Alimentos probióticos, prebióticos e simbióticos
Alimentos
probióticos, prebióticos e simbióticos são alimentos funcionais.
Consideram-se alimentos funcionais os alimentos que, além de valor
nutritivo, têm também componentes biologicamente activos que
oferecem benefícios à saúde e reduzem o risco de sofrer doenças.
Os produtos funcionais apresentam 2 grandes grupos de acção para além da nutritiva: funções de melhoria da saúde e funções de redução do risco de doença.
O facto
de que, na ausência da microflora intestinal, aumenta o transporte
de antigénios, demonstra a importância desta no sistema de defesa.
A principal função da microflora gastrointestinal é prevenir a
colonização, por microorganismos patogéneos, por competição
pelos nichos ecológicos e substractos metabólicos. O metabolismo
microbiano também fornece uma importante fonte de energia para a
parede intestinal ( aproximadamente 50% das necessidades diárias ),
através da fermentação de carbohidratos e ácidos orgânicos.
Outra função da microbiota intestinal é modular a resposta imune,
através da indução da tolerância e produção de
imunoestimulantes não inflamatórios. Probióticos e prebióticos
fortificam a microbiota intestinal.
Os
probióticos são microorganismos não patogénicos, com influência
positiva sobre a saúde ou a fisiologia do hospedeiro.
O êxito
da terapêutica probiótica manifesta-se na normalização da
permeabilidade intestinal, melhoria da função barreira imunológica
e alívio das respostas inflamatórias intestinais. Os probióticos
podem alterar a composição da flora gastro-intestinal, aumentando a
microflora benéfica com contrapartida da diminuição da patogénica,
mas esta alteração da composição da microbiota não é suficiente
para o benefício para a saúde, e, para alguns efeitos como a
imunomodulação, não é necessária. Assim postula-se que os
probióticos melhoram a saúde do hospedeiro através de factores
locais, ligados à capacidade de colonizarem a mucosa intestinal, e
por factores à distância, ligados à sua actividade de promoção
da imunidade celular e humoral.
Os
probióticos comerciais são geralmente misturas de Lactobacillus
e Bifidobacterium, ainda que também se usem outros
microorganismos, como por exemplo fungos. Os probióticos têm de ser
de origem humana, não serem patogéneos, serem resistentes a
processos tecnológicos, à acidez gástrica e aos ácidos biliares,
aderirem ao epitélio intestinal, serem capazes de persistir mesmo
que por curtos espaços de tempo no tracto gastro-intestinal,
produzirem substâncias antimicrobianas ( ácidos orgânicos, ácidos
gordos, bacteriocinas, etc.), modularem a resposta imune e
influenciarem na actividade metabólica.
Os
probióticos têm a capacidade de melhorar a digestibilidade da
lactose, e assim melhorar a intolerância a este açúcar. O
Lactobacillus acidophilus tem importante papel nesta acção.
Dois importantes mecanismos foram referenciados: digestão da lactose
pelas bactérias e trânsito intestinal mais lento, quando se ingere
iogurte, devido à sua viscosidade.
A
diarreia, associada a antibioterapia, é devida a um desiquilíbrio
microbiano com diminuição da flora endógena, responsável pela
resistência à colonização, e da capacidade fermentativa do cólon,
muitas vezes devida à proliferação de Clostridium dificille.
Efeitos benéficos foram observados com a administração de
Saccharomyces boulardii, oralmente, que actuam sobre o número
dos C. dificille e suas toxinas.
Alguns microorganismos usados como probióticos com efeitos benéficos
Lactobacillus caseii diminui a diarreia a rotavirus; reduz a ocorrência de cancro da bexiga;
acção imunomoduladora
L. plantarum alivia a sintomatologia do síndrome do intestino irritável; reduz a LDL
L. rhamnosus imunomodulação; alivia a sintomatologia da DII; tratamento e prevenção de
alergias
L. salivarium reduz a sintomatologia da DII
E. coli nissle menores recaídas da DII
Saccharomyces boulardii menores recaídas da DII
Nem todos
os probióticos possuem a capacidade de colonização e, neste caso,
está o Saccharomyces boulardii que actua de forma ainda
desconhecida mas que pode ser por interferência no sistema nervoso
ou imune intestinais, favorecendo a produção de compostos
inibidores como bacteriocinas ou seus metabolitos ( ácidos gordos de
cadeia curta, ácido láctico, ácido acético, peróxido de
hidrogénio, etc.), hormonas, neuropéptideos, citoquinas, etc. que
influenciam na secreção de água e electrólitos através do
epitélio intestinal.
O facto
de existirem múltiplos mecanismos de acção, por parte dos
probióticos, é uma vantagem importante frente aos agentes
quimioterapêuticos, já que dificulta o desenvolvimento de
resistências pelos agentes patogénicos.
