Leucotrienos e Lipoxinas
Lipoxinas
são anti-inflamatórios eicosanóides, sintetizados através da
interacção da lipoxigenase sobre o ácido araquidónico. As acções
anti-inflamatórias das lipoxinas são parcialmente função da sua
capacidade de inibição das acções dos leucotrienos.
Existem
3 vias de síntese das lipoxinas a partir do ácido araquidónico. A
via clássica, que implica a actividade do 5-LOX nos leucócitos
seguida pela acção da 12-LOX nas plaquetas. A segunda via, é a via
na qual a acção da 15-LOX das células epiteliais se faz sentir
seguida da acção da 5-LOX dos leucócitos. A terceira via, ou via
da aspirina, é aquela na qual a aspirina actua na COX-2, no epitélio
respiratório, nas células endoteliais ou nos monócitos, com
produção de 15-epi-lipoxina com subsequente acção da 5-LOX para
produção de lipoxinas.
Doses
baixas de aspirina levam a efeitos anti-inflamatórios devidos à sua
capacidade de activar a síntese de lipoxinas ( LXA4, LXB4 ); já
doses altas de aspirina não actuam sobre a síntese das lipoxinas.
Como
se vê, na figura, as duas vias clássicas para a síntese das
lipoxinas resultam das acções do 15-LOX das células epiteliais e
das 5-LOX leucocitárias ou pela acção combinada do 5-LOX
leucocitário seguida da acção da 12-LOX plaquetária. A outra via
é a via da acção da aspirina com síntese das lipoxinas
epiméricas, 15-epi-LXA4 e 15-epi-LXB4, via na qual há activação
de leucócitos, geralmente polinucleares, que actuam sobre o
endotélio.
As
lipoxinas são potentes anti-inflamatórios eicosanóides, que actuam
de forma antagónica aos eicosanóides pró-inflamatórios leucotrieno
A4 e também PgE2 e tromboxano A2.
Os
leucotrienos A4 e B4 promovem o relaxamento da vasculatura ( aórtica
e pulmonar ). Lipoxinas e epi-lipoxinas inibem a quimiotaxia dos
leucócitos polimorfonucleares, vasopermeabilidade mediada pelos
polimorfonucleares e a adesão e migração dos polimorfonucleares
ao endotélio vascular.
A
lipoxina também actua pelo bloqueio da expressão do gene da IL-8,
interleuquina com acção sobre a migração leucocitária, acção
da α-TNF e a síntese de
βTGF ( transforming groth
factor β ).
A
LXA4, em alguns tecidos, leva à produção de PgI2 e óxido nítrico.
Os
leucotrienos são sintetizados predominantemente pelos mastócitos,
macrófagos, eosinófilos e basófilos a partir do ácido
araquidónico.
Os
leucotrienos sintetizados a partir do ácido araquidónico são o
LTA4 ( instável ) que é rapidamente convertido em LTB4 e LTC4 pela
acção de uma hidrolase ou da sintetase LTC4, respectivamente. O
LTC4 é transportado activamente ao exterior da célula, onde se
metaboliza a LTD4 e, posteriormente, LTE4. Os leucotrienos C4, D4 e
E4 possuem um radical cisteína e, por isso, se chamam
cisteinil-leucotrienos, sendo que estes têm 2 tipos de receptores,
nomeadamente receptor para LTB4 e receptor para
cisteinil-leucotrienos. Os receptores cisteinil-leucotrienos têm 2
subtipos sendo um bloqueado pelos antagonistas ( receptores CisLT1 )
e um subtipo resistente ao bloqueio ( receptores CisLT2 ).
O
receptor para LTB4 foi encontrado em placas ateroscleróticas, pelo
que se acredita estar relacionado com a patogenia da aterosclerose.
Processos inflamatórios, como alergia ou asma, têm os leucotrienos
envolvidos na sua patogenia.
Especula-se
haver incremento da actividade de 5-LOX em doenças neurológicas
como a depressão e ansiedade.
