quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Ensaios de alta sensibilidade para troponina cardíaca

Ensaios de alta sensibilidade para troponina cardíaca

Testes de troponina cardíaca de alta sensibilidade permitem o reconhecimento de necrose do miocárdio em estadios muito precoces, podendo detectar estas alterações do cardiomiócito mais cedo do que as técnicas clássicas de doseamento de troponina cardíaca.
Outra vantagem dos métodos de alta sensibilidade é a capacidade de exclusão de enfarte agudo do miocárdio em presença de valores de concentrações séricas de troponina inferiores ao limite de detecção e particularmente quando em conjunto com critérios clínicos.

Há controvérsia nos Estados Unidos sobre o motivo porque na Europa se considera o percentil 99 como sendo uma concentração de 11 ng/l para mulheres e 15 ng/l para os homens ( valor para a população geral, homens e mulheres, de 15 ng/l ) e nos USA são apenas admitidas concentrações de 14 ng/l nas mulheres, 22 ng/l nos homens com um valor para a população global de 19 ng/l. De referir a importância dos cut-off específicos para cada sexo.
O valor mínimo do cut-off assumido na Europa, apesar de haver estudos que admitem valores de concentração sérica de troponina T cardíaca de 3-5 ng/l, é o de 6 ng/l. Este valor ainda não é aceite nos Estados Unidos.
De salientar que os dados europeus parecem ser de superior qualidade comparativamente com os americanos dada a população europeia doente testada ser muito mais heterogénea do que a americana.

Importante ter em atenção que o cut-off para homens é substancialmente diferente do das mulheres, sendo o das mulheres mais baixo do que o dos homens.


Curioso que a FDA não autoriza a terminologia “ alta sensibilidade “ dado esta designação ser um termo analítico e assim não ser apropriado para a nomenclatura dum produto.

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Cefaleias e estados de carência de vitamina D

Cefaleias e estados de carência de vitamina D

Cada vez se vem tornando mais evidente a relação existente entre estados de carência de vitamina D ( hipovitaminose D, insuficiência de vitamina D e deficiência em vitamina D ) e cefaleias, verificando-se quase uma frequência dupla de cefaleias em doentes com carência de vitamina D comparativamente com indivíduos com níveis normais de 25-OH-vitamina D. De referir também, e em abono da teoria de ligação entre carência de vitamina D e cefaleias, que cefaleias crónicas se verificam mais fora dos meses de Verão.

Verificou-se que é mais frequente o aparecimento de cefaleias em pessoas que permanecem mais tempo no interior das habitações do que naquelas que saem mais frequentemente e assim são expostas aos UVB de modo mais acentuado. Este ponto, no entanto, não é tão relevante em todas as regiões do globo, sendo muito pouco significativo em países mais setentrionais como a Finlândia. Os estudos não são conclusivos sobre a relação de baixos níveis de vitamina D e cefaleias nas mulheres.

Há que ter em conta que a identificação da relação entre baixa dos níveis de vitamina D e cefaleias não é o mesmo que aqueles baixos níveis séricos serem a causa das cefaleias e esta relação causal não está ainda estabelecida.

Desta forma, não é ainda correcto, na base dos conhecimentos actuais, dizer que se deve dosear a vitamina D nas situações de migraine nem que a administração de vitamina D faça parte do tratamento das cefaleias.

domingo, janeiro 29, 2017

Homocisteína

Homocisteína




Homocisteína é um homólogo da cisteína, que se diferencia desta, pela cadeia lateral que apresenta um grupo -CH2- antes do grupo tio ( -SH ). A homocisteína pode também derivar da metionina pela desmetilação do grupo metil do C terminal.





A determinação da concentração sérica da homocisteína tem valor na avaliação de doentes com risco cardiovascular, pode lesar o endotélio vascular e promover a trombose. Também se associa a doenças neurológicas. Substâncias como a vitamina B12, ácido fólico ou grupos metil são essenciais na produção de neurotransmissores, sendo desta forma de importância fundamental no desempenho de certas funções mentais, cognitivas e psicológicas. 


Dado se verificar hiperhomocisteinemia quando em presença de baixa concentração de vitamina B6, B12, ácido fólico ou grupo metil, a hiperhomocisteinemia é um dado indirecto de déficit daquelas vitaminas ou grupos metil, e assim de aumento de risco de doença neurológica.