Os
probióticos têm efeito benéfico na inflamação intestinal, onde
pode estar implicada como resposta imunológica anormal,
geneticamente determinada, face à microflora normal que reduziria os
níveis de Lactobacillus e Bifidobacterium.
Diversos
estudos demonstraram que alguns probióticos podem diminuir as
concentrações fecais de enzimas, mutagéneos e sais biliares
secundários que podem estar implicados no cancro do cólon.
A menor
exposição a microorganismos, e subsequente menor número de
infecções durante a infância, pode ser responsável pelo aumento
de prevalência de alergias na sociedade ocidental. De facto, a
primeira e massiva exposição, associa-se ao estabelecimento da
flora gastro-intestinal, e esta determina o desenvolvimento do
sistema imune.
A
melhoria do estado geral, ainda que pareça ser evidente, ainda não
foi estabelecida, pois faltam estudos em pessoas saudáveis. No
entanto, pelo menos em crianças, o consumo prolongado de probióticos
pode diminuir o risco de infecções. A imunomodulação, que é
atribuída aos probióticos, pode ser escassa em indivíduos
saudáveis cujo sistema imune funciona em condições óptimas.
Verificou-se que em combinação com vacinação oral os probióticos
aumentam os títulos de anticorpos.
Actualmente
usam-se os probióticos como mensageiros, que transportam
constituintes biologicamente activos ( enzimas, antigeneos, etc.) aos
lugares onde actuam no tracto gastro-intestinal. Entre as potenciais
vantagens deste processo encontram-se a protecção frente à
digestão e os ácidos gástricos e a possibilidade da sua libertação
no intestino.
Os
probióticos são geralmente ingeridos, adicionados a alimentos
lácteos, frequentemente leite, queijo ou iogurte, ainda que também
possam ser adicionados a leites infantis ou bebidas à base de soro
de leite. Também podem ser administrados como suplementos dietéticos
em comprimidos.
Em
produtos não lácteos, como alimentos infantis ou doces, onde
normalmente não se multiplicam, a sua viabilidade depende de
factores como o pH, temperatura de armazenamento e presença de
microorganismos competidores e inibidores.
A dose
diária de probióticos deverá ser de 10^9 – 10^10 bactérias
vivas para atingirem o intestino 10^8 – 10^9 bactérias vivas, dose
mínima requerida. Aquele número no entanto não exclui que as
bactérias se possam multiplicar na sua viagem pelo tracto
gastro-intestinal. O mínimo nível terapêutico efectivo é de 10^5
ufc/ml.
Os
probióticos devem ter ausência de actividade enzimática que
desconjugem os sais biliares, não podem degradar a mucosa, não
causarem agregação plaquetária ou formação de metabolitos
indesejáveis. Não podem causar patogenecidade intestinal ou
endocardite e não transportarem genes transmissíveis de resistência
aos antibióticos. Na literatura só se referem 2 casos de infecções
causadas por probióticos ainda que se assuma que ocasionalmente
poderiam dar lugar a infecções em indivíduos imunodeprimidos.
Prebióticos
são ingredientes alimentares não digeríveis, que afectam
beneficamente o hospedeiro mediante a estimulação do crescimento
e/ou actividade de uma ou um número limitado de bactérias no colon,
ou seja influencia-se na microbiota através da dieta.
A
eficácia dos prebióticos liga-se à sua capacidade de atravessar o
intestino delgado e alcançar o cólon onde são utilizados
selectivamente por um restricto grupo de microorganismos,
fundamentalmente Bifidobacterium e Lactobacillus.
Estão
entre os prebióticos a inulina, frutooligossacarídeos e outros
oligossacarídeos de origem láctea como galactooligossacarídeos,
lactulose, lactitol e lactassacarose que têm efeitos bifidogénicos.
Outros prebióticos utilizados são os oligossacarídeos de soja,
xilooligossacarídeos ( xilose com ligação β 1-4 ),
isomaltoseoligossacarídeos e oligossacarídeos transgalactosílados.
Os prebióticos não lácticos encontram-se em frutos e vegetais.
Apesar da sua origem não láctea usam-se com frequência em produtos
lácteos. A chicória é a fonte principal da inulina a partir da
qual se obtêm muitos frutooligossacarídeos. Estes prebióticos são
fibras solúveis.
A inulina
e os frutooligossacarídeos resistem à acção enzimática do
intestino delgado específica das ligações α-glicosídicas, mas
são fermentadas pelas bactérias do cólon produzindo lactato e
ácidos carboxílicos de cadeia curta fundamentalmente ácido
acético. Como consequência, verificam-se alterações na
composição da flora fecal, devidas à diminuição do pH, que
estimula o crescimento e actividade bacteriana e a produção de
ácidos gordos de cadeia curta. Um pH mais ácido favorece o
crescimento dos Lactobacillus e Bifidobacterium sobre
bactérias patogénicas.
