Anti-inflamatórios
não esteróides ( AINEs)
Inibidores
das ciclooxigenases ( COX-1 e COX-2 )
Prostaglandinas,
são mediadores lipídicos libertados por quase todas as células em
resposta a estímulos químicos, mecânicos, hormonais ou outros.
A síntese
dos prostanóides passa por 3 fases sucessivas:
- formação e libertação do ácido araquidónico a partir dos fosfolípidos da membrana, pela acção das fosfolipases
- transformação do ácido araquidónico em prostanóides intermediários ( PgG2 e PgH2 ) designadas endoperóxidos cíclicos e instáveis
- metabolização dos prostanóides intermediários em prostaglandinas ou prostanóides pela acção de isomerases específicas de tecidos e tipos celulares, formando tromboxano A2, PgI2, PgE2, PgF2α e PgD2.
A síntese
das prostaglandinas é regulada pelas enzimas prostaglandinas
endoperóxido redutases, também chamadas de ciclooxigenases ( COX ),
existentes em várias isoformas, nomeadamente COX-1, COX-2, COX-3,
COX-1a e COX-1b. A COX-1 tem o seu gene no cromossoma 9, enquanto
que o COX-2 tem o seu gene no cromossoma 1. A COX-1 é responsável
pela síntese das prostaglandinas que se associam a eventos
fisiológicos, como sejam a integridade da mucosa gástrica e fluxo
sanguíneo renal. Já a COX-2 relaciona-se com a resposta
inflamatória. Os inibidores selectivos da COX-2 ( COXIB ) apresentam
acção anti-inflamatória com reduzida toxicidade renal e
gastrointestinal. Recentes estudos demonstram que as prostaglandinas
formadas pelos COX-1 e COX-2 são importantes para a protecção das
células da mucosa gástrica e também para o funcionamento renal
normal, por regularem o fluxo sanguíneo renal, bem como o tonus
vascular. Também, dado que a síntese da prostaciclina, pelo endotélio, é realizada pela COX-2, a inibição desta enzima (
COX-2 ) pode originar alterações trombóticas.
Na resposta
inflamatória, mediadores proteicos como as citoquinas, e mediadores
lipídicos como as prostaglandinas, em conjunto com substâncias
libertadas localmente, como histamina, bradicinina e substância P,
são responsáveis pela manutenção e amplificação do processo
inflamatório.
Dentre os
muitos mediadores químicos associados à evolução e amplificação
da resposta inflamatória, as prostaglandinas possuem papel de
destaque, regulando o fluxo sanguíneo e a resposta inflamatória. A
síntese de prostaglandinas, no decurso do processo inflamatório é
aumentada, tanto localmente como ao nível do sistema nervoso
central, contribuindo assim para a sensação de dor existente, além
de outra sintomatologia como febre, anorexia e alteração do padrão
do sono.
As
prostaglandinas são derivados do ácido araquidónico e outros
lípidos poli-insaturados, libertadas por estimulação química,
mecânica ou de outro tipo, a partir dos fosfolípidos da membrana,
pela acção da fosfolipase A. As ciclooxigenases promovem a
oxigenação e ciclização do ácido araquidónico em
prostaglandinas, um endoperóxido instável. As mesmas COX reduzem a
prostaglandina G2 em prostaglandina H2, sendo esta reduzida em
diversas prostaglandinas, nomeadamente PgE2, PgD2, PgF2,
prostaciclina ( PgI2 ) e tromboxano A2, que em conjunto se denominam
de prostanóides ou eicosanóides. Destes prostanóides, a PgE2 e a
PgI2 são os principais mediadores inflamatórios. Estas substâncias
são hiperalgésicas, ou seja, não causam dor directamente mas
potencializam a resposta nociceptiva induzida pela bradicinina ou
pela histamina.