Hiperhomocisteinemia tem como etiologia :
                                                 - factores genéticos
                                                 - déficit de vitamina B6, B9 ou B12
                                                 - déficit de grupos metilo






Hiperhomocisteinemia pode aparecer por factores genéticos ou por dieta pobre em ácido fólico, vitamina B12 ou B6 .



A determinação de homocisteína deve ser feita em amostra obtida por colheita sanguínea após jejum de 12 horas.

Valores de referência:
  • normal ….................... 5 – 15 μmol/l
  • moderado ….............. 16 – 30 μmol/l
  • intermediário …......... 31 – 100 μmol/l
  • grave …..................... > 100 μmol/l
  • ideal …....................... 5 – 7 μmol/l

A homocisteína é responsável por cerca de 15% dos ataques cardíacos e AVC's

                                 15% dos AVC e ataques cardíacos são-lhe secundários

A homocisteína é abundante em carne bovina, ovos, leite, queijo, farinha branca, enlatados e alimentos altamente processados.

      Hiperhomocisteinemia aumenta para o triplo a frequência de ataques cardíacos

A homocisteína é um produto da metabolização da metionina e aquela se decompôe em cisteína ou, por reacção reversa, origina de novo metionina. Tanto a cisteína como a metionina são substâncias benignas e de valor essencial para a vida.


Ácido fólico, vitamina B12 e vitamina B6 são necessárias para aquelas reacções se processarem. A falta de, pelo menos, uma destas 3 substâncias, origina a subida da concentração sérica da homocisteína.


Estudos demonstraram que níveis, mesmo que apenas ligeiramente, elevados, podem fazer aumentar para o triplo o risco de ataque cardíaco. É esta a razão pela qual cerca de metade dos doentes que sofreram de ataque cardíaco apresentam uma concentração sérica normal de colesterol.


O risco cardiovascular aumenta de forma exponencial nos indivíduos que apresentam hiperhomocisteinemia associada a hipertensão, colesterol elevado ou hábitos tabágicos.
Aceita-se actualmente que a hiperhomocisteinemia se correlaciona com doença coronária, AVC e patologia vascular periférica. A hiperhomocisteinemia apresenta acção negativa sobre a saúde celular e, assim, associa-se a doença de Alzheimer ou demência e, eventualmente, a depressão, distúrbios oculares e osteoporose.


A suplementação com vitamina B12, B6 e ácido fólico é uma medida eficaz na correção da concentração sérica de homocisteína. Esta suplementação chega a diminuir 15-75% do valor da concentração sérica da homocisteína.


Os níveis séricos de homocisteína, podem ser reduzidos através de uma dieta com redução de alimentos ricos em metionina e aumento de produtos como fruta, proteínas vegetais e legumes. Bife de fígado, salmão ou marisco, por aumentarem a ingestão de vitamina B6 e B12, são altamente indicados com esta finalidade.

Hiperhomocisteinemia, que tem uma acção negativa sobre a saúde celular, associa-se a doença de Alzheimer, demência, depressão, distúrbios oculares e osteoporose, entre outras patologias 

A homocisteína é um subproduto da reacção que transforma a metionina em cisteína, sendo que aquele subproduto aparece em presença de diminuída concentração de vitamina B6, B12, ácido fólico e grupos metil.

A homocisteína elevada, para além de surgir em situação de diminuição de concentração sérica de ácido fólico, vitamina B12, vitamina B6 ou grupo metil, também pode aparecer em situações de hipotiroidismo, doença renal, psoríase ou como efeito lateral de alguns medicamentos.

A hiperhomocisteinemia pode aparecer em situações de hipotiroidismo, doença renal, psoríase, efeito leteral de alguns medicamentos, ingestão de álcool ou café e hepatopatias



Idosos e vegans são grupos que apresentam maior risco de hiperhomocisteinemia, dado que os idosos se alimentam mal e apresentam problemas de absorpção das vitaminas envolvidas, e os vegans praticam uma alimentação pobre nestas vitaminas.
Também, na população em geral, ingestão elevada de álcool ou café aumenta o risco de hiperhomocisteinemia, bem como o uso de drogas, gastropatias ou doenças intestinais ( DII por exemplo ) e hepatopatias.

Discute-se se a homocisteinemia é um agente da doença ou apenas um indicador de deficiência de nutrientes, estes sim factores de doença.


