Eritromelalgia
ou doença de Mitchell
(
do grego: erythros – vermelho; melos – membro; algos – dor )
Eritromelalgia é uma situação patológica, caracterizada pela existência de sinais como calor, rubor, tumor, dor e diminuição da
capacidade funcional das extremidades, mais frequentemente das
extremidades inferiores ( pés e, menos frequentemente as mãos; as
orelhas podem ser atingidas mas este é um fenómeno extremamente
raro ). É uma neurose vasomotora. Manifesta-se por vasodilatação
das arteríolas e vênulas, com maior afluxo sanguíneo à região,
incidindo em qualquer idade, sem predomínio nítido de sexo. Piora
com o calor e melhora com a imersão em água fria ou com o clima
frio. A eritromelalgia existe em 2 formas, sendo uma a forma primária
ou idiopática ou primitiva e a outra secundária.
A
forma secundária da eritromelalgia associa-se a outras situações
patológicas, nomeadamente dislipidemias, hipertensão arterial,
policitemia vera, linfoma, doença de Vasquez, trombocitemia
essencial, diabetes tipo II, insuficiência venosa, esclerose
múltipla, lupus, artrite reumatóide, esclerodermia, doença de
Raynaud, HIV, gota, bem como se associa também a situações não
patológicas como a ingestão de café ou álcool. É uma patologia
benigna, permanente e melhora com a correcção da patologia
associada. Por motivos ainda não totalmente esclarecidos,
verifica-se que doses de 650 mg/dia de ácido acetilsalicílico
oferece benefício na resolução da sintomatologia. Insónia e
stress são tidas como situações desencadeantes da eritromelalgia.
Intoxicação por mercúrio também se associa ao desencadear da
patologia.
A
eritromelalgia é um fenómeno vascular raro, associado a alterações
plaquetárias, associado ou não a outras patologias, com
acometimentos localizados. Caracteriza-se por vasodilatação das
arteríolas e vênulas, paroxística, principalmente das
extremidades, com dor ardente, aumento da temperatura cutânea e
ardência. A vasodilatação pode ser secundária à acção de
fármacos que relaxam a musculatura lisa das paredes vasculares.
Os
sintomas podem manter-se ligeiros, durante anos, ou podem ser
causadores de uma total incapacidade. O diagnóstico é feito
baseando-se na relação da sintomatologia com o aumento da
temperatura cutânea. O tipo secundário pode diferir da
eritromelalgia primária por a correcção da situação de base fazer
passar a sintomatologia da eritromelalgia. No diagnóstico
diferencial, devemos incluir as distrofias post-traumáticas,
síndrome ombro-mão, doença de Fabry e celulite bacteriana. Como a
eritromelalgia pode preceder alterações sanguíneas
mieloproliferativas, mesmo por anos, deve ser indicado um estudo da
patologia sanguínea para despiste destas como patologia de base
relativamente à eritromelalgia e, eventualmente, ser feito o
tratamento da patologia sanguínea se existir.
Dado
a eritromelalgia ser provocada por vasodilatação dos pequenos
vasos, arteríolas e vênulas nomeadamente, usa-se com algum sucesso
agentes vasoconstrictores ( 25 mg efedrina per os; propanolol
per os 10-40 mg; metirsegida per os 1 mg/4 horas ).
Eritromelalgia
é uma alteração rara, caracterizada pela tríada sintomática de
hipertermia paroxística das extremidades, com eritema, dor em
queimor intensa e aumento da temperatura cutânea, manifestando-se
principalmente nos pés e mãos. A exposição ao calor, exercício
físico, a acção da gravidade e uso de meias e luvas são factores
desencadeantes, enquanto que é factor de alívio da sintomatologia o
frio. Esta patologia tem carácter intermitente.
A
forma primária da eritromelalgia pode ser familiar, com uma herança
autossómica dominante, ou esporádica. Quanto ao início da patologia, a eritromelalgia pode ser juvenil ( início antes dos 20 anos, geralmente antes dos 10 anos ) ou adulto ( depois dos 20 anos ).
Eritromelalgia
juvenil familiar associa-se à subunidade α
do gene SCN9A, que codifica um canal de sódio voltagem dependente, e
tem predomínio no sexo masculino.
A
eritromelalgia secundária tem início geralmente a partir da 3ª
década da vida, sem predomínio de nenhum dos sexos. A incidência é
de 0.25-0.33/100000 habitantes/ano.
Na
etiopatogenia admite-se a existência de anormalidades vasculares
primárias ou secundárias, resultantes em edema endotelial, com
aumento da temperatura e fluxo sanguíneo, hipóxia, agregação e
activação plaquetária com libertação de prostaglandinas que
produzem eritema e dor. Neuropatia de pequenas fibras foi também
observada.