A PgE2 é a
prostaglandina mais abundante no organismo humano, e exerce a sua
acção através de 4 tipos de receptores denominados EP1, EP2, EP3 e
EP4. Os prostanóides exercem os seus efeitos em receptores ligados à
proteína G e classificados como receptores EP, DP, IP, FP e
TP, consoante os seus ligantes
prostanóides, e que se expressam em muitos tecidos e tipos celulares. Dos
receptores EP verifica-se que, enquanto os receptores EP3 e EP4 se
encontram em quase todos os tipos celulares, já os EP1 e EP2 estão
restringidos aos rins, estômago, útero e sistema nervoso central. A
activação dos receptores EP2, EP3, EP4, DP e IP determina elevação
da concentração do cAMP intracelular, enquanto que a activação de
EP1, FP e TP aumentam a mobilização intracelular de cálcio com
aumento de concentração intracelular deste ião.
As
isoenzimas ciclooxigenases são as responsáveis por um dos passos
enzimáticos da biossíntese dos prostanóides. As COX são enzimas
associadas à membrana. A COX-1 induz a produção de prostaglandinas
envolvidas na regulação de funções fisiológicas, como sejam a
protecção das células da mucosa gástrica, homeostasia renal e
função plaquetária. Já a COX-2, expressa em resposta a estímulos
inflamatórios e mitogénicos, está envolvida na síntese das
prostaglandinas da resposta inflamatória. Estas funções fazem com
que a inibição das COX-2 seja responsável pelos efeitos
terapêuticos das AINEs, enquanto que a inibição da COX-1 é
responsável pela toxicidade desses mesmos AINEs.
No entanto,
estudos recentes parecem evidenciar que cada uma das COX participa no
processo inflamatório, cada uma sob circunstâncias particulares.
Recentemente,
foram adicionadas à família mais 3 membros, variantes da COX-1,
nomeadamente COX-3, COX-1a e COX-1b.
Durante a
resposta inflamatória, verifica-se aumento da expressão de
fosfolipase A2, enzima que a partir dos fosfolípidos da membrana
sintetiza as prostaglandinas, e COX-2. Os AINEs inibem a síntese de
prostanóides na periferia, prevenindo a sensibilização dos
nociceptores pela PgE2.
Tanto os
efeitos terapêuticos como os indesejáveis são devidos à inibição
da síntese das prostaglandinas. Por este motivo se pesquizaram
inibidores selectivos dos COX-2 com o intuito de obter menores
efeitos indesejáveis pela inibição dos COX-1.
Os
inibidores selectivos da COX-2 ( COXIB ) apresentam maiores riscos
cardiovasculares do que os inibidores não selectivos, incluindo
enfarte do miocardio, e isto parece ser devido a que os COXIB
previnem a sintase da prostaciclina, PgI2, que tem propriedades
antitrombóticas, pelas células endoteliais enquanto que a síntase do tromboxano A2 ( agente pró-trombótico ) pelas plaquetas não é
afectada.
Uma resposta
inflamatória plena é sustentada por prostanóides gerados tanto
pela COX-1 quanto pela COX-2.
As
prostaglandinas, principalmente a PgE2, também contribuem para a
função renal através da regulação de fluxo sanguíneo e do tônus
vascular. As prostaglandinas E2 são geradas tanto pela COX-1 como
pela COX-2. A inibição selectiva da COX-2 pelas COXIB bloqueia a
produção renal e sistémica da PgI2, alterando a excreção do
sódio, determinando o aparecimento de edemas e aumento da tensão
arterial.
Além do
envolvimento nos processos inflamatórios, a COX-2 está envolvida
também no crescimento e formação tumoral, o que leva a pensar que
os inibidores da COX-2 podem ter indicações terapêuticas nos casos
dos tumores..
As COX são
isoenzimas que embora sejam idênticas entre si, com uma homologia de
60%, apresentam alguma diferenciação de acções. Os prostanóides
sintetizados com o auxílio de COX-1 diferem dos sintetizados pela
COX-2 conforme o tipo celular em causa, e o mesmo prostanóide
sintetizado pelo COX-1 não tem exactamente os mesmos efeitos que
quando sintetizado com o auxílio de COX-2.
As AINEs
possuem muito maior acção inibidora dos COX-1.
Os COXIB,
para além dos efeitos cardiovasculares a que se associam ( incluindo
enfarte de miocárdio, trombose, hipertensão arterial ou hipertensão
sistólica isolada ), também parecem estar implicados em situações
como edema, hepatotoxicidade e distúrbio visual agudo temporário..