A homocisteína, derivado da metionina hepática, sofre metabolização nas vias de desmetilação e transulfuração de modo que a sua concentração sérica e urinária é reflexo da síntese celular. A homocisteína plasmática se encontra na forma oxidada, sob a forma de dissulfetos, contendo enxofre, que incluem homocisteína, apresentando-se como dímeros de homocisteína, e dissulfetos mistos de homocisteína e cisteína. No plasma aparece 2 - 5% de homocisteína livre, na sua forma reduzida, e 70 – 80% se liga a proteínas, principalmente albumina. A homocisteína plasmática total é pois a soma de todas as homocisteínas livres e ligadas a proteínas que apresentam um grupo tiol.


O metabolismo da homocisteína é feito por desmetilação, via esta preferencialmente ocorrendo em jejum, e por transulfuração que é a via que se verifica funcionar nas situações de sobrecarga de metionina. Para se manter constante o meio intracelular, é necessária a passagem de homocisteína para o meio extracelular. As concentrações de homocisteína no plasma e na urina refletem a sua síntese celular, utilização e integridade das vias do seu metabolismo. A metionina é catabolizada a homocisteína, s-adenosilmetionina e s-adenosilhomocisteína, a nível hepático.

Metabolismo da homocisteína: - desmetilação  ( em jejum )
                                                    - transsulfuração ( em sobrecarga de metionina )

O metabolismo da homocisteína é regulado através da s-adenosilmetionina, folatos e estado redox.


A hiperhomocisteinemia pode ter factores causais fisiológicos, genéticos, nutricionais, hormonais ou causados por drogas.
A base genética da hiperhomocisteínemia difere consoante a via metabólica em causa. Assim, a mutação CβS, que aparece na via da transulfuração, que ocorre nas situações de sobrecarga de metionina, é uma condição autossómica recessiva que se verifica no cromossoma 21, apresentando 33 mutações pontuais. Mutação CpG nos exons 3, 6 e 7 podem provocar hiperhomocisteinemia.


A incidência é extremamente rara para homozigotia ( 1:200000 ) mas muito mais frequente para heterozigotia ( 1:70 a 1:2000 ). A actividade enzimática é variável e apenas menos de 50% da população geral tem uma homocisteína basal com valores normais e teste de sobrecarga alterado. A frequência de ocorrência de mutação de CβS na população geral é de 1% e verifica-se 30 – 40% dos doentes com doença vascular precoce são heterozigóticos para a mutação CβS.


A mutação no gene 5-MTHFR ( 5-metiltetrahidofolato redutase ) encontra-se na via da remetilação ( que se verifica nas situações de jejum ) e localiza-se no cromossoma 1, apresentando 10 mutações, sendo uma termolábil e missesence, com actividade enzimática inferior a 40% do normal, sendo encontrada em 50% dos polimorfismos. 8% da população geral é homozigótica para a mutação 5-MTHFR termolábil. Os níveis de folato apresentam grande influência nos homozigotos, ocorrendo hiperhomocisteinemia apenas quando os valores de folato são inferiores a 15.4 nmol/l, e não ocorre hiperhomocisteinemia nos heterozigotos, excepto nas situações de falta de folato. 


A mutação 5-MTHFR pode coexistir com a mutação CβS, factor V de Leiden e mutação do gene ACE.


Pode ocorrer mutação do gene da MS, enzima que depende da vitamina B12 e que catalisa a remetilação da homocisteína em metionina que, tal com na via da 5MTHFR, se verifica em situações de jejum. Esta mutação do gene da MS, associa-se a doença cardíaca isquémica, principalmente em fumadores.

Os factores fisiológicos mais importantes na hiperhomocisteinemia são o sexo e a idade, sendo que os homens apresentam níveis superiores aos das mulheres em cerca de 21%. Mulheres pós-menopausa apresentam valores mais altos do que os verificados pré-menopausa. A concentração sérica aumenta com a idade em ambos os sexos. Distúrbios dietéticos fazem subir a homocisteinemia.

Hiperhomocisteinemia: mais frequente no sexo masculino
                                       aumenta a frequência com o aumento da idade
                                       diminuição de estrogénios diminui a concentração da homocisteína
                                       aumenta com o hipotiroidismo mas o hipertiroidismo não interfere

Metotrexato e anti-convulsivantes como fenitoína e carbamazepina, por diminuirem a concentração do ácido fólico, fazem subir a homocisteinemia. Também a vitamina B6 diminui com o óxido nitroso e com a teofilina.
A diminuição de estrogéneos aumenta a homocisteína sérica. Na gravidez, verifica-se uma diminuição de 50% de homocisteína. Terapêutica hormonal também faz diminuir a homocisteína, bem como o faz também o tamoxifeno, usado no cancro da mama. Testosterona não apresenta efeitos sobre a concentração de homocisteína.
Hipotiroidismo faz subir a concentração da homocisteína mas o hipertiroidismo apresenta-se com níveis idênticos aos controlos saudáveis.