Admite-se
que a eritromelalgia não seja uma entidade patológica autónoma,
mas sim um padrão da resposta da microvasculatura cutânea. A
eritromelalgia é associada a uma neuropatia de pequenas fibras e
vasculopatia primárias, caracterizada por aumento intermitente de
fluxo sanguíneo, hipóxia e, possivelmente, shunts, com aumento do
metabolismo celular local. Devido aos shunts, substâncias que
alteram a distribuição do fluxo sanguíneo cutâneo podem melhorar
a oxigenação cutânea e induzir alívio dos sintomas.
A
eritromelalgia secundária pode ser provocada como consequência de
traumatismos, cujos sintomas persistem após a cura da lesão
traumática, mutação a nível dos canais de cálcio ( esta na
eritromelalgia primária ), toma de medicação de bloqueadores dos
canais de cálcio, policitemia vera, tromboangeíte obliterante,
síndrome de Raynaud ( não é propriamente uma causa mas uma
situação muitas vezes coexistente ), hiperdébito venoso por
fístulas arteriovenosas, linfedema.
A
sintomatologia da eritromelalgia pode ser desencadeada por consumo de
café ou álcool. Em alguns doentes, consumo de açúcar e mesmo de
melão, podem também provocar o início dos ataques.
Eritromelalgia
consiste de alterações neuropatológicas e microvasculares. Estas
alterações são mal compreendidas na forma secundária, enquanto
que na forma idiopática os fenómenos neuropatológicos advêm da
hiperexcitabilidade das fibras C nas raízes dos gânglios dorsais.
Os nociceptores ( neurónios que respondem pela sensação e condução
dos estímulos dolorosos ) são os primeiros neurónios afectados
nestas fibras C. Esta hiperexcitabilidade dos nociceptores é a
responsável pela dor severa em queimor. Interessante o facto de que
enquanto a dor é devida à hiperexcitabilidade, as alterações
microvasculares são devidas a uma hipoexcitabilidade. O sistema
nervoso simpático controla o tónus vascular cutâneo, e uma
resposta alterada deste sistema nervoso a estímulos, como o calor,
resulta nos sintomas microvasculares observados.
Estas
alterações da excitabilidade, microvascular e neuropatológica, são
devidas a mutação nos canais de sódio Naᵥ1.7
( canal de sódio Naᵥ1.7
é codificado pelo gene SCN9A, hiperexpressado nos neurónios das
raízes dos gânglios dorsais e no gânglio trigémeo e nos neurónios
dos gânglios simpáticos componentes do sistema nervoso autónomo;
Naᵥ1.7 é um canal de
sódio voltagem dependente, que joga um papel fundamental na geração
e condução dos potenciais de acção, estando presente nos
terminais nervosos dos nervos sensitivos à dor, os nociceptores).
É
possível que casos de epidemia de eritromelalgia, como se conhece
ter acontecido na China, sejam secundárias a infecção por
poxvirus, mas esta associação carece ainda de mais consistente
confirmação.
A
fisiopatologia da eritromelalgia deve ser tida apenas para a forma
primária, visto a forma secundária ser muito mal entendida.
Assim,
quanto à fisiopatologia da eritromelalgia primária conhece-se que
existem 10 mutações da subunidade α dos genes codificadores
Naᵥ1.7 desencadeados por
potenciais eléctricos ( A βIV-espectrina pode estar envolvida no mecanismo regulador dos canais de sódio Naᵥ 1.5 através da fosforilação da βIV-espectrina por uma quinase-II dependente do cálcio/modulina ). Este gene SCN9A é expressado nas raízes dos
gânglios dorsais e nos gânglios dos neurónios do simpático. Todas
as mutações apresentaram alterações biofísicas semelhantes. O
primeiro efeito destas mutações é os canais Naᵥ1.7
que activam a potenciais mais hiperpolarizados. Canais Naᵥ1.7
actuam como sensores desencadeadores e iniciam potenciais de acção;
consequentemente este desvio de perfil de activação resulta em
canais que abrem mais próximo do potencial de repouso da membrana.
Em muitas mutações, este desvio da activação é acompanhado por
desvios na sensibilidade da voltagem de inactivação mais rápida
e/ou mais lenta, produzindo alterações mais prolongadas e maiores
no potencial da membrana.
Apesar
de banho de imersão em água fria fazer aliviar os sintomas, este
procedimento é fortemente contraindicado, dado que pode precipitar
problemas como lesão da pele e ulcerações cutâneas,
frequentemente intratáveis, devido à lesão cutânea.
A
eritromelalgia atinge os pés em cerca de 88% dos casos e,
tipicamente, é bilateral, embora possa ser unilateral,
principalmente nos casos secundários. O alívio da dor por imersão
em água fria é tão comum que há quem considere este fenómeno
patognomónico.
Sem comentários:
Enviar um comentário