parece depender das substâncias estimuladoras da
produção da procalcitonina.
A PCT aumenta no
soro ao fim de 6 horas após o estímulo, atinge o plateau às 12-48
horas e diminui depois se o estímulo parar. A PCR inicia a subida
mais tardiamente que a PCT.
Neopterina também é
usada com o propósito, entre outros, de ajudar no diagnóstico da
infecção bacteriana. Produzido pelos monócitos, macrófagos e
células dendríticas activadas pelo γ-interferão
e menos frequentemente também pelo α-interferão.
É um marcador de activação do sistema imune celular. O aumento da
concentração de neopterina relaciona-se com a lesão endotelial e
risco para as complicações sépticas. Neopterina aumenta também, e
fortemente, nas doenças virais.
Procalcitonina é
considerado um útil marcador precoce para discriminar entre infecção
bacteriana sistémica e sépsis. Verificou-se que a cinética e
perfil da procalcitonina, comparativamente com a PCR, eram
diferentes, sendo que a cinética da PCR era mais lenta do que a
cinética da PCT, as concentrações de PCR podem não subir ( ou
parar de subir ) em situações mais graves e de sépsis. Pelo
contrário, PCT sobe paralelamente à gravidade da situação de
sépsis, atingindo os níveis mais altos no choque séptico, tendendo
a ser mais elevada a concentração de PCT nos doentes que não
sobrevivem comparativamente com os que sobrevivem.
As concentrações
de neopterina nas infecções bacterianas não se correlacionam com a
severidade da infecção, apesar de sempre estarem mais elevadas do
que o valor em pessoas sem patologia.
Procalcitonina é um
teste rápido capaz de predizer infecções bacterianas e seu
prognóstico.
Em pacientes criticamente doentes, infecção severa e inflamação sistémica
devida a causas não infecciosas, apresentam-se clinicamente de forma
muito semelhante e os marcadores tradicionais de infecção (
temperatura corporal, contagem de leucócitos ) são incapazes de as
diferenciar. Nestas situações, o recurso à PCT ou neopterina
mostra-se de muita utilidade, sendo capaz de diferenciar a etiologia
da patologia, seja ela de infecção bacteriana, inflamatória
sistémica, doença não infecciosa ou infecção viral.
Estudos demonstraram
idêntica eficácia entre PCT e neopterina no estabelecimento da
etiologia infecciosa e inflamatória em enfermos criticamente doentes.
Neopterina mostrou-se superior em especificidade ( aumento dos
verdadeiros positivos ) do que a PCT sugerindo que a neopterina se
relaciona com a actividade da resposta inflamatória.
A procalcitonina, em
doentes que sofreram lesão cerebral traumática, apresenta-se normal
às 3 horas após o trauma mas às 24 horas observa-se um grande
aumento da concentração sérica de PCT ( compara com a subida às 6
horas no caso das infecções bacterianas ). Também outros
traumatismos, como abdominais ou das extremidades, se acompanham de
subida da concentração da PCT, sendo que existem associações
positivas entre a severidade da lesão e a concentração de PCT
pos-traumática, associação esta não verificada com os
traumatismos craneanos.
A neopterina
apresenta apenas alterações marginais da sua concentração nos
casos de traumatismo craneano, sendo apenas significativo às 108
horas ( compara com a subida da PCT verificada às 24 horas ).
Estudos indicam que
a PCT não é capaz de fazer, com acuidade, a distinção entre
infecções virais e bacterianas em doentes febris, não graves.
PCR, em doentes com
síndrome de resposta infecciosa sistémica ( SIRS ) revelou-se mais
específico e sensível como marcador de sépsis do que a PCT. Outros
estudos realizados simultaneamente noutros centros revelaram
conclusão contrária, demonstrando que PCT é superior
comparativamente a PCR, IL-6 ou níveis de lactato.
A concentração
sérica da procalcitonina pode subir, para além das infecções
bacterianas, em infecções parasitárias e fúngicas.
As principais
limitações ao uso da procalcitonina enquanto marcador de sépsis
neonatal são:
- concentração pode aumentar em situações de diabetes gestacional
- asfixia fetal
- hipocalcémia
- síndrome de aspiração de mecónio
- doença hemolítica
- doença da membrana hialina
- hipoglicemia
- ressuscitação pós-parto
- hemorragia intracraneana
- pré-eclâmpsia materna
- amnionite clínica
- hipertensão
- administração de tensioactivo intratraqueal
- ruptura prolongada de membranas
- colonização materna por Streptococos grupo B
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