Autofagia
Denomina-se
autofagia ao processo celular de autodigestão dos próprios
componentes celulares. Este processo de autofagia acontece, por
vezes, em organelos denominados de vacúolos autofágicos que
envolvem e digerem constituintes da própria célula. É pois um
processo catabólico que, através da maquinaria lisossómica,
degrada os componentes constituintes da célula.
A
autofagia difere da apoptose por, enquanto a apoptose ser um processo
específico de morte celular programada ligada ao controlo do
desenvolvimento e crescimento, a autofagia caracteriza-se por ser um
processo no qual as células são digeridas.
O
lisossoma é o organelo responsável pela autofagia. A célula
elimina, pelo processo de autofagia, organelos velhos, utilizando este
mecanismo, que inclui formação de vesículas com o auxílio do
retículo endoplasmático liso: o organelo a eliminar, obsoleto, é
envolvido por uma membrana derivada do retículo endoplasmático
liso, formando o autofagossoma que se funde com endossoma secundário,
que recebe as enzimas líticas do complexo de Golgi transformando-se
num fagolisossoma. Este processo termina com a degradação do
organelo, pela acção das enzimas.
Nos
neurónios, hepatócitos e células do músculo cardíaco, os
fagolisossomas não completam a digestão do organelo, e são
convertidos em corpos residuais que, com o avançar da idade, formam
segmentos de inclusão que se acumulam no citosol.
A
autofagia é um processo que se acelera em determinados estados, como
o jejum prolongado, situação esta em que aparecem muitos
autofogossomas nos hepatócitos capazes de converter os organelos
celulares em alimento para prolongar a sobrevivência do organismo.
A
autólise é um processo incomum em organismos adultos e ocorre,
normalmente, em células danificadas ou em tecido que está a morrer.
Na
autólise ocorre uma instabilidade da membrana lisossómica, causada
por factores físicos e/ou químicos, que promove a ruptura dessa
membrana, libertando as enzimas que vão digerir a parte orgânica da
célula, levando à sua destruição.
A
autólise pode ser positiva ou negativa. A autólise positiva, ou
apoptose, é um fenómeno que se liga à manutenção evolutiva duma
espécie. A autólise negativa surge, por exemplo, na silicose,
situação na qual o pó de sílica é fagocitado e acumulado no
interior do lisossoma, promovendo a sua ruptura e iniciando o
processo de autólise que vai destruir o macrófago.
A
autofagia é um processo essencial para o funcionamento da célula.
Este processo é utilizado pela célula para eliminar os organelos
envelhecidos e já obsoletos.
A
autofagia, em determinadas condições, constitui uma adaptação ao
stress, que evita a morte celular e assim suprime a apoptose,
enquanto que noutras condições, a autofagia constitui uma via
alternativa de morte celular.
http://youtu.be/hBKqO2wEWDc
A
autofagia e a apoptose podem ser desencadeadas por uma sinalização
comum, fazendo com que haja processos combinados de autofagia e
apoptose.
Vacúolos
digestivos são bolsas originadas pela fusão de lisossomas com
fagossomas ou pinossomas. No interior destes vacúolos digestivos, as
substâncias que se encontram nos fagossomas, ou pinossomas, são
digeridas pela acção enzimática dos lisossomas. Com o decorrer dos
processos digestivos intracelulares, as partículas capturadas pelas
células são lisadas em pequenas moléculas que atravessam a
membrana do vacúolo digestivo, passando para o citosol, sendo estas
moléculas usadas no fabrico de novas substâncias e no fornecimento
de energia à célula.
Restos
do processo digestivo, constituídos por material não digerido,
permanecem dentro do vacúolo, passando este a denominar-se de
vacúolo residual. O conteúdo destes vacúolos residuais pode ser
eliminado para o meio exterior, processo este denominado
clasmocitose, processo este no qual o vacúolo residual se encosta à
membrana plasmática e se funde com ela lançando o seu conteúdo
para o exterior.
Todas
as células são capazes de praticar autofagia. Através da autofagia
uma célula constrói e destrói centenas de vezes os seus
constituintes.
Certas
doenças degenerativas são devidas à libertação de enzimas
lisossómicas no interior da célula, como acontece por exemplo nos
casos de artrite e doenças das articulações ósseas.
