Marcadores
da Doença de Crohn
Anti-CBir1,
OmpC, sequência bacteriana I2, oligomannan ( ASCA )
O anti-CBir1 é um
antigene associado ao fenótipo da doença inflamatória intestinal
complicada, nomeadamente DII fibroestenosante penetrante aguda,
envolvimento do intestino delgado, bem como em casos de cirúrgia do
intestino delgado, mas não se encontra na colite ulcerosa.
O anti-CBir1 é um
anticorpo dirigido ao antigene flagelar de bactérias encontradas no
intestino e que, especificamente, evoluem para doença intestinal,
mas não sendo até hoje conhecidas relações com doenças não
intestinais. Relaciona-se principalmente com a Doença de Crohn.
CBir 1
Inflamação
intestinal crónica, como a que ocorre na DII, resulta de uma
aberrante e mal conhecida resposta imunológica da mucosa
gastrointestinal à microbiota, em indivíduos geneticamente
susceptíveis. Os antigenes dominantes identificados são flagelinas,
moléculas capazes de activar a imunidade inata via receptor 5
Toll-like ( TLR5 ) e alvos críticos do sistema imune adquirido na
defesa do hospedeiro.
Flagelinas foram
identificadas como uma classe de antigenes imunodominantes que
estimulam reacções imunológicas patogénicas em indivíduos
geneticamente susceptíveis.
Receptores Toll-like
são críticos para a sensibilidade de hospedeiros aos
microorganismos, sendo que aqueles TLR, sozinhos ou em combinação,
reconhecem um vasto leque de padrões moleculares associados aos
microorganismos, tanto patológicos como comensais. Vários TLR estão
expressados nas células epiteliais intestinais e mais amplamente
nos macrófagos e células dendríticas da lâmina própria.
As bactérias
intestinais jogam um papel fundamental no estabelecimento e
manutenção da DII. Os mecanismos moleculares subjacentes a esta
dependência bacteriana na inflamação da mucosa, relacionam-se com
a especificidade intrínseca destes organismos desencadearem
respostas adquiridas ou inatas no intestino. Os antigenes dominantes
identificados nesta situação formam uma família de antigenes de
flagelinas, sendo verificada uma forte resposta dada por uma IgG2a
dirigida a estas flagelinas. Em adição, marcada reactividade contra
estas flagelinas, foi vista ao nível das células T e células T
flagelina-específicas eram capazes de induzir colite quando
transferidas para um hospedeiro imunodeficiente.
A flagelina é um
elemento altamente antigénico. Respostas anti-flagelina são
protectoras em infecções por Salmonella.
Verifica-se que a
resposta aberrante em doentes com Doença de Crohn é específica do
subgrupo de flagelina identificado, sendo que não se verifica
correlação entre DII e a resposta a flagelina da Salmonella
muenchen ( muito similar à comensal E. coli ).
Os dados apontam
para a consistência da hipótese de que a DII é associada com um
defeito da tolerância a organismos comensais, sendo que os
anticorpos IgG2a contra Cbir1 ( bem como contra Fla-X ) sublinham a
resposta Th1.
As flagelinas estão
entre os antigenes imunodominantes da microbiota intestinal, embora o
seu papel exacto na patogenicidade da DII ainda não seja entendido..
Cbir1 tem particular
importância dado ser capaz de identificar uma categoria de doentes
com Doença de Crohn, nomeadamente doentes com doença complicada por
fibroestenose e fístulas penetrantes internas, particularmente no
intestino delgado.
Foi demonstrado os
doentes de Crohn apresentarem anticorpos contra antigenes
específicos, podendo estes ser agrupados em 4 grupos:
- oligomannan ( ASCA )
- anticorpos contra E. coli outer membrane protein C ( OmpC ) e uma proteína relacionada com doença de Crohn da Pseudomona fluorescens ( anti-CD-related bacterial sequence )
- pANCA ( anticorpos que respondem a antigenes nucleares – perinuclear antineutrophil cytoplasmic antibody )
- resposta baixa ou nula a qualquer dos antigenes testados
Os níveis de
anticorpo anti-CBir1 não se correlacionam com a actividade da doença
de Crohn. Os níveis de anticorpo anti-CBir1 alteram-se pouco com o
tratamento cirúrgico, mesmo quando os doentes entram em remissão
clínica ou endoscópica. O mesmo se verifica após o tratamento bem
sucedido com infliximab.