A inulina
e a oligofrutose possuem efeito laxante dose-dependente. Ao contrário
das fibras insolúveis que são laxantes pelo aumento da massa fecal,
pela maior retenção de água , estas fibras solúveis exercem o seu
efeito laxante devido, fundamentalmente, ao aumento da biomassa
microbiana devida à fermentação no cólon.
Os ácidos
gordos de cadeia curta jogam papel importante no funcionamento do
epitélio do cólon favorecendo o transporte de catiões como o
cálcio, magnésio e ferro. O pH mais ácido favorece a dissolução
do cálcio. Na verdade confirmou-se o efeito promotor da oligofrutose
na absorpção de cálcio através do epitélio intestinal.
Um
ambiente mais ácido também reduz a actividade de enzimas
procarcinogénicas. Também, a estimulação do crescimento
bacteriano no cólon diminui os níveis dos metabolitos tóxicos,
devido às maiores exigências de nitrogéneo e enxofre por parte da
nova biomassa que, caso não fossem gastas por esta biomassa,
metabolizar-se-iam em substâncias carcinogénicas. Desta forma, os
prebióticos actuam no combate ao cancro do cólon, tanto por aumento
da biomassa que diminui as substâncias carcinogénicas como por
reduzirem os níveis e incidência de lesões precancerosas e a
incidência de tumores.
A
administração de inulina reduz os lípidos séricos devido à
inibição da síntese dos ácidos gordos mas este dado, nos humanos,
carece de confirmação e parece não se verificar.
A dose
diária de prebióticos eficaz é da ordem dos 4-20 g/dia. Doses
superiores podem causar flatulência e distensão abdominal. A dieta
normal europeia já aporta 1-10 g/dia pelo que o suplemento de
prebiótico deve ter isto em conta.
Simbióticos
Para
prolongar os efeitos dos probióticos é necessário potenciar sua
sobrevivência e assegurar que maiores populações alcançam o cólon
e o aumento de tempo de colonização desse meio. Estas acções
podem ser facilitadas pelos prebióticos, que combinando-se com os
probióticos se denominam simbióticos.
Proteínas
não lácteas como ingredientes funcionais em produtos lácteos
A fracção
proteica da soja, exerce seus efeitos antiaterogénicos, por diminuir
significativamente as concentrações de LDL e aumento do HDL. As
isoflavinas da soja, que acompanham as proteinas da soja, são
antioxidantes, protegendo as lipoproteinas de baixa densidade da
oxidação exercendo em geral um efeito favorável na função
cardiovascular. As proteinas da soja, desta forma, têm poder de
baixar os triglicerídeos, colesterol total e LDL e aumentar o HDL.
Recomenda-se uma dose de 25 g/dia ingerida. A soja tem influência
positiva sobre o metabolismo do osso, havendo um benefício contra o
avanço da osteoporose.
Peptídeos
e hidrolisados proteicos lácticos apresentam:
- propriedades antihipertensivas por inibição do ECA
- propriedades antitrombóticas por inibição da agregação plaquetária
- actividade opiácea sobre o sistema nervoso provocando efeito sedativo e analgésico
- efeitos sobre o sistema imune por actividade imunomodulador e antimicrobiana
- favorecem a absorção do cálcio no íleo distal
- acções anticariogénea
Ingredientes
funcionais de natureza lipídica
- Lípidos lácteos: a gordura do leite é o veículo de eleição das vitaminas lipossolúveis A, D, E, K e carotenoides. O ácido butírico tem um efeito trófico sobre as células da mucosa intestinal e tem efeito anticancerígeno ( da próstata, mama e do cólon ). Os ácidos gordos do leite têm actividade antibacteriana e antiviral. O ácido linoleico conjugado, um outro lípido do leite, tem propriedades anticancerígenas sendo a inibição de tumores epiteliais um dos mais descritos. Os fosfolípidos podem favorecer a absorpção lipídica a nível intestinal, e assim melhorar a biodisponibilidade de compostos bioactivos lipossolúveis como vitaminas e carotenoides. Os fosfolípidos do leite também têm acção protectora da mucosa intestinal e acção protectora contra microorganismos patogéneos bem como acção anticancerígena. Os esfingolípidos da gordura do leite também têm actividade anticancerígena, em especial o cancro do cólon.
Os ácidos
gordos poliinsaturados omega 3 possuem comprovado efeito contra as
doenças cardiovasculares. Possuem também acção anti-inflamatória
e acção imunomoduladora.