A
apoptose está relacionada com a manutenção da homeostase e com a
regulação fisiológica do tamanho dos tecidos, bem como quando há
estímulos patológicos. Para além da apoptose, outros processos
resultam em morte celular, nomeadamente autofagia, necrose, mitose
catastrófica e senescência. A apoptose, ou morte celular
programada, pode ter causas fisiológicas e patológicas. De entre as
causas fisiológicas, podemos incluir involução de estruturas
fetais durante o desenvolvimento embrionário, situação de corte no
suprimento de hormonas, como na menopausa, tecidos onde há constante
renovação celular, apoptose estimulada pelo linfócito T citotóxico
após uma resposta imunológica do organismo a um agente biológico,
e nas células fibrosas que originam o cristalino.
Apoptose causada por patologias pode ocorrer em casos de lesão de material
genético ( DNA ) celular através de estímulos radioactivos,
químicos ou virais. Também apoptose por patologia pode ocorrer em
lesão por isquémia ou hipóxia.
A
autofagia é um processo celular fisiológico, com a finalidade de
degradar e reciclar componentes citosólicos e organelos celulares
danificados, manutenção da homeostase celular em condições
adversas, como privação de nutrientes, presença de patogéneos e
toxinas. Este processo fisiológico de autofagia, se ultrapassa um
dado limiar, pode levar à morte autofágica ou apoptose.
Os
autofagossomas maduros e os autofagolisossomas são organelos ácidos.
A
autofagia é um processo presente em todas as células e pode
verificar-se, em maior número, em situações de jejum e stress. A
autofagia joga um papel importante em diversas patologias como
cancro, doenças neurodegenerativas, doenças auto-imunes como a
doença de Crohn e artrite reumatóide, cardiopatias e infecções.
Tanto
ao nível celular como ao nível do organismo a autofagia pode ter
efeito pró-morte ou pró-sobrevivência, dependendo estas situações
do contexto em que se verificam.
Ao
nível celular, a função pró-sobrevivência da autofagia ajuda a
célula a lidar com o stress, através da eliminação de proteínas,
organelos ou agregados lesados, ou por meio de prover as células com
energia e constituintes anabólicos durante o jejum.
Por
outro lado, a autofagia pode ser um mecanismo da caspase e morte
celular apoptose independente.
http://youtu.be/sDsZ8K4qX9I
O
processo de autofagia pode controlar o processo de apoptose, tornando
esta mais ou menos provável. Por outro lado, a apoptose pode
controlar a autofagia, aumentando-a ou diminuindo-a. Em traços
gerais, a autofagia é usualmente pró-sobrevivência, permitindo as
células sobreviver a prolongados períodos de jejum e outras formas
de stress, a agentes infecciosos e tratamentos com agentes como
anti-cancerígenos.
A
autofagia é capaz de provocar a morte celular por degradar
activamente os componentes celulares ( catalases, mitocôndrias,
etc.) ou por degradar não selectivamente os componentes celulares, a
ponto da sobrevivência celular se tornar impossível.
A
autofagia, para além de ter a capacidade de originar a morte
celular, também consegue alterar a via pela qual a morte celular se
processa.
Existem
múltiplas interacções, directas ou indirectas, entre os processos
de autofagia e apoptose.
Duas proteínas autofágicas importantes na interacção autofagia-apoptose são a p62 ( importante na tumorigénese induzida
pelas proteínas ras ) e o supressor tumoral Beclin-1.
A
p62 é uma proteína fundamental na degradação autofágica
selectiva de muitas proteínas e mitocôndrias, e actua directamente
com várias vias apoptóticas e de sobrevivência, incluindo
caspase-8, TRAF6 ( que modula a sobrevivência de NF-kB ) e erk.
As
proteínas p62 e Beclin-1 são proteínas fundamentais na regulação,
e em serem reguladas, por um número de moléculas pro e
anti-apoptóticas.
Em
conclusão podemos dizer que a autofagia é um processo no qual
organelos celulares já não funcionais são englobados por uma
membrana e por lisossomas, sendo decompostos. A autofagia pode ser a
chave para o tratamento de doenças como o cancro, doenças
degenerativas e infecções.
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