Os AINEs inibem os COX-1 e COX-2 presentes nos sítios gástricos e renais (
COX-1 ) responsáveis pela síntese das prostaglandinas que ali
exercem acção protectora dos tecidos e nos locais de inflamação (
COX-2 ). A inibição da COX-1 leva ao aparecimento de efeitos
indesejáveis a nível gástrico e renal. Os AINEs afectam
directamente a acção dos COX, seja por modificarem as ligações
covalentes da enzima, seja por competirem com o substracto pelo sítio
activo.
Os COXIB
interferem no mecanismo de reparação óssea visto a COX-2 regula o
processo de osteogénese.
A COX-2 ou
ciclooxigenase indutível ou patológica é produzida em resposta a
uma variedade de estímulos pró-inflamatórios, e assim a sua
concentração é significativamente aumentada. A COX-2 tem
importante papel na diferenciação osteoblástica, participando na
actividade osteogénica. Parece, tanto a COX-1 como a COX-2, estarem
envolvidas com a osteogénese, sendo que a COX-2 apresenta essencial
função na maturação dos osteoblastos após o início do processo
de formação óssea. A COX-2 é interveniente tanto no processo de
ossificação endocondral como intramembranoso. Também os
inibidores selectivos da COX-2 interferem na reparação óssea, dado
que os metabolitos da COX-2 interagem com as proteínas ósseas
morfogenéticas no processo de reparação do tecido ósseo. Algumas das proteínas ósseas morfogenéticas ( BMP-2, BMP-4 e BMP-7 ) além
de estimularem a diferenciação osteoblástica de células
osteoprogenitoras também transdiferenciam células mesenquimatosas
não osteogénicas em células da linhagem osteoblástica. Assim o
uso crónico de inibidores selectivos de COX-2 interfere
negativamente no metabolismo ósseo.
A
prostaglandina H2 sintase, ou ciclooxigenase, é uma glicoproteína
dimérica integral da membrana, predominantemente presente no
retículo endoplasmático, e de fulcral importância na via
metabólica da cascata do ácido araquidónico. Actualmente
conhecem-se 5 formas de COX, nomeadamente a COX-1, COX-2, COX-3,
COX-1a e COX-1b. Estas isoformas consistem num canal estreito e longo, muito hidrofóbico, com um hairpin ( estrutura em forma de gancho )
no final, e uma massa molecular de 71 kDa. Possuem ainda um local
activo idêntico para o substracto natural.
A
ciclooxigenase é importante ainda na síntese de mediadores
biológicos chamados prostanóides e a sua inibição farmacológica
alivia os sintomas inflamatórios e a dor.
Os AINES (
ácido acetilsalicílico, diclofenato de sódio, etc. ) inibem
directamente as COX de forma não selectiva, tanto COX-1 como COX-2.
Já os anti-inflamatórios esteróides, ou glicocorticóides, inibem
a fosfolipase A2, fechando toda a cascata da inflamação e
indirectamente inibem dessa forma a ciclooxigenase.
Os AINEs
podem reduzir o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração
glomerular, principalmente em doentes hipovolémicos, e isto deve-se
à inibição da produção de prostaglandinas que são responsáveis
pela vasodilatação. A inibição dessa vasodilatação renal é a
responsável pelos efeitos laterais a nível renal dos AINEs.
Pensa-se ainda que as prostaglandinas, a nível renal, podem inibir a
reabsorpção do ião cloreto e reduzir a acção da hormona
antidiurética no rim. A COX-2 é necessária para o desenvolvimento
normal do rim. Tanto a COX-2 como a COX-1 são encontradas na
vasculatura renal, mácula densa e células intersticiais do rim.
Autacóides
são substâncias rapidamente sintetizadas como resposta a estímulos
específicos, e que actuam rapidamente no próprio local onde são
sintetizadas, permanecendo activas apenas por um curto período de
tempo antes de serem degradadas. São importantes para a manutenção
da homeostasia. Executam diversas funções, tanto na saúde como nos
estados patológicos e intervêm nos processos fisiológicos e
patológicos que servem de base à farmacoterapia. Autacóides mais
conhecidos incluem histamina, serotonina, angiotensina, bradiquinina,
calidina e substância P. São substâncias hormonais locais e
funcionam como agentes auto-farmacológicos. Os eicosanóides ou
prostanóides são uma família quimicamente distinta de autacóides,
derivados do ácido araquidónico, com funções críticas na
fisiologia cardiovascular, inflamatória, reprodutiva e do
metabolismo do osso.
