Reticulocitose
Reticulocitose
é uma condição anómala do tecido sanguíneo, que se caracteriza
pelo aumento da contagem dos reticulócitos em circulação, condição
esta que é um dos mais simples e fiáveis sinais laboratoriais da
produção acelerada de eritrócitos pela medula óssea. A
reticulocitose ocorre no processo de regeneração activa do sangue e
em certas anemias, em particular a anemia hemolítica congénita. Tem
também valor na interpretação das anemias por hemorragia aguda,
hemolíticas agudas ou crónicas, reposição de ferro, ácido fólico
ou vitamina B12.
A
reticulocitose reflete dessa forma uma aceleração da eritropoiese.
A hipóxia e a eritropoietina são condições ou factores
importantes no desencadeamento da reticulocitose. A contagem de
reticulócitos dá ao médico importante informação se a medula
óssea está a tentar compensar a baixa de eritrócitos ou, se pelo
contrário, não está a funcionar, como acontece nos casos de
hipoplasia ou aplasia medular.
O
valor normal dos reticulócitos é de 0.5% a 2.0%, em valor
percentual de células vermelhas do sangue, ou em valores absolutos
de 30000 a 60000/μl. Em
recém-nascidos, o valor varia entre os 2.0% e os 6.0%, atingindo os
valores adultos em 1-2 semanas.
http://www.youtube.com/watch?v=rOivNw1BNSw
Os
eritrócitos derivam de uma célula tronco da medula óssea que,
estimulada pela eritropoietina, se diferencia, dando origem a uma
sucessão de divisões mitóticas com um processo contínuo de
diferenciação até à expulsão do núcleo do eritroblasto,
originando o reticulócito. Este processo demora cerca de 72 horas,
após o qual o reticulócito, em cerca de 48 horas, se diferencia em
eritrócito. Desta forma, o reticulócito mais não é que uma forma
intermediária da produção dos eritrócitos. Por os reticulócitos
ainda não serem células totalmente maduras, apresentam-se na
periferia como células ligeiramente maiores que os eritrócitos, com
material nuclear residual, que cora de azul por corantes supra-vitais
como o azul brilhante de cresil ou o novo azul de metileno.
O
reticulócito é uma célula da série vermelha do sangue, anucleada,
ligeiramente maior que o eritrócito ( 10-15 μm
contra 6-8 μm ), que
contém resíduos de DNA e outros organelos que podem ser
visualizados com corantes supravitais, como o ABC.
Partículas
que não o RNA, como os corpos de Heinz, corpos de Howell-Joly,
remanescentes nucleares, grânulos sideróticos, bridas, etc, podem
confundir-se com os grânulos reticulares próprios dos
reticulócitos, e dificultar a contagem.
A
actividade eritropoiética da medula óssea e o ritmo de libertação
das células da medula óssea para o sangue periférico são os
factores determinantes do número de reticulócitos no sangue
periférico. Em relação com a classificação das anemias, estas
podem ser regenerativas ( onde há reticulocitose ) ou
arregenerativas ( sem reticulocitose ).
A
reticulocitose ocorre normalmente em doentes com anemia com medula
óssea funcionando de forma normal. É o caso das situações de
hemorragias, anemia falciforme, talassémias, esferocitose,
deficiência de G6PD, doença hemolítica imune e hiperesplenismo,
bem como em doentes que foram tratados com sucesso para outras
anemias como as por deficiência de ferro, ácido fólico ou vitamina
B12.
Pelo
contrário, doentes com aplasia medular, eritropoiese ineficaz ou
produção deficiente de eritropoietina, podem ter contagem normal,
ou mesmo reduzida, de reticulócitos, apesar de apresentarem anemia
grave. Estão incluídos neste caso as anemias por déficit de ferro,
ácido fólico ou vitamina B12 não tratadas, ou ineficazmente
tratadas, anemia perniciosa, aplasia eritrogénica imunológica ou
induzida por drogas, leucemia, carcinoma metastático, mielofibrose,
insuficiência renal crónica, etc.
A
produção de reticulócitos deverá crescer entre 2-3 dias após uma
hemorragia aguda, e atingir o seu pico entre o 6º e 10º dias após
essa hemorragia. Quando o hematócrito é baixo, a percentagem de
reticulócitos não é um parâmetro fiável, por estarem exauridas
as hemácias.
O
cálculo do IPR ( Índice de Produção de Reticulócitos ), em
função da sua contagem e em situação normal, é dado pela
seguinte fórmula:
IPR
= índice de reticulócitos / tempo de maturação em dias
A contagem corrigida
de reticulócitos ou índice de reticulócitos ( IR ), parâmetro
importante em doentes com anemia, define-se pela seguinte fórmula:
IR
= % reticulócitos x ( hematócrito do doente / hematócrito normal
)
em que o hematócrito
normal é considerado de 40% para a mulher e 45% para o homem.
