quinta-feira, julho 25, 2013

Elevação de CA 19.9 provocada pelo consumo exagerado de chá

Elevação de CA 19.9 provocada pelo consumo exagerado de chá

O marcador tumoral CA 19.9 ( antigene associado a carbohidrato sérico, sialil-Lewis a ) é comummente utilizado para neoplasias biliopancreáticas, bem como carcinomas colorretais e outras patologias benignas e malignas.
O CA 19.9 sérico é o marcador tumoral mais utilizado para o cancro do pâncreas.
Na literatura, foi reportado um caso de aumento da concentração de CA 19.9, em indivíduo saudável, causado pelo consumo exagerado de chá.
O CA 19.9 é um monossialicogangliosídeo que pode elevar-se ligeiramente com algumas doenças benignas, atingindo níveis muito altos em patologias malignas como adenocarcinoma do pâncreas, carcinoma hepatocelular e cancro colangiocelular, e níveis elevados, se bem que menos elevados que naquelas doenças, são verificadas em cancros gástricos e colorretais.
Valores de até 140 UI/ml podem ser observados em doença inflamatória intestinal, mas nunca superior a esse valor.
De salientar que apenas indivíduos do grupo sanguíneo Lewis são capazes de apresentar concentrações elevadas de CA 19.9. Entre as causas não malignas, icterícia obstrutiva associa-se, frequentemente, com um aumento de CA 19.9 e verifica-se uma descida da concentração de CA 19.9 com a diminuição da icterícia, nos casos benignos, e principalmente em doentes com doenças malignas.
Células normais do epitélio biliar secretam mucinas que transportam CA 19.9. Elevação inespecífica de CA 19.9 sérica pode verificar-se por hipersecreção inflamatória e vazamento das secreções biliares no soro.
Verifica-se uma correlação estreita entre o CA 19.9 sérico e os parâmetros normalmente utilizados para caracterizar uma colestase, ou entre o CA 19.9 sérico e a fosfatase alcalina e a bilirrubinemia na insuficiência hepática aguda, hepatite aguda ou hepatopatias crónicas de qualquer etiologia.

O mecanismo pelo qual a elevação do CA 19.9 no soro se verifica parece ser uma provável hipersecreção pelas células epiteliais normais, nos processos inflamatórios.

Os flavonóides que formam o chá são anti-oxidantes potentes. O extracto de chá verde é um bioflavonóide potente no combate aos radicais livres. Uma classe de bioflavonóides é a dos polifenóis. De entre os polifenóis existentes no chá verde ( epicatequina, 3-galato de epicatequina, epigalocatequina e 3-galato de epigalocatequina ), o GEGC é um potente anti-oxidante, cerca de 300 vezes mais potente, nessa acção, que a vitamina E. Parece que os flavonóides actuam numa vasta gama molecular, que influencia o crescimento celular e as vias da angiogénese. Nos doentes que apresentam subida de CA 19.9, por vezes para valores muito elevados da ordem de 1400 UI/ml, a retirada do consumo de chá leva a uma queda abrupta, para valores normais ou muito próximos do normal, em menos de 1 mês, sendo que possíveis sintomas que tenham aparecido ( dor epigástrica, anorexia, etc.) desaparecem. O mecanismo que relaciona o hiperconsumo de chá com a elevação da concentração de CA 19.9 é desconhecido, mas parece haver uma susceptibilidade individual à anormal secreção de CA 19.9 desencadeada pelo excessivo consumo de chá.

O valor do CA 19.9 no diagnóstico de carcinoma do pâncreas é pouco significativo para a população saudável. Estudos, realizados no Japão e na Coreia do Sul, mostraram que apenas num muito reduzido número de indivíduos com aumento de CA 19.9 ( sem outras sintomatologias, alterações analíticas ou de outros exames complementares ) se encontra carcinoma do pâncreas ( 4 em 12840 doentes no estudo japonês; 4 em 70940 pacientes no estudo sul coreano ). O CA 19.9 como teste de screening para o carcinoma pancreático é de muito pouca valia em indivíduos saudáveis.