Os
eicosanóides estão envolvidos em diferentes vias metabólicas que
desempenham papéis diferentes na inflamação e sinalização
celular, sendo que todas estas vias envolvem o metabolismo do ácido
araquidónico.
O ácido
araquidónico provem do ácido linoleico, um composto exclusivamente
proveniente da dieta. No interior da célula, o ácido araquidónico
é esterificado a fosfatidilcolina ou fosfatidiletanolamina. O ácido
araquidónico é libertado dos fosfolípidos celulares pela
fosfolipase A2 sendo esta a primeira etapa da cascata do metabolismo
do ácido araquidónico, e que determina a velocidade do processo de
formação dos eicosanóides.
A
fosfolipase A2 apresenta uma isoforma ligada à membrana e solúvel
chamada de fosfolipase secretora ( sPLA2 ), e outra isoforma
citoplasmática ( cPLA2 ) que se diferenciam entre si pelo peso
molecular, sensibilidade ao pH, características de regulação e
inibição, necessidade de cálcio e especificidade de substracto.
Devido ao facto de haverem múltiplas isoformas, é possível a
regulação estrita da enzima nos diferentes tecidos produzir
respostas biológicas selectivas.
As isoformas
de fosfolipase A2, com papel importante na inflamação, são
estimuladas por diversas citoquinas, nomeadamente α-TNF,
GM-CSF e γ-INF,
factores de crescimento como o factor de
crescimento da epiderme e a cascata MAP cinase-proteinocinase C. Os
glicocorticóides actuam por induzirem a síntese de lipocortinas,
uma família de proteínas reguladoras da fosfolipase A2, sendo que
uma das lipocortinas, a anexina 1, faz a mediação de algumas acções
anti-inflamatórias dos glicocorticóides.
O ácido
araquidónico intracelular é convertido pelas enzimas
ciclooxigenase, lipooxigenase e epooxigenase do citocromo; a enzima
específica envolvida determina o eicosanóide local produzido. A via
da COX leva à produção de prostaglandinas, prostaciclinas e
tromboxanos; a via da lipooxigenase origina os leucotrienos e
lipoxinas enquanto a via do epooxigenase leva à produção da
epoxieicosatetraenóicos. As COX são enzimas glicosiladas,
homodiméricas, ligadas à membrana, e que contêm heme, ubíquitas nos
animais. Embora a COX-1 e a COX-2 sejam muito semelhantes, elas
diferem entre si no perfil celular, genético e fisiológico.
Cada COX
cataliza 2 reacções sequenciais, sendo a primeira reacção ( da
ciclooxigenase ) uma ciclização, dependente de oxigénio, do ácido
araquidónico a prostaglandina G2, e a segunda reacção ( da
peroxidase ) que consiste na redução da PgG2 a PgH2. As COX-1 e
COX-2 produzem diferentes produtos eicosanóides devido a diferenças
na localização celular, perfil de regulação, expressão nos
tecidos e exigência de substracto. A COX-1 actua em actividades
fisiológicas ou de manutenção como homeostasia vascular,
manutenção de fluxo sanguíneo renal e gastrointestinal, função
renal, proliferação da mucosa intestinal, função plaquetária e
anti-trombogénese. Já a COX-2 tem funções na inflamação,
febre, dor, transdução de estímulos dolorosos na medula espinal,
mitogénese particularmente no epitélio gastrointestinal, adaptação
renal a situações de stress, deposição do osso trabecular,
ovulação, placentação e contracções uterinas no trabalho de
parto.
A forma como
a COX-1 protege a mucosa gastrointestinal é pela sua acção em
estimular a produção de muco, e é por esta acção ser inibida
pelos inibidores da COX-1 que estes agentes farmacológicos atacam o
tracto gastrointestinal.
