Infestação
por helmintas: alternativa terapêutica nas DII
A microbiota intestinal humana
tem sido estudada como elemento interveniente em muitas patologias,
desde obesidade até alterações psiquiátricas passando por
perturbações do desenvolvimento.
No intestino humano vivem
frequentemente bactérias, virus, fungos e parasitas como os
helmintas ( Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Ancylostoma
duodenale, Taenia solium ).
Mais de 2 biliões de pessoas
estão infestadas por helmintas, que são transmitidos via fecal-oral
através dos seus ovos. Os helmintas não se replicam no hospedeiro e
originam infecção crónica causando efeitos importantes a nível
imunológico.
Os helmintas provocam uma
resposta imunológica tipo 2 que se caracteriza pela expressão de
citoquinas IL-4, IL-5 e IL-13, anticorpos IgG1, IgG4 e IgE,
eosinofilia, basofilia, aumento dos mastócitos e macrófagos
activados pela via alternativa e células Th2. Pensa-se que este tipo
de resposta imune tem por objectivo gerar tolerância no organismo ao
parasita.
Acredita-se que nas sociedades
desenvolvidas poderá o controlo imunológico da infestação se
perder por haver uma diminuída exposição a helmintas e assim
alergias e doenças auto-imunes surgem mais frequentemente, sendo a
este fenómeno que se atribui a designação de teoria da higiene.
Verificou-se que a infestação
por parasitas, e nomeadamente Trichuris trichiura, pode
causar melhoria e ausência de sintomatologia de DII.
Estudos demonstraram que há
paralelismo entre o número de ovos de Trichuris trichiura
e o estado clínico da DII ( crise ou remissão ), sendo que quanto
maior for o número de parasitas melhor é a situação clínica do
doente. A colonização deste parasita foi acompanhada por melhoria
histopatológica incluindo normalização da arquitectura tissular e
recuperação da integridade epitelial.
Foi
observado que na colite ulcerosa activa se observam células Th17
enquanto que na infestacção por Trichuris trichiura e
na remissão da colite ulcerosa, as células presentes são Th2 ( Th
IL-22 + ), concluindo-se que a colonização por Trichuris trichiura tem efeitos benéficos
por causar hiperplasia das células caliciformes intestinais e
aumento da produção de muco pelas citocinas das células Th2 e
IL-22.
Dado
as bactérias da microbiota interagirem constantemente com o sistema
imune foi determinado que a redução de células Th2 em doentes com
colite ulcerosa se associava a microbiota alterada, uma vez que havia
proliferação de algumas espécies de bactérias do cólon e
diminuição de outras na presença de inflamação colónica.
Foi
verificado que a colonização com helmintas leva a uma maior
diversidade bacteriana intestinal diminuindo ou terminando com a
disbiose intestinal existente previamente ao tratamento com
helmintas.
Bacteroides vulgatus
é uma bactéria causadora de defeitos funcionais e estruturais das
células intestinais. Infestação com Trichuris trichiura de macacos NOD2
negativo leva a uma resistência a B. vulgatus
dependente de imunidade tipo 2 e esta infestação promove mudanças
na microbiota para uma forma protectora que se caracteriza por
sobre-expressão de Clostridia.
Verificou-se
em doentes com DII que há uma diversidade superior da microbiota
quando infestados por helmintas comparativamente com doentes não
infestados, observando-se também um nível inferior de Bacteroides.
Alterações em sentido oposto verificam-se surgir quando os doentes
infestados são submetidos a tratamento anti-helmínticos.
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