O CA 19.9, primeiramente utilizado para o cancro do cólon, tornou-se de maior uso no despiste  do  cancro  do  pâncreas. Utiliza-se   para   o   follow-up   do   tratamento  do cancro  ( pâncreas, colorretal, hepatoma, etc. ) ou para diferenciar diversos tipos de cancro, como o cancro dos ductos biliares e cancro do pâncreas. Uma nova subida dos valores de CA 19.9 podem indicar uma recorrência do cancro do pâncreas.
Valores superiores a 37 UI/ml são sempre considerados anormais, mas a razão desta anormalidade pode ser maligna, benigna ou irrelevante ( como é o caso da intoxicação pelo chá ).
Os valores de CA 19.9 são paralelos à gravidade da doença, sendo tanto mais altos quanto mais avançada estiver a doença.
A concentração de CA 19.9 também se correlaciona com o tratamento, verificando-se diminuição dos valores nos tumores que foram extraídos cirurgicamente, e há também correlação do valor de CA 19.9 com a localização do tumor, sendo mais elevado o valor de CA 19.9 nos localizados no corpo e mais baixos nos de localização na cauda, bem como nos locais de metástases, sendo as metástases hepáticas as que cursam com valores mais elevados de CA 19.9.

Uma causa de elevação de CA 19.9 é o quisto dermóide do ovário, mais frequente nas mulheres com 20 a 40 anos. A torsão do quisto dermóide pode ocorrer e ser uma causa do aumento do valor de CA 19.9, e valores elevados podem predizer a extensão da necrose tecidular.

CA 19.9 é derivado de uma via aberrante durante a produção da sua contra-parte, disialil-Lewis-a, que tem um resíduo de ácido siálico extra ligado através da ligação 2 6. Disialil-Lewis-a expressa-se normalmente no epitélio dos órgãos digestivos, serve de ligando para os monócitos e macrófagos e ajuda na imunovigilância. Silenciamento epigenético do gene para a 2 6 sialil transferase nas fases iniciais da carcinogénese leva a uma síntese anormal e acumulação de sialil-Lewis-a ( CA 19.9 ). CA 19.9 pode também jogar um papel na invasão/metastização, pois sabe-se que é um ligando para E-selectina das células endoteliais, responsável pela adesão celular.
Apenas doentes do grupo sanguíneo Le(α+β-) ou Le(α-β+) expressam CA 19.9.
O fenótipo Le(α-β-) encontra-se em 5-10% da população e falta-lhes a enzima 1,4-fucosil transferase requerida para a produção epitopo do antigene, e assim limita a utilização do CA 19.9.

Os valores de CA 19.9 correlacionam-se bem com a ressetabilidade do tumor, a metastização, o estadio e a resposta terapêutica dos carcinomas do pâncreas.
Verificou-se que quanto mais elevado o valor de CA 19.9 for, pre-operatoriamente, pior o prognóstico e mais baixa a sobrevivência do doente.

A semi-vida do CA 19.9 é de cerca de 14 horas.
Hiperbilirrubinemia associa-se a um aumento de CA 19.9, tanto em patologias benignas como malignas. A inflamação associada com icterícia obstrutiva aumenta a proliferação das células do epitélio biliar, com subsequente aumento na absorpção sistémica de CA 19.9. O valor de CA 19.9 normaliza após a desobstrução biliar, nos casos de colestase benigna, mas nos casos de obstrução maligna permanece elevada devido à persistente produção de CA 19.9 pelas células tumorais proliferantes.

O aumento do valor de CA 19.9 associa-se a um aumento do valor da VS, mas este aumento não é necessariamente paralelo.

Verificou-se, também, em doentes diabéticos, que um aumento do CA 19.9 é acompanhado por um aumento da HgA1c.

2 comentários:

  1. Estou tomando um suplemento que da origem ao chá, isso pode ter caudado a alteração?

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    1. Boa tarde

      Pode sim ser causa de subida muito exagerada de Ca 19.9 não tendo no entanto qualquer relevância. É no entanto conveniente perceber se tem essa relação deixando de tomar durante um mês o suplemento e voltar a dosear o Ca 19.9

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