A COX-2 só
entra em acção em resposta a um estímulo lesivo químico,
mecânico, hormonal ou outro, com a finalidade de aumentar a produção
da prostaglandina E que aumenta a sensibilidade à dor.
Dado que a
COX-2, para além da PgE2, também cataliza a produção de outra
prostaglandina ( a prostaciclina ou PgI2 ) que protege o sistema
cardiovascular, por diminuir a formação de coágulos e relaxar os
vasos sanguíneos, a sua inibição acarreta sintomatologia
cardiovascular que pode ser grave.
As
fosfolipases A2 são activadas directamente por um estímulo físico,
químico ou hormonal, ou a activação faz-se pelo aumento das
concentrações citosólicas do cálcio. Estímulos físicos, ao
alterarem a membrana celular, produzem um influxo de iões de cálcio
que activa a fosfolipase A2. Existem várias fosfolipases, mas a
fosfolipase A2 citosólica tipo IV parece ser a que tem maior
afinidade pelo ácido araquidónico e, por isso, a principal enzima
envolvida na libertação desse substracto.
Participação
da COX-2 nos diferentes tecidos e órgãos
- SNC
1.1.
Percepção da dor: a COX-2 expressa-se constitutivamente no corno dorsal da espinal medula, aumentando após
um trauma, facilitando a transmissão de impulsos nociceptivos
1.2.
Doença de Alzheimer: existe risco reduzido
de doença de Alzheimer em usuários de AINEs, que os tomam há mais
de 2 anos, o que sugere que a COX pode estar envolvida em mecanismos
neurodegenerativos. Na doença de Alzheimer, a COX-2 está superexpressa nas zonas do cérebro relacionadas com a memória; a COX-2 também se relaciona com o depósito de proteína β-amiloide.
- Rim: a COX-2 tem um papel fisiológico nas funções renais, verificando-se aumento de COX-2 na restrição de sódio
- Sistema cardiovascular: a COX-2 endotelial confere vasoprotecção e tem acção anti-aterogénica através da prostaciclina, potente vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária
- Sistema gastrointestinal: COX-2, apesar de presente na mucosa gastrointestinal, tem uma acção restrita nesta localização, sendo a citoprotecção exercida predominantemente pela COX-1.
Os AINEs
podem ser selectivos COX-1, COX-2 ou não selectivos. Para estipular
esta selectividade temos que usar a razão entre o IC50 para COX-2
sobre o IC50 para COX-1, sendo que AINEs com esta razão inferior a 1 são altamente selectivos para COX-2 ( significa que a dose
necessária para bloquear COX-2 é menor que a dose necessária para
bloquear COX-1 ), enquanto que se a razão
for maior que 1, os inibidores podem ser considerados selectivos para COX-1, enquanto que os que
apresentam esta razão igual a 1 são AINEs não selectivos.
O mecanismo
de acção dos AINEs, como anti-inflamatório, é o da inibição da
síntese das prostaglandinas originadas da COX-2. Na verdade, a
isoforma COX-2 é a enzima predominante envolvida na produção de
prostaglandinas no processo inflamatório. Prostanóides PgE2 e PgF2
produzem sintomatologia local e sistémica da inflamação, como seja
a vasodilatação, hiperémia, aumento da permeabilidade vascular,
edema, dor e migração leucocitária aumentada, intensificação dos
efeitos dos vasodilatadores da inflamação com histamina,
bradicinina e 5-hidroxitriptamina. Os AINEs inibem tanto o COX-1 como
o COX-2, exceptuando os selectivos do COX-2, os COXIBs.
Os
inibidores selectivos da COX-2 apresentam baixa solubilidade, pelo
que não podem ser administrados por via parentérica.
As
prostaglandinas podem agir de forma parócrina ou autócrina através
de 2 classes de receptores: receptores de membrana ligados à
proteína G, e receptoress nucleares PPAR ( peroxisome proliferator
activated receptors ).