A determinação da homocisteína utiliza como método gold standard a cromatografia líquida de alta pressão ( HPLC ) com detecção electroquímica. Deve ser feita esta determinação após um jejum de 12 horas e após teste de sobrecarga com metionina ( determinação basal de homocisteína seguida de ingestão oral de metionina em dose de 100 mg/Kg ou 4 g/m² e nova determinação após 2 e 8 horas ). A sobrecarga de metionina causa um aumento da síntese de homocisteína, dado haver uma maior concentração de metionina exposta às células; defeitos de transulfuração são detectados com maior sensibilidade e este teste de sobrecarga de metionina é capaz de diferenciar defeitos das vias de remetilação ou transulfuração. Também indivíduos com o metabolismo alterado da homocisteína podem ser identificados, apesar de poderem apresentar níveis plasmáticos em jejum dentro dos valores referência.

Determinação deve ser feita após jejum de 12 horas e então administra-se sobrecarga de metionina.
O teste da sobrecarga de metionina consegue distinguir as 2 vias

FPIA, quimioluminescência e o método cromatográfico com detecção de fluorescência são técnicas com sensibilidade, especificidade, reprodutibilidade, precisão e padronização muito aceitáveis na determinação da homocisteínemia.
Hiperhomocisteinemia pode verificar-se em 5 – 7% da população geral, enquanto que 13 – 47% dos doentes com doença vascular aterosclerótica sintomáticos apresentam níveis moderados a intermediários.



Relação da hiperhomocisteinemia e diversas patologias

  1. Doenças vasculares: verifica-se existir correlação entre homocisteína e aterosclerose, tromboembolismo arterial e venoso. A hiperhomocisteinemia e hiperhomocisteinúria é um factor de risco independente para doença cardiovascular, trombose e aterosclerose.
Para valores de 10 mmol/l, cada 5 mmol/l de homocisteína sérica apresentam um acréscimo de risco cardiovascular de 80% em mulheres e 60% em homens, 50% em AVC e um aumento de 6.8 vezes de doença vascular periférica
A hiperhomocisteinemia causa lesão endotelial, crescimento do músculo liso da parede vascular, aumento da adesividade plaquetária, maior oxidação da LDL-colesterol com deposição na parede do vaso e activação da cascata de coagulação. A homocisteína é um regulador natural leucocitário incluindo a adesão ao endotélio e migração transendotelial. A homocisteína induz leucócitos e sua adesão ao endotélio, migração leucocitária transendotelial e lesão endotelial mediada por leucócitos que muda de forma selectiva o padrão de expressão da proteína de quimioatracção dos monócitos ( MCP-1 ) e interleucinas, que por sua vez sinalizam neutrófilos e respostas celulares com libertação de citoquinas e agonistas inflamatórios, como α-TNF.
Está ainda em estudo o papel da homocisteína na doença coronária: factor de risco ou consequência. Sugere-se a hipótese de uma concentração moderada de homocisteína sérica seja preditiva de evento coronário eventualmente secundário a aterosclerose

