domingo, julho 03, 2016

Mutação do Factor V de Leiden

Factor V de Leiden


Trombofilia é uma solução patológica em que há aumento da coagulação tendendo para a ocorrência de trombose.


Factor V de Leiden é a designação atribuída à mutação do factor V. É uma alteração genética autossómica dominante, com penetrância incompleta, hereditária, em que a proteína C activada tem interferência e que origina uma situação predisponente à hipercoaguabilidade e assim à trombose. A mutação verificada é uma substituição, no gene, de uma guanina por uma adenina com correspondente substituição na proteína de uma arginina por uma glutamina.


Vários polimorfismos existem, dado a posição do nucleotídeo mutado não ser sempre a mesma, podendo estar na posição 1691 ou 1746 e isto afecta a posição do aminoácido envolvido que pode ser 506 ou 534. Dado que este aminoácido é, geralmente, o local de clivagem utilizado pela aPC, a mutação previne inactivação eficaz do factor V.





A mutação do factor V de Leiden é a patologia hereditária de hipercoaguabilidade mais frequente na Eurásia, tendo sido primeiramente identificada em Leiden, Holanda, e daí o seu nome, apresentando-se em cerca de 5% desta população, sendo menos frequente em hispânicos e afrodescendentes e rara em asiáticos.



Fisiopatologia

O factor V é um cofactor que permite a activação da trombina pelo factor X e, deste modo, converter o fibrinogéneo em fibrina e assim a formação do coágulo sanguíneo. A proteína C activada ( aPC ) tem funções de anticoagulante natural, limitando a extensão da coagulação ao necessário para parar a hemorragia e diminuindo a acção do factor V.


O factor V de Leiden é uma mutação autossómica dominante resultando numa maior dificuldade em desactivar o factor V pela proteína C activada e, deste modo, a coagulação torna-se excessiva com formação de trombose.


O gene codificador do factor V de Leiden é o gene F5 localizado no exon 10 do cromossoma 1.


Epidemiologia

Verifica-se a presença de factor V de Leiden em até 30% dos pacientes que apresentam trombose venosa profunda ou embolia pulmonar e essa mutação aumenta o risco de desenvolver esta situação de coagulopatia em 50-100 vezes comparativamente com os que não a possuem. A homozigotia para o factor V de Leiden aparece em apenas 1% da população. Tabagismo e anticoncepcionais, principalmente à base de estrogéneos, aumentam o risco de coagulopatia e tromboembolismo.




Diagnóstico

Exames ao DNA diagnosticam com precisão a presença do factor V de Leiden, sendo possível diagnosticar a sua ausência ou, no caso da presença, a heterozigotia ou homozigotia.




Problemas associados à presença de factor V de Leiden podem ser observados como AVC, AIT, enfarte de miocárdio, embolia pulmonar, trombose venosa profunda ou outros. Diagnosticado o problema há que mudar de hábitos de vida, manter-se bem hidratado, abolir o tabagismo, fazer exercício físico regularmente, evitar hormonoterapia tanto como anticoncepcionais ou de reposição, fazer terapêuticas para patologias concomitantes como hipertensão, asma ou diabetes entre outras. Mulheres com esta mutação apresentam risco aumentado de aborto.
Há que ter atenção ao uso da vitamina K dado esta ser antagonista da warfarina. Há que ter o INR controlado e vigiado regularmente.


O efeito hipercoagulante que se verifica nesta situação patológica, quase se restringe ao território venoso onde se verifica a ocorrência de trombose venosa profunda, podendo originar embolia pulmonar. É uma situação extremamente rara a ocorrência de coágulos arteriais e esta pode dar origem a enfarte do miocárdio e AVC ou AIT.
Na presença de factor V de Leiden verifica-se um aPTT encurtado. Complicações na gravidez como nado-morto, aborto, recém-nascido de baixo peso, pré-eclampsia e descolamento de placenta são mais frequentes em mulheres que apresentam a mutação do factor V de Leiden comparativamente com aquelas que não possuem esta mutação.


O sistema de coagulação é constituído por vários componentes denominados factores da coagulação que funcionam em cascata. Este sistema deve ser regulado. Anticoagulantes são substâncias químicas antagonistas dos factores de coagulação que têm a capacidade de fazer a clivagem dos factores de coagulação e desta forma inactivar estes factores, impedindo-os de originar a formação da fibrina.
Na presença do factor V de Leiden, o factor V é clivado, mas de forma muito mais lenta do que na sua forma não mutada pela aPC, de tal forma que a capacidade pró-coagulante do factor V é muito maior do que na ausência daquela mutação, e desta forma verifica-se um estado de hipercoagulação intravascular com aumento da ocorrência de coagulopatias como a trombose venosa profunda.



A incidência, na população, do factor V de Leiden varia com a etnia da população alvo e atinge 20% em portadores de doenças trombóticas.


A maioria das pessoas portadoras da mutação do factor V de Leiden nunca apresentarão qualquer sintomatologia daí decorrente. A primeira indicação de um doente apresentar a mutação é a ocorrência de trombose.


Doentes com a mutação do factor V de Leiden devem fazer o teste da resistência à proteína C activada sendo que se o resultado mostrar haver resistência à proteína C activada, então é muito provável, quase certo, que a mutação do factor V de Leiden está presente. Se o doente está a fazer terapêutica anticoagulante, e dado os anticoagulantes interferirem com o teste da resistência à aPC, então este teste não tem indicação de ser realizado. Neste caso apenas o teste genético se justifica.

Não está indicado fazer o teste de despiste da mutação do factor V de Leiden a recém nascidos bem como às crianças, se estas não apresentarem sintomatologia que aponte para a patologia. O despiste do factor V de Leiden apenas se torna recomendável em adultos.





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