Embora
semelhantes, as isoformas da ciclooxigenase, COX-1 e COX-2,
apresentam características distintas, nomeadamente:
- sequência genética diferente para cada isoforma, apesar da reacção enzimática por elas catalizada ser idêntica
- o sítio de ligação do agente inibidor, na isoforma COX-2, é estruturalmente cerca de 25% maior que o da COX-1, apresentando também local de ligação secundário além do sítio catalítico
- COX-1 está presente na maioria dos tecidos, e em situações de inflamação a actividade de COX-1 não parece ser alterada; a COX-2 encontra-se em menores quantidades que a COX-1 em tecidos como o cérebro, intestino, rins, testículos, tiroide, pâncreas e em situações de inflamação a sua expressão aumenta 20 vezes ou mais. A COX-3 está presente no SNC, coração e aorta.
- COX-2, para além de actuar no metabolismo do ácido araquidónico, também actua no metabolismo dos ácidos linolénico e linoleico, compostos omega 6.
Da família
das ciclooxigenases, foi identificada ainda a COX-3, que não produz
prostanóides pró-inflamatórios mas sim substâncias
anti-inflamatórias que podem explicar os períodos de remissão nos
casos de doenças inflamatórias crónicas.
Quase todos
os anti-hipertensivos, exceptuando os bloqueadores dos canais de
cálcio e os antagonistas da angiotensina II, precisam de síntese
normal de prostaglandinas vasodilatadoras ( PgI2 ) para completa
actividade anti-hipertensiva. Os AINEs, por inibirem a COX-1 e por
esta acção diminuírem a produção das prostaciclinas, impedem a
completa efectividade terapêutica de muitos anti-hipertensivos,
inclusive diuréticos.
A medula
renal é o local de maior síntese de prostaglandinas, e apresenta
grande expressão COX-1, e também COX-2. A COX-1 predomina nos
ductos colectores medulares, enquanto a COX-2 apresenta-se
principalmente em células medulares intersticiais.
Prostaglandinas
derivadas da COX-2 podem ter um papel fundamental na manutenção do
fluxo sanguíneo medular renal e na excreção de sódio. A medula
renal interna parece apresentar papel fundamental na homeostasia
hidroelectrolítica. As prostaglandinas medulares intersticiais
modulam a reabsorpção de sódio e água. A perda da acção
inibidora do tônus da PgE2 ( derivada da COX-2 ) na reabsorpção do
sódio, no ramo ascendente da ansa de Henle e ducto colector,
contribui para a retenção de sódio e resistência à terapêutica
anti-hipertensiva. A COX-2 participa de forma activa no
desenvolvimento renal normal. Parece também que a COX-2 tem acção
no sistema renina-angiotensina.
Lesões
agudas gastrointestinais são dos efeitos laterais mais frequentes
provocados pelos AINEs convencionais. Perfuração e ulceração
gástrica apresenta uma incidência substancialmente mais elevada em
doentes usando AINEs do que em doentes que os não usam. Maior
expressão de COX-2 nas células epiteliais gástricas, induzindo a
formação de prostaglandinas que têm papel fundamental na
cicatrização das úlceras de estômago, é verificada em casos de infecções ou úlceras gástricas já formadas. Desta forma
tratamento com COXIBs pode atrasar a cura das lesões gástricas
nestas circunstâncias ou ainda reduzir a capacidade de defesa diante
a presença de microorganismos invasores, dado que prostaglandinas
como a PgE2 actuam estimulando a secreção de fluídos e cloretos
pela mucosa, o que impede a invasão de bactérias na circulação
sistémica.
Dado que as
prostaglandinas apresentam acção protectora das células
pancreáticas, a inibição da COX pelos AINEs tem a potencialidade
de originar uma pancreatite associada a estes inibidores da COX.
A manutenção
do fluxo sanguíneo normal, e a apropriada resposta trombogénica à
lesão vascular, necessitam dum equilíbrio entre a acção da
prostaciclina ( PgI2 ) endotelial e a actividade do tromboxano A2
plaquetário. As plaquetas não podem produzir enzimas, nomeadamente
a COX-1, em situações de activação, dado serem desprovidas de
núcleo, sendo o tromboxano A2 o principal eicosanóide plaquetário
originado pelo COX-1. O tromboxano A2 tem acção agregadora
plaquetária, vasoconstrição e estimula a proliferação do músculo
liso. Em situações de activação plaquetária há uma maior
expressão de COX-2 pelas células do endotélio, o que resulta num
aumento da produção da PgI2 com acção vasodilatadora,
antiagregante e inibidora da proliferação do músculo liso
vascular, e que contrabalança o tromboxano A2 formado nestas
situações.