Numa situação de hemorragia ou hemólise, em que há uma resposta adequada medular, o IR tem um valor de 3% ou superior. Quando a anemia é devida a uma produção diminuída de eritrócitos, o IR tem um valor inferior a 3%, habitualmente mesmo inferior a 1.5%. Nas anemias por perdas, a resposta reticulocitária é adequada enquanto os depósitos de ferro não se esgotarem. Após a ferropenia se estabelecer, o IR diminui como reflexo da diminuição da produção eritrocitária medular. Na ausência de hemorragia, um IR aumentado num indivíduo anémico sugere a existência de hemólise.
Numa situação de hemorragia ou hemólise, em que há uma resposta adequada medular, o IR tem um valor de 3% ou superior. Quando a anemia é devida a uma produção diminuída de eritrócitos, o IR tem um valor inferior a 3%, habitualmente mesmo inferior a 1.5%. Nas anemias por perdas, a resposta reticulocitária é adequada enquanto os depósitos de ferro não se esgotarem. Após a ferropenia se estabelecer, o IR diminui como reflexo da diminuição da produção eritrocitária medular. Na ausência de hemorragia, um IR aumentado num indivíduo anémico sugere a existência de hemólise.
A percentagem de
reticulócitos é definida pela seguinte fórmula:
%
reticulócitos = ( número de reticulócitos/ número de eritrócitos
) x 100
A reticulocitose
apresenta-se principalmente nos casos de anemias hemolíticas por
destruição eritrocitária precoce ( intravascular ) ou nos espaços
entre os vasos do sistema retículo-endotelial ( extravascular ).
Apenas uma outra situação origina reticulocitose, e esta é a perda
de sangue por hemorragia aguda. É importante, na história clínica
de doentes com reticulocitose, pesquisar infecções recentes,
medicamentos ou outras drogas ingeridas, exposição a toxinas, a
fumo, a compostos químicos ou a altas temperaturas, tipo de trabalho
e história familiar, quando há suspeita de hemoglobinopatias,
talassémia α ou β,
enzimopatias e esferocitose. Também é importante obter informações
sobre transfusões sanguíneas ou de derivados do sangue. No exame
físico, deve-se pesquisar pela palidez, icterícia e esplenomegalia,
alterações esqueléticas com deformação óssea, dores e sua
localização.
A reticulocitose,
geralmente, cursa com anemia macrocítica, dado que os reticulócitos
são maiores que os eritrócitos maduros, e policromasia, devido ao
material ribossómico dos reticulócitos.
A reticulocitose é
uma consequência da hipóxia, quando mediada pela eritropoietina, e
pode estar presente em qualquer tipo de valor de volume globular
médio ( normocitose, microcitose ou macrocitose ) e, em relação à
libertação prematura dos reticulócitos imaturos, o tipo de
resposta eritropoiética deve ser semelhante nos casos de
normocitose, microcitose ou macrocitose.
A contagem de
reticulócitos pode dar indicações sobre a actividade
eritropoiética regenerativa, evidências para se suspeitar de
hemoglobinopatias ainda não diagnosticadas e fornece informações
adicionais, nos casos das anemias com e sem hemoglobinopatias, às
obtidas pelo hemograma ( volume globular médio, hemoglobina e
hematócrito ) de rotina.
Os reticulócitos
são células precursoras dos eritrócitos, que permanecem na
circulação 24-48 horas. A sua contagem é fornecida em valor
percentual dos eritrócitos totais.
Uma contagem baixa
de reticulócitos indica uma medula óssea hipoproliferativa ou uma
eritropoiese ineficaz ( como na anemia perniciosa ). Uma contagem
alta de reticulócitos indica uma medula óssea a responder a uma
anemia hemolítica ou por perda de sangue.
A contagem de
reticulócitos pode ser pedida quando há diminuição de número de
eritrócitos, da hemoglobina ou do hematócrito e se pretende
avaliar a função da medula óssea.
Quando há elevação
do número de eritrócitos, do hematócrito e da hemoglobina, a
contagem de reticulócitos pode ser usada para avaliar a intensidade
da produção excessiva dos eritrócitos.
A contagem de
reticulócitos reflete a actividade recente da medula óssea. Caso a
medula óssea seja incapaz de suprir as necessidades, o número de
reticulócitos pode ser normal ou apenas ligeiramente elevado, e até
mesmo diminuir devido à falta de produção adequada. Se, com
anemia, o número de reticulócitos não aumentar, é provável haver
disfunção medular ou deficiência de eritropoietina.
Diminuição de
número de reticulócitos pode aparecer em anemias por baixa de
ferro, anemia perniciosa ou por deficiência de ácido fólico,
anemia aplásica, doentes a fazerem radioterapia ou inibição
medular por infecção ou cancro.