Verifica-se que
doentes com Doença de Crohn apresentam reactividade selectiva a
antigenes bacterianos da flora comensal. Estes antigenes também têm
um papel como ligandos para a activação da resposta imune inata via
receptores Toll-like e uma forte imunogenecidade para imunidade
adaptativa.
Flagelinas,
estruturas moleculares importantes componentes de estruturas
complexas como membranas bacterianas, têm importância na adesão e
motilidade das bactérias. As flagelinas servem de ligando para
TLR5. TLR5, interactuando com as flagelinas, culminam na activação
de NF-kB, que é requerido para a indução transcripcional de muitas
citoquinas pró-inflamatórias.
Verificou-se que
embora a frequência de anti-CBir1 era similar em doentes com nenhuma
versus, pelo menos, uma variante de NOD2/CARD15 a resposta
quantitativa à flagelina Cbir1 era significativamente superior em
doentes com Doença de Crohn com pelo menos uma variante de
NOD2/CARD15 versus doentes sem aquelas variantes.
A flagelina
bacteriana interactua com TLR5 para regular NOD2/CARD15 e em doentes
com Doença de Crohn afecta a barreira epitelial.
Anticorpos para OmpC
da E. coli associam-se com Doença de Crohn agressiva, rapidamente progressiva.
A reactividade de
anti-CBir1 foi verificado associar-se significativamente com Doença
de Crohn complicada com fibroestenose, fenótipos de doença
fistulizante interna, envolvimento do intestino delgado e cirúrgia
ao intestino delgado por complicações, mas, pelo contrário,
apresenta associação negativa com a colite ulcerosa.
O papel da
microflora entérica na fisiopatologia da Doença de Crohn no ser
humano tem sido sublinhado pela presença de reactividade dos
anticorpos aos antigenes tais como oligomannan ( ASCA ), OmpC,
sequência bacteriana I2 e Cbir1, todos encontrados na Doença de
Crohn.
Não apenas a
positividade do Cbir1 mas também a determinação quantitativa se
correlaciona com a duração da Doença de Crohn e presença de
fenótipos da Doença de Crohn com complicações.
Doentes com Doença
de Crohn que positivam para Cbir1 formam um grupo específico de entre
aqueles doentes. A expressão do anti-CBir1 é independente das
respostas serológicas a antigenes bacterianos previamente definidos
e não se correlacionam com a actividade da doença. A presença de
anti-CBir1 associa-se com fenótipos de Doença de Crohn complicados
com fibroestenoses e fistulas penetrantes internas.
Verifica-se não
haver associação entre anti-CBir1 e as variantes de NOD2/CARD15, o
que pode indicar uma associação entre Cbir1 e diferente
susceptibilidade genética envolvida na imunidade inata e adaptativa
a este antigene e o NOD2/CARD15 pode afectar a magnitude da resposta
imune a vários antigenes microbianos, inclusivé Cbir1.
Flagelinas são
importantes componentes moleculares de estruturas complexas da
superfície bacteriana, com papel determinante na adesão e
motilidade.
As flagelinas
interactuam com os seus receptores nas células humanas. TLR5 podem
activar NF-kB que é requerido para a indução da transcripção de
muitas citoquinas pró-inflamatórias.
Uma vez que Cbir1
tem um papel de ligando para activação da resposta imune inata via
TLR5 e um forte imunogene para imunidade adaptativa, isto sugere que
a associação genética entre TLR5 e Cbir1 pode existir.
Embora a maioria
dos doentes com Doença de Crohn se apresentem com doença da mucosa
não complicada na altura do diagnóstico, o número cai para cerca
de metade e um terço após 5 e 10 anos, respectivamente. O
comportamento da doença altera-se com o tempo para fenótipos mais
agressivos como sejam fibroestenosantes ou doença fistulizante.
Desta forma é de muito interesse o uso de biomarcadores que possam
prever a evolução desfavorável da doença.
ASCA tem-se
associado com início em idades mais jovens, progressão da doença
mais rápida, envolvimento ileal e ileocólico, doença
fibroestenosante ou fistulizante e frequência mais elevada de
cirúrgia. Similares indicações se têm obtido com o uso de OmpC e
anti-CBir1, bem como com anticorpos anti-carbohidratos.
pANCA associa-se
mais a pouchite.
Sem comentários:
Enviar um comentário