domingo, janeiro 31, 2021

Variantes de Sars-CoV-2

 


Variantes de Sars-CoV-2




Variantes de Sars-CoV-2 são originadas por mutações surgidas no RNA viral e podem provocar alteração do comportamento do vírus, tanto no sentido de mais favorável para o vírus como no sentido de  menos favorável.

Os cientistas estavam sépticos sobre a importância da alteração D614G. O aparecimento da variante inglesa, a linhagem B 1.1.7, levou a preocupação generalizada.


Mutações, variantes e propagação

As mutações surgem devido à replicação viral, sendo que os vírus RNA apresentam taxas de mutação superiores às dos vírus DNA. Os coronavírus, uns vírus RNA, apresentam taxas de mutação inferiores às normalmente verificadas nos vírus RNA, pois codificam um enzima que tem a finalidade de corrigir erros que surgem na replicação. A seleção natural faz o destino das mutações, sendo que podem conferir vantagem competitiva em relação à replicação viral, transmissão ou fuga à imunidade do hospedeiro e assim esta variante aumentará a frequência, ou pelo contrário reduzem a aptidão viral tendendo a diminuir a sua prevalência na população.

Efeito fundador ocorre quando um número reduzido de vírus individuais estabelece uma população nova no decorrer da transmissão. Estes ancestrais virais transmitem as suas mutações aos seus descendentes virais, independentemente das acções destas mutações na aptidão viral. A interacção da selecção natural e eventos fortuitos molda a evolução do vírus nos hospedeiros e, a partir destes, nas comunidades e países.


Mutação, variante e cepa, embora sejam usados estes termos quase indistintamente, não significam o mesmo.

Mutação é a mudança real na sequência. Por exemplo, a mutação D614G é a substituição de um ácido aspártico por uma glicina na posição 614 da glicoproteína do pico.

Variantes são os genomas que diferem na sequência. Uma variante pode diferir de outra por uma ou mais mutações.

Cepa é uma variante com fenótipo diferente de outra, como por exemplo alteração de antigenecidade, transmissibilidade ou virulência.


Linhagem B 1.1.7 e N501Y

A linhagem B 1.1.7 ou 501Y.V1 é um cluster filogenético que surgiu e espalhou-se em Inglaterra com 17 mutações definidoras de linhagem, tendo-se já estabelecido como cepa dominante.

A linhagem B 1.1.7 apresenta 8 mutações na glicoproteína do pico, incluindo N501Y no domínio de ligação ao receptor, delecção 69-70 e P681H no local da clivagem da furina, mutações estas capazes de influenciar a ligação ao ACE2 e replicação viral.




Antigenecidade e eficácia da vacina

As mutações na glicoproteína do pico, local que medeia a ligação às células, é o alvo principal dos anticorpos neutralizantes. O pico é o principal antigéneo viral nas vacinas existentes pelo que as mutações na glicoproteína do pico podem alterar a eficácia das vacinas.

Importante o facto, que se tem vindo a comprovar em todos os vírus, que a glicoproteína viral está sujeita a compensação evolutiva, o que faz com que o aumento de uma propriedade viral faz reduzir uma outra propriedade viral. É o que acontece na variante D614G.

Os coronavírus podem causar patologias muito frustres mas podem, em alguns casos, causar patologias de foro respiratório graves que podem inclusivamente levar à morte. Para além da sintomatologia respiratória, alguns coronavírus podem causar sintomas a nível intestinal e neurológico.

Sars-CoV-2 é um coronavírus com capacidade de transmissibilidade pessoa-a-pessoa por via aérea, em aerossóis superiores a 5 μm, ou pelo contacto directo com secrecções infecciosas ou aerossóis em procedimentos terapêuticos com menos de 1μm. O vírus pode ser rapidamente inactivado se sujeito uns minutos a solução com álcool 70º, água oxigenada não diluída ou hipoclorito de sódio 0.1 %.

A infecção por Sars-CoV-2 pode ser assintomática , mas mesmo nestas condições os doentes infectados são infecciosos particularmente nos primeiros dias após a infecção deles próprios, altura em que a replicação viral é mais alta particularmente no nariz e nasofaringe.

Febre, tosse, mal estar e dispneia com lesão invasiva pulmonar são sintomas frequentes e surgem após incubação de 2-12 dias. Casos graves podem apresentar pneumonia, ADRS, insuficiência renal e morte. Doentes com diabetes, hipertensos, problemas hepáticos ou imunossupressão estão em risco aumentado.




Virus Sars-CoV-2 da Amazónia com variantes que abrigam mutações E484K e N501Y na proteína S

Na região da Amazónia brasileira, onde circula a variante de Sars-CoV-2 B 1.1.28, verifica-se uma evolução desta variante para outras com mutações na proteína S, no seu domínio de ligação ao receptor. As mutações que se ocasionaram na Amazónia são as K417N, E484K e N501Y.

Sabe-se que o vírus Sars-CoV-2 apresenta 2-3 mutações por mês.

Estas mutações da proteína S podem alterar a aptidão viral e sua transmissibilidade.

As variantes inglesa, bem com o a sul-africana, apresentam 8 mutações na proteína S, distintas entre elas ( HV69-70del, Y144del, N501Y, A570D, P681H, T716I, S982A e D1118H na variante inglesa e L18F, D80A, D215G, R246I, K417N, E484K, N501Y e A701V na variante sul-africana ), sendo que a única mutação comum a ambas as variantes é a N501Y no domínio de ligação ao receptor.

Verificou-se que a taxa de mutação detectada na variante B 1.1.28 ( K417N/E484K/N501Y ), variante da Amazónia, é muito mais rápida do que as demais variantes de Sars-CoV-2.

As diferentes linhagens 1.1. que carregam mutações K417N, E484K e N501Y, no domínio de ligação ao receptor da proteína S, nos diferentes países, e que diferem entre si, sugerem uma evolução do Sars-CoV-2 com mudanças selectivas durante o processo que causou milhões de infecções, sendo que essas mudanças podem, ou não, conferir vantagens para o vírus na sua capacidade de transmissibilidade.

Na variante brasileira de Sars-CoV-2, uma das mutações da proteína S é E484K, que ocorre no domínio de ligação ao receptor ( RBD – receptor binding domain ), que é o local da proteína S que se liga ao ACE2 das células humanas, sendo que essa mutação foi associada à fuga aos anticorpos neutralizantes.

Estas mutações na proteína S permitem um aumento potencial de transmissibilidade e também a reinfecção dos indivíduos que já anteriormente tinham sido infectados com outra variante.


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