Aftas
Manifestações
clínicas intrabucais da Doença de Crohn
A
doença de Crohn é uma doença inflamatória crónica,
granulomatosa, de etiologia desconhecida mas com natureza imunológica
e factor genético interveniente no seu desencadear.
Todo
o tubo digestivo pode ser acometido pela doença de Crohn, afectando
todos os grupos etários, com predomínio de idade inicial entre os
25-30 anos e, posteriormente, na faixa etária dos 60-65 anos,
podendo ocorrer manifestações sistémicas extradigestivas. A
prevalência das lesões na cavidade bucal varia com a faixa etária,
atingindo os 2 sexos, e é mais prevalente em pessoas de raça
branca. Em cerca de 30-60 % dos casos, as lesões bucais precedem as
lesões sistémicas. Apenas em cerca de 9 % dos casos de doença de
Crohn aparecem manifestações orais ( as manifestações orais aparecem apenas em cerca de 9% dos casos de doença de Crohn, mas quando aparecem surgem antes das manifestações sistémicas em 30-60% das situações ).
Nas
fases iniciais da doença de Crohn, a sintomatologia pode ser súbtil
e dificultar, e atrasar, o diagnóstico. Os sinais e sintomas mais
frequentes da doença de Crohn são a dor abdominal, diarreia, mal
estar geral, anorexia, perda de peso, anemia e febre. A doença de
Crohn caracteriza-se por ser uma doença crónica com crises
separadas por períodos de remissão totalmente assintomáticos. As
lesões intestinais são pequenas erosões ou úlceras entremeadas
por edema submucoso e com áreas totalmente sãs entre elas.
Na
mucosa bucal atinge principalmente a região do fundo do sulco,
embora os lábios, gengivas e outros locais podem estar envolvidos.
As lesões são inicialmente úlceras focais lineares na mucosa,
semelhantes às úlceras aftosas recorrentes mas mais persistentes,
mais profundas, de forma linear e circundadas por margens
hiperplásicas.
Afta
associada a doença de Crohn
O
tratamento das lesões orais nos doentes com doença de Crohn é
feito com corticóides sistémicos ou locais, que ajudam a diminuir ou
melhorar a sintomatologia das úlceras, levando até à remissão da
sintomatologia.
As
úlceras intrabucais costumam aparecer como úlceras lineares rasas,
com centro deprimido, limites pouco elevados e nitidamente
eritematosos, mais frequentemente no fundo do sulco gengival, e que
duram mais do que as úlceras aftosas recorrentes ( mais de 15 dias
em geral ).
Leucoderma
bucal
Importante
ter em mente que, apesar das lesões ulcerosas intrabucais serem uma
manifestação de doença de Crohn que podem anteceder as
manifestações digestivas da doença, lesões semelhantes podem
ocorrer na população em geral ( inclusivé doentes com doença de
Crohn ) e nada terem a ver com a doença de Crohn. A biópsia destas
lesões em doentes com doença de Crohn, na maioria das vezes, dá
resultados inconclusivos. O tratamento da doença de Crohn deve ser
implementado, e este tratamento em geral faz desaparecer as lesões
intrabucais.
As
úlceras aftosas recorrentes ( aftas ) do tipo minor são
caracterizadas como úlceras rasas, planas, ovais, com halo
eritematoso, enquanto que as úlceras da doença de Crohn são mais
lineares. No entanto, as úlceras aftosas major
, por serem mais profundas e perderem a forma oval, assemelham-se às
das da doença de Crohn.
O edema dos lábios,
da mucosa oral e gengiva pode ser sinal de doença de Crohn.
Causas
do aparecimento das aftas
As
aftas aparecem mais no sexo feminino que no masculino e atingem mais
a faixa etária dos 10 aos 40 anos.