A contagem de
reticulócitos indica o que está a ocorrer na medula óssea, mas não
diagnostica uma doença específica, antes obrigando a um estudo mais
aprofundado com vista a esse diagnóstico.
A maturação das
células vermelhas é, rigorosamente, regulada pela eritropoietina, e
outros factores, com o intuito de manter o aporte adequado de
oxigénio aos tecidos.
Os eritrócitos não
possuem núcleo, e têm poucos organelos. A sua principal proteína é
a hemoglobina, tendo no entanto algumas outras proteínas fibrosas,
como a espectrina, que aderem à membrana e mantêm a forma do
glóbulo vermelho. Têm uma grande superfície para as trocas
respiratórias, devido às suas dimensões e forma. Os eritrócitos
não utilizam o oxigénio para o seu metabolismo pois, devido a não
terem organelos, o ATP que necessita é formado anaerobicamente.
O hemocitoblasto, ou
célula hematopoiética multipotencial, divide-se, por mitose, dando
origem a vários precursores, cada qual com receptores específicos
diferentes, que reagem a certas hormonas e factores de crescimento,
para se diferenciarem nas diferentes linhagens.
Se a eritropoiese
medular estiver normal, com reservas de ferro, ácido fólico e
vitamina B12 mantidas, a semi-vida dos eritrócitos pode reduzir-se
até aos 20-25 dias sem haver anemia, e isto devido a que a medula
óssea pode aumentar a sua produção de eritrócitos até 8 vezes.
Quando a semi-vida eritrocitária baixa dos 20 dias instala-se uma
anemia hemolítica. Quando a semi-vida eritrocitária está
diminuída, mas não a ponto de haver anemia, estamos em presença de
um estado de hemólise compensada, situação esta que pode
rapidamente evoluir para anemia por diminuição das reservas de
ferro, ácido fólico ou vitamina B12 ou uma infecção dos
eritroblastos pelo parvovírus B19 ( o vírus que nas crianças causa
a 5ª doença e que tende a ser autolimitado ).
Na hemólise
extravascular, hemólise mais frequente, os eritrócitos são
destruídos no sistema retículo-endotelial. Diversos são os
mecanismos que afectam o citoesqueleto, a membrana ou a forma dos
eritrócitos que dificulta a passagem dos glóbulos vermelhos pelas
fendas sinusoidais, aumentando o contacto dos eritrócitos com os
macrófagos. O revestimento da membrana eritrocitária, por
anticorpos IgG ou componentes do complemento C3b, permite o seu ponto
de reconhecimento pelos receptores macrofágicos, determinando uma
destruição mais precoce.
Na hemólise
intravascular, a destruição dos eritrócitos é feita dentro dos
vasos sanguíneos, e o seu conteúdo libertado para o plasma, sendo,
na maior parte, causada por factores adquiridos, como trauma
mecânico, destruição imunológica pelo sistema complemento ou
exposição a factores tóxicos.
A hemólise, por
levar a uma tendência de instalação de anemia, estimula a
libertação de eritropoietina pelo rim, que actua na medula óssea
estimulando a maturação dos eritroblastos, o que leva a uma maior
libertação de células vermelhas na circulação e, nomeadamente,
reticulócitos.
Sob forte estímulo
da maturação, a medula óssea pode lançar as shift cells na
circulação, que não são mais que reticulócitos mais imaturos, e
que dão o aspecto de policromasia ou policromatofilia. A resposta
medular também pode ser observada no mielograma, onde se verifica
intensa hiperplasia eritróide característica das anemias
hemolíticas.
Qualquer anemia
estimula a produção de eritropoietina renal e, portanto, mesmo nas
anemias por falta de ferro ou megaloblásticas há um estímulo à
hiperplasia eritróide medular. No entanto, a produção pela medula
óssea dos reticulócitos não aumenta devido a haver um bloqueio
medular da produção eritrocitária. Na anemia megaloblástica ainda
acontece também haver hiperplasia eritróide medular, mas com uma
eritropoiese ineficaz, com destruição precoce dos eritroblastos e
reticulócitos dentro da própria medula óssea.
Correctamente, o
termo reticulocitose não indica nem um aumento da percentagem de
reticulócitos nem mesmo o aumento do seu número absoluto, mas sim o
aumento medular da produção de reticulócitos.
O LDH, por ser uma
enzima existente nos eritrócitos, eleva-se nas situações de
hemólise. Na anemia hemolítica, os valores de LDH não sobem tanto
como nas anemias megaloblásticas e enquanto a isoenzima LDH-2 é a
que sobe nas situações de hemólise, já nas situações de megaloblastose é a LDH-1 a que sofre o aumento, e que é a isoenzima
( LDH-1 ) que se eleva em várias condições patológicas não
hematológicas, como o enfarte de miocárdio ou outras.