  1. Doenças hepáticas: Enzimas do ciclo da metionina ( via da transulfuração ) são sintetizadas nos hepatócitos. Por deficiência de CβS, a hiperhomocisteinemia severa, que se verifica, origina manifestações clínicas como aterosclerose, trombose, atraso mental, osteoporose e anomalias esqueléticas, desencadeando o aparecimento de esteatose hepática onde se observa aumento dos hepatócitos que apresentam dismorfismos como multinuclearidade e vacúolos citoplasmáticos com lípidos. A esteatose hepática que ocorre nas situações de hiperhomocisteinemia surge pelo retículo endoplasmático, sob stress induzido pela homocisteína, activa a transcripção dos genes envolvidos no processo de lipogénese e assim aparece a lesão hepática. Nas hepatopatias crónicas, o clearance da metionina está aumentado e a homocisteina apresenta-se diminuída, verificando-se uma menor incidência de doenças coronárias em cirróticos, pondo-se a hipótese de este baixo risco de coronariopatia em doentes com hepatopatia crónica se relacionar com o baixo nível plasmático da homocisteína, mas outros factores, até agora desconhecidos, deverão estar envolvidos também. A cirrose apresenta uma diminuição acentuada de s-adenosil-l-metionina, aumento do clearance da metionina e hipohomocisteinemia.
  1. Homocisteína e factor de von Willebrand: O endotélio, que é o órgão endócrino mais importante do organismo, apresenta responsabilidade elevada nas doenças degenerativas e inflamatórias. O factor de von Willebrand é um processo muito eficiente na avaliação da disfunção endotelial, tendo uma elevada sensibilidade.
O fvW é secretado pelas células endoteliais e megacariócitos, sendo aumentada a sua síntese em casos de lesão ou estímulo das células endoteliais, podendo ir esse aumento de 2 a 10 vezes.
O fvW liga-se ao colagéneo, e a outros componentes da parede vascular, sendo um mediador da adesão plaquetária ao subendotélio vascular lesado. Num vaso lesado, a matriz de colagéneo é exposta e liga-se ao fvW circulante no plasma, e este por sua vez se liga às plaquetas através da glicoproteína GpIb/IX/V que se liga, intracelularmente, à filamina do citoesqueleto plaquetário.
Pelo menos em doentes diabéticos, a relação entre a homocisteína e a aterotrombose não pode ser explicada pela associação entre o fvW e a homocisteína.


Tratamento de hiperhomocisteinemia
O tratamento da hiperhomocisteinemia depende da causa, e a normalização dos níveis séricos de homocisteína ocorrem dentro de 4 – 6 semanas após o início do tratamento.
Doentes com defeitos funcionais graves de MS ou mutação termolábil da 5-MTHFR não respondem ao tratamento vitamínico, sendo necessário suplemento de betaína e/ou metionina juntamente com ácido fólico.
Vitamina B6 diminui a concentração de homocisteína no soro apenas em doentes com deficiência de vitamina B6 ou heterozigotos com deficiência CβS. Reposição, juntamente com piridoxina isolada, não é capaz de corrigir a concentração sérica de homocisteína em jejum, e melhores resultados são obtidos quando o folato é associado.
Vitamina B12, associada ou não a ácido fólico, também pode ser eficaz no tratamento da homocisteína elevada sérica.
Ácido fólico, co-factor importante da metilação da homocisteína, convertendo-a em metionina, reduz a hiperhomocisteinemia de jejum e após sobrecarga de metionina, mesmo em doentes com deficiência parcial de CβS e 5-MTHFR. Verifica-se uma associação inversa da homocisteína com o ácido fólico, tanto em doentes como em pessoas saudáveis, sendo mesmo o único tratamento capaz de ser eficaz em pessoas sadias.
Suplementação de metionina está indicada nas situações de deficiências da via de remetilação. Nesta situação, consumo de proteínas pode ter indicação, no entanto consumo exagerado de proteínas animais ricas em metionina pode levar à subida de homocisteína, seja em jejum ou após sobrecarga de metionina, particularmente nos doentes que apresentam deficiências de piridoxina e concentrações normais de ácido fólico e vitamina B12.



Conclusões

Hiperhomocisteinemia e doença arterial, principalmente coronária, tem sido relacionada, considerando-se que o aumento da concentração sérica da homocisteína é mesmo um factor de risco para aquela patologia. O doseamento da homocisteína sérica ajuda na identificação dos doentes em risco de patologia cardiovascular.



domingo, janeiro 15, 2017

Diminuição da concentração de cTnI como preditor de diminuição de risco coronário

Diminuição da concentração de cTnI como preditor de diminuição de risco coronário

Foi verificado, numa população de homens de meia-idade sofrendo de hipercolesterolémia, que uma diminuição da concentração sérica de troponia I cardíaca se acompanha de uma probabilidade menor de ocorrência de enfarte de miocárdio ou morte por causa coronária.
Verificou-se que alteração das concentrações de TnI pode prever eventos coronários futuros, de forma independente à diminuição da concentração sérica do colesterol.

