sábado, novembro 19, 2016

Infestação por helmintas: alternativa terapêutica nas DII

Infestação por helmintas: alternativa terapêutica nas DII

A microbiota intestinal humana tem sido estudada como elemento interveniente em muitas patologias, desde obesidade até alterações psiquiátricas passando por perturbações do desenvolvimento.
No intestino humano vivem frequentemente bactérias, virus, fungos e parasitas como os helmintas ( Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Ancylostoma duodenale, Taenia solium ).
Mais de 2 biliões de pessoas estão infestadas por helmintas, que são transmitidos via fecal-oral através dos seus ovos. Os helmintas não se replicam no hospedeiro e originam infecção crónica causando efeitos importantes a nível imunológico.
Os helmintas provocam uma resposta imunológica tipo 2 que se caracteriza pela expressão de citoquinas IL-4, IL-5 e IL-13, anticorpos IgG1, IgG4 e IgE, eosinofilia, basofilia, aumento dos mastócitos e macrófagos activados pela via alternativa e células Th2. Pensa-se que este tipo de resposta imune tem por objectivo gerar tolerância no organismo ao parasita.
Acredita-se que nas sociedades desenvolvidas poderá o controlo imunológico da infestação se perder por haver uma diminuída exposição a helmintas e assim alergias e doenças auto-imunes surgem mais frequentemente, sendo a este fenómeno que se atribui a designação de teoria da higiene.

Verificou-se que a infestação por parasitas, e nomeadamente Trichuris trichiura, pode causar melhoria e ausência de sintomatologia de DII.
Estudos demonstraram que há paralelismo entre o número de ovos de Trichuris trichiura e o estado clínico da DII ( crise ou remissão ), sendo que quanto maior for o número de parasitas melhor é a situação clínica do doente. A colonização deste parasita foi acompanhada por melhoria histopatológica incluindo normalização da arquitectura tissular e recuperação da integridade epitelial.
Foi observado que na colite ulcerosa activa se observam células Th17 enquanto que na infestacção por Trichuris trichiura e na remissão da colite ulcerosa, as células presentes são Th2 ( Th IL-22 + ), concluindo-se que a colonização por Trichuris trichiura tem efeitos benéficos por causar hiperplasia das células caliciformes intestinais e aumento da produção de muco pelas citocinas das células Th2 e IL-22.

Dado as bactérias da microbiota interagirem constantemente com o sistema imune foi determinado que a redução de células Th2 em doentes com colite ulcerosa se associava a microbiota alterada, uma vez que havia proliferação de algumas espécies de bactérias do cólon e diminuição de outras na presença de inflamação colónica.
Foi verificado que a colonização com helmintas leva a uma maior diversidade bacteriana intestinal diminuindo ou terminando com a disbiose intestinal existente previamente ao tratamento com helmintas.
Bacteroides vulgatus é uma bactéria causadora de defeitos funcionais e estruturais das células intestinais. Infestação com Trichuris trichiura de macacos NOD2 negativo leva a uma resistência a B. vulgatus dependente de imunidade tipo 2 e esta infestação promove mudanças na microbiota para uma forma protectora que se caracteriza por sobre-expressão de Clostridia.


Verificou-se em doentes com DII que há uma diversidade superior da microbiota quando infestados por helmintas comparativamente com doentes não infestados, observando-se também um nível inferior de Bacteroides. Alterações em sentido oposto verificam-se surgir quando os doentes infestados são submetidos a tratamento anti-helmínticos.

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