O dano
oxidativo do DNA tem um papel fulcral no desenvolver dos cancros. Uma
vez provocada a mutação as espécies reactivas do oxigénio
interveem também na replicação e crescimento das células
anormais, crescimento de tumor e metastização. A peroxidação
lipídica contribui para a arteriosclerose. Assim, pequenas lesões
endoteliais atraem e provocam adesão de monócitos, que se
transformam em macrófagos, que se carregam de LDL contendo lípidos
oxidados. Os macrófagos libertam factores estimulantes da
proliferação das células do músculo liso, que dá lugar ao
desenvolvimento da placa, que reduz o lúmen do vaso e restringe o
fluxo sanguíneo.
Constituintes
bioactivos não nutricionais de alimentos vegetais e sua aplicação
em alimentos funcionais
Observa-se
uma incidência menor em todo o tipo de cancro, e em especial os
epiteliais, com um consumo de frutas e hortícolas.
As
propriedades anti-oxidantes dos alimentos são das mais importantes,
pois os processos oxidativos estão na base de muitas doenças como
cardiovasculares, cancro e neurodegenerativas.
A
actividade biológica das moléculas oriundas dos alimentos é,
comparativamente, mais baixa em relação às moléculas dos
medicamentos, pelo que seus resultados são mais tardios.
A
modificação oxidativa das LDL se considera que tem um papel crucial
na aterogénese, e consumo de frutas e hortaliças, de modo regular,
se correlaciona com um menor risco de padecer de doenças
cardiovasculares. Pessoas que ingerem quercetina ( um flavenol
presente nas cebolas, maçãs, chá, vinho e outras frutas e
hortaliças ) têm menor taxa de mortalidade de enfarte do miocárdio
e as doenças cerebrovasculares têm uma incidência menor nas
pessoas que ingerem kaempferol ( abundante nos bróculos, frutas e
outras hortaliças ).
As
substâncias presentes na alimentação apresentam as mais diversas
propriedades entre as quais:
- antioxidantes
- neutralizadores de radicais livres
- influenciam nos processos de diferenciação celular
- aumentam a actividade das enzimas relacionadas com a desentoxicação de carcinogéneos
- bloqueiam a formação de nitrosaminas cancerígenas
- moduladoras da actividade e metabolismo dos estrogéneos
- modificam o meio colónico ( flora bacteriana, composição de ácidos biliares, pH, volume fecal )
- preservam a integridade celular
- ajudam a manter os mecanismos de reparação do DNA
- aumentam a apoptose ( morte celular programada ) das células cancerígenas
- diminuem a proliferação celular tumoral
Os
polifenois têm acção sobre o ciclo celular das células tumorais.
Isto se demonstrou em células tumorais de várias leucemias,
gástricas, pulmão, cólon, bexiga, próstata e do melanoma.
Lípidos
como alimentos funcionais
Muitas
doenças frequentes, actualmente, como cardiovasculares, artrite
reumatóide, doença inflamatória intestinal, doenças pulmonares,
cursam com processos inflamatórios crónicos que podem ser modulados
em função dos lípidos da dieta. As gorduras poliinsaturadas omega
3, que passam a fazer parte das membranas, são precursores de
citoquinas e eicosanoides menos inflamatórios que os sintetizados a
partir de ácidos gordos omega 6, procedentes de vegetais como o
girassol. O azeite de oliveira tem poder de diminuir o LDL e aumentar
o HDL.
Os
triglicerídeos são a principal reserva energética do organismo.
Contribuem para satisfazer as necessidades de energia e de ácidos
gordos essenciais. São também os veículos das vitaminas
lipossolúveis nos alimentos.
Os
fosfolípidos são componentes estruturais da membrana celular.
O
colesterol faz parte das membranas celulares, e é precursor das
hormonas esteróides, ácidos biliares e vitamina D.
Os ácidos
gordos omega 3 e omega 6 são uns fosfolípidos de membrana. Alguns
factores de coagulação são também fosfolípidos.
Os ácidos
gordos trans tendem a subir os LDL e baixar os HDL.
Os perfis
plasmáticos de ácidos gordos poliinsaturados omega 3 apresentam-se
alterados nos doentes com doença de Crohn, devido a uma
anormalidade primária no seu metabolismo. A suplementação de
azeite de oliveira e óleo omega 3 reduzem as alterações
histológicas macro e microscópicas. Também o número de células caliciformes aumenta significativamente quando a dieta inclui ácidos
gordos omega 3.
O ácido
linoleico ( omega 6 ) induz a produção de IL8 nas células
musculares lisas do intestino de doentes com doença de Crohn,
enquanto que a suplementação com omega 3 modifica a composição
das células periféricas do sangue e provoca uma diminuição de
sintese de PGE2 e interferão gama. As plaquetas e o TXA2 desempenham
papel fundamental nas complicações da doença de Crohn,
nomeadamente enfartes gastro-intestinais múltiplos, pelo que se deve
dar omega 3 para diminuir a resposta plaquetária.
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