A
etiologia das aftas permanece desconhecida, mas nota-se uma
correlação entre o aparecimento das aftas e certos factores,
estando entre estes os seguintes:
- medicamentos: AINE's, antibióticos, ácido benzóico, antivitamina K, meprobamate, quimioterapia
- falta da higiene oral
- abuso de nutrientes aftogéneos: queijo tipo gruyère, frutos secos, nozes, castanhas, amendoins, amêndoas, chocolates, tempêros ( ketchup, vinagre, maionese, mostarda, etc.) glúten, tomate, abacaxi, café, pois são alimentos ácidos
- carência de ferro
- traumatismos químicos ou mecânicos
- vírus como herpes ou HIV
- mordedura da parte interior da bochecha
- doença de Crohn
- doença de Behçé
- stress físico ou emocional
- período menstrual
- puberdade
- gravidez ( remissão no 3º trimestre da gravidez é frequente )
- menopausa
- diabetes
- alergias
- neutropenias de diferentes etiologias
- alcoolismo
- tabagismo
- predisposição genética
- deficiência de ácido fólico, zinco, vitamina B1, B2, B6 e B12 e ferritina
- alterações hormonais
- poucas horas de sono
- Helicobacter pylori
- refluxo gastro-esofágico
As aftas são
pequenas úlceras, arredondadas a ovais, com fundo amarelado e
contorno avermelhado, que aparecem nas gengivas, bordo interno dos
lábios e bochecha e ponta da língua.
Para ajudar ao
tratamento das úlceras aftosas deve-se fazer, 2-3 vezes por dia,
gargarejos com água e sal. O fundamento deste procedimento é que,
dado as feridas da mucosa oral serem causadas pela hiperacidez
presente, o gargarejo com água salgada remove a acidez.
Alimentos como
carnes vermelhas, doces, melão ou nozes favorecem o aparecimento das
aftas. Para contrabalançar os factores por estes alimentos criados
para o favorecimento do surgimento das aftas devem-se ingerir
saladas.
A resposta
inflamatória das aftas é o resultado anormal duma resposta
imunológica dirigida à mucosa bucal. A imunopatogenia pode estar
envolvida com o desiquilíbrio imunológico desses doentes. Na
verdade, estudos demonstram haver aumento de CD4 e diminuição de
CD8.
As aftas podem ser
de 3 tipos:
- Tipo minor: o mais comum, constituindo 80-90% dos casos, são lesões pequenas, únicas ou múltiplas, ovóides a arredondadas, com base crateriforme, contorno bem definido e halo eritematoso, com exsudado amarelado e centro deprimido, com cerca de 10 mm de diâmetro e duração de 7-14 dias; afectam predominantemente a mucosa do soalho bucal, jugal e labial e menos vezes a mucosa palatina, gengival e dorso da língua
- Tipo major: são cerca de 7-10% dos casos, de diâmetro superior a 10 mm e que deixa cicatriz ao curar; pode durar até 6 semanas, localizando-se preferencialmente no palato mole e mucosa labial
- Tipo herpetiforme: são múltiplas e numerosas úlceras, de 10 a 100 ou mais, pequenas, de 1-3 mm de diâmetro, que ocorrem em um único surto e podem fundir-se, persistindo até 10 dias.
A afta provoca dor
decorrente da exposição do tecido conjuntivo altamente inervado.
Esta lesão, de etiologia desconhecida, parece decorrer de uma falha
imunológica, embora outras causas também possam ter um papel
relevante no seu surgimento. A afta é uma lesão não infecciosa, e
como tal não apresenta sinais de infecção, como seja secreção
purulenta ou microorganismos presentes na lesão.
Afta
tipo minor Afta tipo major Afta tipo herpetiforme
A lesão aftosa
apresenta 4 fases:
- Período prodrómico: dura até 24 horas e apresenta parestesias ( formigueiro ), queimor, dor ou hiperestesia sem alterações clínicas
- Estadio pré-ulcerativo: dura de 18 horas a 3 dias, com dor de intensidade variável, geralmente moderada
- Fase ulcerativa: caracterizada por áreas ulceradas, planas ou elevadas, com halo eritematoso gradualmente coberto por uma membrana cinzenta ou amarelada, e que dura 1 a 6 dias; as lesões são dolorosas
- Período de cicatrização: dura 4-35 dias consoante o tipo de úlcera.
Tentativas
de implicar microorganismos com o aparecimento das aftas não foram
bem sucedidas, havendo, no entanto, a hipótese de existirem reacções
cruzadas entre os antigéneos da mucosa oral e bactérias como o
Streptococcus sanguis.
Outros estudos, mal sucedidos neste aspecto, tentaram implicar os
vírus herpes simplex, varicela-zoster, citomegalovirus e o vírus de
Epstein-Barr.
Processos
imunológicos mediados por células, nomeadamente mononucleares,
células T e células NK, estão envolvidos, estando evidenciado
ocorrer reacções citotóxicas teciduais anticorpo-dependentes.
Também se verificou um abaixamento das IL-10.
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