Concentração sérica do colesterol, bem como a tensão arterial, são importantes factores e associam-se com o risco de patologia cardíaca, enquanto que a troponia I é um dado directo da lesão cardíaca. Espera-se que a troponina I possa vir a auxiliar na identificação de indivíduos com cardiopatias silenciosas que aparentemente passam por serem saudáveis.

sábado, novembro 19, 2016

Associação entre vitamina D e clínica na DII

Associação entre vitamina D e clínica na DII

O papel da vitamina D na DII tem-se vindo a tornar evidente, tendo-se já verificado que doentes com DII e baixas concentrações séricas de 25-OH-vitamina D apresentam maiores necessidades de terapêutica com corticóides, terapêuticas biológicas, narcóticos, entradas na urgência hospitalar, internamentos hospitalares, exames de tomografia computorizada e intervenções cirúrgicas comparativamente com doentes que apresentam concentrações de vitamina D dentro dos limites da normalidade.
Os doentes com baixas concentrações de vitamina D, estejam em deficiência, insuficiência ou hipovitaminose D, apresentam também situações mais dolorosas, os scores dos índices de actividade da doença estão mais elevados e a qualidade de vida é inferior aos doentes com concentrações de vitamina D normais.
Doentes com DII habitualmente apresentam concentrações baixas de vitamina D séricas, estando este facto associado a uma mais alta morbilidade e severidade clínica.

DII é um quadro patológico que engloba, entre outras patologias, a colite ulcerosa e a doença de Crohn, e caracteriza-se por inflamação crónica do tracto gastrointestinal, sendo de patogenia desconhecida mas em que há uma desregulação imunológica.
A vitamina D tem acção sobre a regulação da imunidade inata e adaptativa. A vitamina D tem acção sobre as células T CD4+, favorecendo a maturação dos linfócitos Th2, comparativamente com os Th1 e Th17, e favorece e aumenta a produção de citoquinas anti-inflamatórias como IL-4, IL-5 e IL-13.
A vitamina D também actua nas células dendríticas, causando diminuição da produção e diferenciação das Th1 com consequente diminuição significativa de produção de IL-2, γ-interferão e α-TNF.
Importante mecanismo pelo qual os monócitos humanos eliminam os patogéneos é a autofagia. Este mecanismo ocorre através da acção de proteínas antibacterianas libertadas localmente pela vitamina D.

Estudos epidemiológicos têm evidenciado relação inversa entre a concentração sérica da vitamina D e o estado clínico do doente com DII.
A incidência e prevalência da DII segue um gradiente Norte-Sul, sendo mais elevadas nos climas frios e mais baixas nas zonas vizinhas do Equador, o que sugere um papel protector da vitamina D.
Estudos efectuados para avaliarem da relação entre a concentração sérica da vitamina D e a clínica da DII verificaram não haver diferenças da PCR e da VS entre os doentes com concentrações altas ou baixas de vitamina D.
Doentes com baixas concentrações de vitamina D apresentam mais e mais intensas queixas de dores abdominais comparativamente com doentes com níveis normais de vitamina D.
Terapêutica cirúrgica é efectuada com uma frequência sensivelmente vez e meia da efectuada nos doentes com concentrações de vitamina D normais ( 30% vs 20% ) sendo também a terapêutica cirúrgica efectuada mais agressiva nos doentes com baixa concentração de vitamina D. Também doentes em remissão apresentam-se mais frequentemente com concentrações normais de vitamina D comparativamente com os doentes que têm baixa concentração sérica de vitamina D.

Tem-se vindo a aceitar que deficiência de vitamina D se associa com maior actividade da doença, seja colite ulcerosa seja doença de Crohn, bem como pior qualidade de vida no caso da doença de Crohn. Também o risco de terapêutica cirúrgica é superior nos doentes com baixa concentração de vitamina D bem como de hospitalização e necessidade de corticoterapia.

Foi verificado que os homens jovens constituem o grupo com maior risco de se encontrarem em deficiência de vitamina D. Mecanismos genéticos e hormonais podem explicar este facto uma vez que os estrogéneos têm acção protectora contra a deficiência de vitamina D. Claro que o tipo de vida e hábitos dietéticos deste grupo também têm influência nesta maior prevalência.


Evidências demonstram que a vitamina D tem acção sobre a clínica das DII. Já foi demonstrado que suplementação de vitamina D em doentes com DII tem uma acção positiva sobre a clínica e nomeadamente sobre o aparecimento de crises.   