COXIBs, que
suprimem a produção de PgI2 sem acção sobre o tromboxano A2,
levam a um desequilíbrio favorável aos factores pró-trombóticos ,
que levam à agregação plaquetária e vasoconstrição, com
tendência a fenómenos de oclusão vascular e isquémia tissular.
Foi
evidenciado papel da COX-2 no desenvolvimento do sistema nervoso.
Níveis de COX-2 aumentam em situações de convulsões.
Prostaglandinas
e COX-2 têm sido relacionadas com o trabalho de parto, ovulação e
implantação. Inibição da COX-2 pode explicar situações de
infertilidade secundária ao atraso ou bloqueio da rutura folicular
associadas ao uso de AINEs.
Tumores
colorrectais, gástricos e esofágicos expressam altos níveis de
COX-2, ao contrário dos níveis praticamente nulos da mucosa
daqueles órgãos saudáveis. COX-2 contribui para o potencial
cancerígeno da célula epitelial gastrointestinal por levar a um
aumento da sua adesão à matriz extracelular, tornando-a resistente
à apoptose e aumentando a viabilidade do tumor. Estes factos foram
revertidos com o uso de inibidores da COX-2. Também a COX-2 mostra
relação com a regulação da angiogénese tumoral.
A
sobreexpressão da COX-2 verifica-se em tumores do cólon,
nasofaríngeos, endométrio, mama, pulmão e melanoma. A COX-2
desempenha um papel na promoção da invasão, metastização e
angiogénese de tumores já estabelecidos.
No melanoma
humano a COX-2 pode ser considerada um marcador de prognóstico, pois
verifica-se que a expressão da COX-2 se correlaciona com o tipo
histológico do tumor ( benigno ou maligno ) assim como com o
desenvolvimento e progressão do melanoma. A determinação da
imunoexpressão da COX-2 nas células neoplásicas melanocíticas da
pele permite diagnosticar tumores malignos em fase precoce.
Em contraste
com o que se verifica com a COX-2, a expressão imunohistoquímica
da COX-1 não apresenta diferença significativa entre as lesões
benignas e malignas nos casos de lesões das células melânicas da
pele.
A COX-2, que
se exprime constitutivamente no cérebro, e o seu principal
metabolito, a PgE2, participam de grande número de funções
fisiológicas cerebrais, tais como regularem o ciclo sono/vigília,
termorregulação, aprendizagem e memória. Na verdade, a PgD2 induz
o sono enquanto o estado de vigília é induzido pela PgE2.
A PgE2 é um
mediador chave nos processos de produção e dissipação do calor do
corpo humano.
A inibição
da COX-2 piora a performance de aprendizagem e diminui a capacidade
de memória em experiências bem conduzidas. Em situações de
isquémia cerebral, a inibição selectiva da COX-2 diminui o tamanho
da lesão cerebral, enquanto que quando há superexpressão de COX-2
há maior susceptibilidade ao dano causado pela isquémia cerebral.
Também nos casos de trauma crâneo-encefálico, a inibição de COX-2
se mostra neuroprotectora.
Tem sido
demonstrado que a COX-2 está relacionada com a formação de
carcinogéneos, promoção de tumores, inibição de apoptose,
desenvolvimento da angiogénese e processos de metastização. Os
inibidores da COX-2 podem, desta forma, actuar na prevenção dos
tumores, e são benéficos na diminuição do crescimento e
desenvolvimento dos cancros.
A actividade
peroxidase da COX converte pré-carcinogéneos em carcinogéneos.
Também
xenobióticos ( compostos químicos estranhos a um organismo ou
sistema biológico ) podem ser co-oxidados em agentes mutagénicos
pela actividade da peroxidase da COX. O metabolismo do ácido
araquidónico produz agentes mutagénicos. A concentração da PgE2 é
aumentada em células superexpressas de COX-2. A PgE2 pode promover a
carcinogénese, a invasão, metastização e angiogénese do tumor.