Na
síntese dos leucotrienos, a etapa chave é a síntese de 5-HPETE,
pela acção do 5-LOX, a partir do ácido araquidónico libertado dos
fosfolípidos da membrana pela fosfolipase A2. As lipoxigenases (
5-LOX, 12-LOX e 15-LOX ) constituem uma família de enzimas
citoplasmáticas que oxidam o ácido araquidónico. O constituinte
principal é a 5-LOX que promove a bioformação dos leucotrienos.
Ao
contrário das LOX's, as COX's estão em todas as células excepto
nos eritrócitos maturos e têm por função a ciclização seguida
de oxidação do substracto, produzindo as prostaglandinas
intermediárias PgG2 e PgH2, percursoras das prostaglandinas e
tromboxanos.
Os
leucotrienos C4, D4 e E4 resultam da adição do glutatião ao LTA4
pela glutatião-S-transferase e são potentes mediadores da
inflamação. O LTA4 também pode originar o LTB4, que é um potente
quimiotático. Os leucotrienos, ao contrário das prostaglandinas,
não são ubiquitas e apresentam-se fundamentalmente nos pulmões,
leucócitos, plaquetas e fígado. Os leucotrienos são potentes
mediadores da inflamação local e não são inibidos pelos AINE's.
Uma
consequência potencial do bloqueio das COX's pelos AINE's é o
aumento da produção dos leucotrienos a partir do ácido
araquidónico, por este não ser metabolizado com vista à formação
de prostaglandinas. A hipersensibilidade à aspirina está
relacionada com este desvio da rota de metabolização do ácido
araquidónico, já que os leucotrienos são mais inflamatórios que
os produtos da prostaglandina H sintase.
Estes
fármacos alteram a resposta imunitária, seja celular ou humoral, e
podem suprimir outros mediadores da inflamação diferentes das
prostaglandinas.
Os
AINE's alteram a resposta inflamatória inibindo a activação dos
neutrófilos com consequente libertação das enzimas celulares
inflamatórias como colagenase, elastase, hialuronidase e outras. Os
AINE's também intervêm na imunomodelação, pois várias
prostaglandinas e leucotrienos são imunomodeladores. A PgE2, pela
sua inibição, leva a um aumento da imunidade celular.
Os
corticóides inibem a libertação do ácido araquidónico dos
fosfolípidos da membrana, diminuindo os produtos, tanto da COX como
da LOX. Em pessoas sensíveis, a aspirina e os AINE's apresentariam
acção farmacológica inibitória sobre a actividade da
prostaglandina sintetase, inibindo as COX-1 e COX-2 em todas as
células, resultando na interrupção da síntese da PgE2 e seus
efeitos modeladores nas células inflamatórias e superprodução de
cisteinil-leucotrienos ( Cis-LT ) pelo direccionamento para a via da
LOX.
A
resposta imune ocorre quando as células imunocompetentes se activam
ante organismos estranhos ou substâncias antigénicas libertadas
durante a resposta inflamatória aguda ou crónica. O resultado deste
processo pode ser benéfico, pois os organismos invasores são
fagocitados ou neutralizados, ou esse processo ser prejudicial se se
conduz a um processo inflamatório crónico sem resolução do
processo prejudicial subjacente. A inflamação crónica implica a
libertação de mediadores não proeminentes na resposta aguda,
nomeadamente interleucinas ( IL-1, IL-2, IL-3 ), α-TNF,
interferãos e factores de crescimento derivados das plaquetas. A
lesão celular na inflamação leva à libertação de enzimas
lisosómicas leucocitárias, ao que se segue a libertação de ácido
araquidónico dos fosfolípidos da membrana por acção da
fosfolipase A2. Os eicosanóides actuam directamente no processo
inflamatório e derivam do ácido araquidónico.
A
acção das LOX's sobre o ácido araquidónico dá origem aos ácidos
hidroperoxieicosatetraenóicos ( HPETES ) que originam derivados
hidróxidos e leucotrienos.
A
5-LOX encontra-se nas células inflamatórias ( neutrófilos,
mastócitos, basófilos, macrófagos e eosinófilos ). Esta enzima,
5-LOX, origina a LTA4 que se converte em LTB4 ou em LTC4 ( esta
última se se conjuga com glutatião ) e esta por sua vez origina
LTD4 e LTE4 pela acção das peptidases.
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