Infestação por helmintas: alternativa terapêutica nas DII

Infestação por helmintas: alternativa terapêutica nas DII

A microbiota intestinal humana tem sido estudada como elemento interveniente em muitas patologias, desde obesidade até alterações psiquiátricas passando por perturbações do desenvolvimento.
No intestino humano vivem frequentemente bactérias, virus, fungos e parasitas como os helmintas ( Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Ancylostoma duodenale, Taenia solium ).
Mais de 2 biliões de pessoas estão infestadas por helmintas, que são transmitidos via fecal-oral através dos seus ovos. Os helmintas não se replicam no hospedeiro e originam infecção crónica causando efeitos importantes a nível imunológico.
Os helmintas provocam uma resposta imunológica tipo 2 que se caracteriza pela expressão de citoquinas IL-4, IL-5 e IL-13, anticorpos IgG1, IgG4 e IgE, eosinofilia, basofilia, aumento dos mastócitos e macrófagos activados pela via alternativa e células Th2. Pensa-se que este tipo de resposta imune tem por objectivo gerar tolerância no organismo ao parasita.
Acredita-se que nas sociedades desenvolvidas poderá o controlo imunológico da infestação se perder por haver uma diminuída exposição a helmintas e assim alergias e doenças auto-imunes surgem mais frequentemente, sendo a este fenómeno que se atribui a designação de teoria da higiene.

Verificou-se que a infestação por parasitas, e nomeadamente Trichuris trichiura, pode causar melhoria e ausência de sintomatologia de DII.
Estudos demonstraram que há paralelismo entre o número de ovos de Trichuris trichiura e o estado clínico da DII ( crise ou remissão ), sendo que quanto maior for o número de parasitas melhor é a situação clínica do doente. A colonização deste parasita foi acompanhada por melhoria histopatológica incluindo normalização da arquitectura tissular e recuperação da integridade epitelial.
Foi observado que na colite ulcerosa activa se observam células Th17 enquanto que na infestacção por Trichuris trichiura e na remissão da colite ulcerosa, as células presentes são Th2 ( Th IL-22 + ), concluindo-se que a colonização por Trichuris trichiura tem efeitos benéficos por causar hiperplasia das células caliciformes intestinais e aumento da produção de muco pelas citocinas das células Th2 e IL-22.

Dado as bactérias da microbiota interagirem constantemente com o sistema imune foi determinado que a redução de células Th2 em doentes com colite ulcerosa se associava a microbiota alterada, uma vez que havia proliferação de algumas espécies de bactérias do cólon e diminuição de outras na presença de inflamação colónica.
Foi verificado que a colonização com helmintas leva a uma maior diversidade bacteriana intestinal diminuindo ou terminando com a disbiose intestinal existente previamente ao tratamento com helmintas.
Bacteroides vulgatus é uma bactéria causadora de defeitos funcionais e estruturais das células intestinais. Infestação com Trichuris trichiura de macacos NOD2 negativo leva a uma resistência a B. vulgatus dependente de imunidade tipo 2 e esta infestação promove mudanças na microbiota para uma forma protectora que se caracteriza por sobre-expressão de Clostridia.


Verificou-se em doentes com DII que há uma diversidade superior da microbiota quando infestados por helmintas comparativamente com doentes não infestados, observando-se também um nível inferior de Bacteroides. Alterações em sentido oposto verificam-se surgir quando os doentes infestados são submetidos a tratamento anti-helmínticos.

Origem do cálcio tem importância no risco cardiovascular

Origem do cálcio tem importância no risco cardiovascular

Estudos revelaram que o cálcio dos suplementos alimentares pode estar relacionado mais fortemente a risco cardiovascular comparativamente com o cálcio que se obtém da dieta, tendo-se mesmo estabelecido um valor superior em 27% quando comparamos o risco de calcificação das artérias coronárias.
Estes estudos e estes dados estão ainda em fase não conclusiva e há conclusões em sentidos opostos, havendo mesmo quem afirme que em quantidades recomendadas o cálcio de origem dietética e o cálcio dos suplementos alimentares são igualmente seguros.

O metabolismo do cálcio dos suplementos dietéticos é diferente do metabolismo de cálcio alimentar.

Monitorização da glicemia em doentes diabéticos

Monitorização da glicemia em doentes diabéticos

Em diabéticos, sejam tipo I ou tipo II, há necessidade de monitorização contínua da glicemia. Este processo consiste de um monitor colocado no corpo do doente, que se liga a um dispositivo, como um iPhone, durante um período de tempo de cerca de 1 semana, e que dá um sinal com a glicemia por forma a que o doente possa vê-la cada 5 minutos e aperceber-se da sua subida ou descida.
A monitorização contínua dá informações muito superiores às obtidas pela determinação da glicemia por tiras em sangue total por picada no dedo e desta forma fazer a insulinoterapia mais adequadamente.

