sábado, junho 18, 2016

Modificação da microbiota intestinal provocada pelo uso de inibidores da bomba de protões

Modificação da microbiota intestinal provocada pelo uso de
inibidores da bomba de protões

A utilização de inibidores da bomba de protões tem sido associada a um incremento do risco de colonização por Clostridium difficile.
Foi observada uma diminuição de Bacteroidetes e um aumento de Firmicutes nos doentes tratados com inibidores da bomba de protões. Holdemania filiformis apresentam-se aumentadas e Pseudoflavonifractor capillosis diminuído nos doentes em que os inibidores da bomba de protões são administrados.
As alterações das quantidades relativas dos Firmicutes e Bacteroidetes, provocadas pela utilização dos inibidores da bomba de protões, pode predispôr ao aparecimento de infecções por Clostridium difficile.

Inibidores da bomba de protões são medicamentos utilizados em situações como refluxo gastroesofágico e úlcera péptica, diminuindo drasticamente a secreção ácida gástrica. Esta diminuição da secreção ácida pode ter influência significativa na sobrevida dos organismos sensíveis ao pH do ambiente envolvidos nas infecções entéricas, como as infecções provocadas por E. coli enterotóxica, Campylobacter jejuni ou Salmonella spp.
Os inibidores da bomba de protões têm a capacidade de induzir modificações na microbiota fecal podendo, desta maneira, ser originado um ambiente mais receptivo à colonização e posterior infecção por Clostridium difficile.
Indivíduos a fazerem inibidores da bomba de protões comparativamente com outros a não fazerem este tratamento apresentam abundância diferencial das bactérias fecais. A abundância de Bacteroidetes apresenta-se inferior naqueles a fazerem inibidores da bomba de protões quando comparados com os não utilizadores desta droga e o contrário acontece com os Firmicutes.

Com o uso dos inibidores da bomba de protões verifica-se que a relação Firmicutes/ Bacteroidetes aumenta, verificando-se o mesmo com outros géneros e espécies bacterianas. O uso deste tipo de medicamento, com as consequentes alterações na microbiota intestinal, proporciona uma compreensão melhor sobre a relação existente entre os inibidores da bomba de protões e as infecções intestinais, nomeadamente as a Clostridium difficile, verificando-se um aumento para cerca do triplo destas infecções com os inibidores da bomba de protões.
Relação dose-resposta, em que a resposta é o surgimento de infecção intestinal, também se observou ser maior com o uso de uma dose maior, diminuindo esta resposta com o uso de antagonistas dos receptores H2. A recorrência das infecções também aumenta com o uso dos inibidores da bomba de protões o que sugere que estas drogas têm interferência na acção dos antibióticos que são utilizados no combate à infecção por Clostridium difficile.

Dado que o Clostridium difficile é resistente à destruição provocada pela acidez gástrica, é improvável que a infecção a Clostridium difficile associada ao uso de inibidor da bomba de protões seja resultado unicamente de uma sobrevivência aumentada dos esporos ingeridos na travessia do estômago. Verifica-se, no entanto, que os inibidores da bomba de protões são capazes de aumentar a proliferação do Clostridium difficile no cólon se a subida do pH gástrico afectar de modo diferencial a capacidade de sobrevivência de outros microorganismos levando a modificação da microbiota fecal que proporcionam mais o desenvolvimento de infecção a Clostridium difficile. Alterações da microbiota intestinal secundárias ao uso dos inibidores da bomba de protões são capazes de predispôr a infecções intestinais a Clostridium difficile. Estas drogas causam efeitos na microbiota semelhante aos causados por outros factores de risco estabelecidos para infecções pelo Clostridium difficile. Organismos específicos são detectados entre os doentes a fazerem inibidores da bomba de protões e têm sido demonstrados originar metabolitos capazes de promover a colonização e proliferação do Clostridium difficile ou diminuirem os microorganismos competidores dessa bactéria Clostridium difficile.

Indivíduos que desenvolvem infecções por C. difficile apresentam uma diminuição da diversificidade α da microbiota fecal ( considera-se diversificidade α a diversificidade da microbiota dentro duma mesma amostra de fezes ) comparativamente com indivíduos saudáveis, podendo haver um aumento de Firmicutes, especialmente Enterococcus, Lactobacillus, bem como uma diminuição de Bacteroidetes e diminuição de Clostridiales Incertae SedisXI, um Clostridium não toxigénico inibidor competitivo do C. difficile.
Clindamicina e β-lactâmicos, antibióticos fortemente responsáveis pela proliferação de C.difficile, também originam deplecção de Bacteroidetes e aumento de cocos Gram positivos, principalmente Firmicutes.

Inibidores da bomba de protões reduzem de forma acentuada a Actinobacteria, e esta diminuição leva a um aumento da susceptibilidade à lesão intestinal induzida pelo NSAID ( anti-inflamatórios não esteróides ), sugerindo que há uma maior susceptibilidade às infecções provocada pela modificação da microbiota secundária ao uso dos inibidores da bomba de protões.


De referir ainda que muitas bactérias existentes no cólon são capazes de sintetizar o butirato, sendo este capaz de causar a inibição do crescimento do Clostridium difficile e assim a colonização do cólon é parada, enquanto que a diminuição do número de organismos produtores de butirato associa-se a uma maior colonização com Clostridium difficile.

Sem comentários:

Enviar um comentário