Factor
V de Leiden
Trombofilia
é uma solução patológica em que há aumento da coagulação
tendendo para a ocorrência de trombose.
Factor
V de Leiden é a designação atribuída à mutação do factor V. É
uma alteração genética autossómica dominante, com penetrância
incompleta, hereditária, em que a proteína C activada tem interferência e que origina uma situação predisponente à
hipercoaguabilidade e assim à trombose. A mutação verificada é
uma substituição, no gene, de uma guanina por uma adenina com
correspondente substituição na proteína de uma arginina por uma
glutamina.
Vários
polimorfismos existem, dado a posição do nucleotídeo mutado não
ser sempre a mesma, podendo estar na posição 1691 ou 1746 e isto
afecta a posição do aminoácido envolvido que pode ser 506 ou 534.
Dado que este aminoácido é, geralmente, o local de clivagem
utilizado pela aPC, a mutação previne inactivação eficaz do
factor V.
A
mutação do factor V de Leiden é a patologia hereditária de
hipercoaguabilidade mais frequente na Eurásia, tendo sido
primeiramente identificada em Leiden, Holanda, e daí o seu nome,
apresentando-se em cerca de 5% desta população, sendo menos
frequente em hispânicos e afrodescendentes e rara em asiáticos.
Fisiopatologia
O
factor V é um cofactor que permite a activação da trombina pelo
factor X e, deste modo, converter o fibrinogéneo em fibrina e assim
a formação do coágulo sanguíneo. A proteína C activada ( aPC )
tem funções de anticoagulante natural, limitando a extensão da
coagulação ao necessário para parar a hemorragia e diminuindo a
acção do factor V.
O
factor V de Leiden é uma mutação autossómica dominante resultando
numa maior dificuldade em desactivar o factor V pela proteína C
activada e, deste modo, a coagulação torna-se excessiva com
formação de trombose.
O
gene codificador do factor V de Leiden é o gene F5 localizado no
exon 10 do cromossoma 1.
Epidemiologia
Verifica-se
a presença de factor V de Leiden em até 30% dos pacientes que
apresentam trombose venosa profunda ou embolia pulmonar e essa mutação
aumenta o risco de desenvolver esta situação de coagulopatia em
50-100 vezes comparativamente com os que não a possuem. A
homozigotia para o factor V de Leiden aparece em apenas 1% da
população. Tabagismo e anticoncepcionais, principalmente à base de
estrogéneos, aumentam o risco de coagulopatia e tromboembolismo.
Diagnóstico
Exames
ao DNA diagnosticam com precisão a presença do factor V de Leiden,
sendo possível diagnosticar a sua ausência ou, no caso da presença,
a heterozigotia ou homozigotia.
Problemas
associados à presença de factor V de Leiden podem ser observados
como AVC, AIT, enfarte de miocárdio, embolia pulmonar, trombose
venosa profunda ou outros. Diagnosticado o problema há que mudar de
hábitos de vida, manter-se bem hidratado, abolir o tabagismo, fazer
exercício físico regularmente, evitar hormonoterapia tanto como
anticoncepcionais ou de reposição, fazer terapêuticas para
patologias concomitantes como hipertensão, asma ou diabetes entre
outras. Mulheres com esta mutação apresentam risco aumentado de
aborto.
Há
que ter atenção ao uso da vitamina K dado esta ser antagonista da
warfarina. Há que ter o INR controlado e vigiado regularmente.
O
efeito hipercoagulante que se verifica nesta situação patológica,
quase se restringe ao território venoso onde se verifica a
ocorrência de trombose venosa profunda, podendo originar embolia
pulmonar. É uma situação extremamente rara a ocorrência de
coágulos arteriais e esta pode dar origem a enfarte do miocárdio e
AVC ou AIT.
Na
presença de factor V de Leiden verifica-se um aPTT encurtado.
Complicações na gravidez como nado-morto, aborto, recém-nascido de
baixo peso, pré-eclampsia e descolamento de placenta são mais
frequentes em mulheres que apresentam a mutação do factor V de
Leiden comparativamente com aquelas que não possuem esta mutação.
O
sistema de coagulação é constituído por vários componentes
denominados factores da coagulação que funcionam em cascata. Este
sistema deve ser regulado. Anticoagulantes são substâncias químicas
antagonistas dos factores de coagulação que têm a capacidade de
fazer a clivagem dos factores de coagulação e desta forma inactivar
estes factores, impedindo-os de originar a formação da fibrina.
Na
presença do factor V de Leiden, o factor V é clivado, mas de forma
muito mais lenta do que na sua forma não mutada pela aPC, de tal
forma que a capacidade pró-coagulante do factor V é muito maior do
que na ausência daquela mutação, e desta forma verifica-se um
estado de hipercoagulação intravascular com aumento da ocorrência
de coagulopatias como a trombose venosa profunda.
A
incidência, na população, do factor V de Leiden varia com a etnia
da população alvo e atinge 20% em portadores de doenças
trombóticas.
A
maioria das pessoas portadoras da mutação do factor V de Leiden
nunca apresentarão qualquer sintomatologia daí decorrente. A
primeira indicação de um doente apresentar a mutação é a
ocorrência de trombose.
Doentes
com a mutação do factor V de Leiden devem fazer o teste da
resistência à proteína C activada sendo que se o resultado mostrar
haver resistência à proteína C activada, então é muito provável,
quase certo, que a mutação do factor V de Leiden está presente. Se
o doente está a fazer terapêutica anticoagulante, e dado os
anticoagulantes interferirem com o teste da resistência à aPC,
então este teste não tem indicação de ser realizado. Neste caso
apenas o teste genético se justifica.
Não
está indicado fazer o teste de despiste da mutação do factor V de
Leiden a recém nascidos bem como às crianças, se estas não
apresentarem sintomatologia que aponte para a patologia. O despiste
do factor V de Leiden apenas se torna recomendável em adultos.
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