Há no entanto a necessidade de fornecer instruções aos doentes por forma a conseguirem usar estes novos métodos de monitorização contínua da glicemia.


sexta-feira, novembro 18, 2016

Resumo estatístico do 3º ano do blogue

Resumo estatístico do 3º ano do blogue


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segunda-feira, novembro 14, 2016

Associação entre nível sérico de vitamina D e clínica na DII

Associação entre nível sérico de vitamina D e clínica na DII

Vitamina D joga um papel importante na clínica da DII. Foi verificado que a administração de vitamina D a doentes com DII, por forma a manter as concentrações de 25-OH-vitamina D dentro dos limites recomendados, resulta numa necessidade menor de recorrência aos serviços de saúde por parte destes doentes.

Estudos revelaram que doentes com DII e níveis baixos de vitamina D necessitam de maiores concentrações de esteróides, medicamentos biológicos, narcóticos e CAT scans, ingressos na urgência e/ou hospitalares e intervenções cirúrgicas comparativamente com doentes com DII e níveis mais elevados de vitamina D. Os doentes com níveis mais baixos de vitamina D apresentam queixas dolorosas mais graves, scores mais elevados e pior qualidade de vida.

Concentrações de vitamina D inferiores às consideradas dentro dos valores de referência são comumente observadas em doentes com DII e associam-se a taxas de morbilidade e mortalidade altas, o que demonstra a associação entre vitamina D e DII, sendo assim importante a monitorização da vitamina D nestes doentes.
DII, e particularmente doença de Crohn e colite ulcerosa, caracteriza-se por ser uma patologia inflamatória crónica que afecta o tracto gastrointestinal e na qual joga um papel primordial a desregulação imunológica. A vitamina D, tem-se vindo a verificar ter capacidade de ter função reguladora do sistema imunológico inato e adaptativo, actuando directamente sobre as células T CD4+, favorecendo a maturação Th2 e inibindo a Th1 e Th17, e aumentando a produção de citoquinas anti-inflamatórias como IL- 4, IL-5 e IL-13. Vitamina D pela sua acção sobre as células dendríticas leva a um decréscimo de produção e diferenciação de Th1 pelo que assim diminui a produção de α-TNF, γ-INF e IL-2.
Autofagia também joga um importante papel na DII. Autofagia é utilizada pelos monócitos na eliminação de patogéneos, e ocorre pela acção de proteínas anti-bacterianas libertadas localmente pela vitamina D.

Foi verificada repetidamente deficiência em vitamina D em doentes com DII e relação inversa entre concentração de vitamina D e estado clínico de doentes com DII.
Verifica-se haver prevalência significativamente inferior de deficiência de vitamina D nos doentes em remissão.
Foi verificado haver correlação positiva entre os níveis de vitamina D e a actividade da DII e pior qualidade de vida, aumento de hospitalizações e intervenções cirúrgicas bem como necessidade de corticoterapia.
As principais causas de déficit de vitamina D nos doentes com DII não estão claras, mas acredita-se que contribuam para esta deficiência circunstâncias como diminuição do intake dietético de vitamina D, menor exposição solar, diminuição de absorpção causada pela mucosa intestinal inflamada e diminuição de absorpção dos ácidos biliares em doentes que sofreram resseção ileocecal.
Verificou-se que os níveis mais baixos de vitamina D são observados em doentes jovens do sexo masculino. Mecanismos genéticos e hormonais podem explicar este dado, pois que foi demonstrado que os estrogéneos são protectores contra a deficiência de vitamina D. Também o modo de vida e hábitos alimentares podem ter acção neste sentido.


Pode-se dizer que concentrações baixas de vitamina D são frequentes em doentes com DII e estes doentes com níveis baixos de vitamina D apresentam actividade da doença aumentada, mais queixas dolorosas, necessidades aumentadas de medicação biológica, esteróides e narcóticos, e necessidades aumentadas de recorrer aos serviços de saúde superiores comparativamente com doentes com níveis mais elevados de vitamina D. A vitamina D é pois um factor de risco, independente, de surgimento de crises, e a suplementação de vitamina D a estes doentes tem efeito benéfico no curso da doença em todas as suas fases.