Ácido
fólico
O ácido fólico,
ácido pteroilglutâmico ou vitamina B9, é considerado não ter
toxicidade para o ser humano, mas pode causar lesões neurológicas
quando administrado a doentes com anemia perniciosa. Também, em
doentes epilépticos tratados com anticonvulsivantes (
difenilhidantoína, valproato de sódio ), o ácido fólico pode
desencadear crises convulsivas.
A absorpção do
zinco, pelo intestino, pode ser prejudicada pela suplementação de
ácido fólico. O ácido fólico é armazenado, principalmente, no
fígado. Antibióticos, como a estreptomicina, destroem as bactérias
produtoras de ácido fólico, pelo que podem diminuir a sua
concentração. No entanto esta situação tem pouca importância dado que as bactérias produtoras de folato estão principalmente no cólon e a absorpção do ácido fólico realiza-se no jejuno.
O efeito tóxico
mais grave do ácido fólico, em sobredosagem, é a capacidade de
mascarar as manifestações anémicas da anemia perniciosa,
permitindo a progressão da doença neurológica, nomeadamente a
degenerescência posterolateral da medula. Como uma concentração
normal de vitamina B12, praticamente, exclui o diagnóstico de anemia
perniciosa, o doseamento desta vitamina deve ser feito, como medida
de precaução, antes de ser administrado ácido fólico em doses
terapêuticas.
Esta situação de o
ácido fólico piorar os efeitos neurológicos da anemia perniciosa,
nomeadamente a degenerescência posterolateral da medula, é uma
situação extremamente rara.
O ácido fólico, em
altas doses, pode reverter o efeito dos anti-convulsivantes ( difenil-hidantoína e valproato de sódio ), mas esta
situação também é rara.
O ácido fólico é
mal absorvido pelo intestino, nos doentes com deficiência de zinco.
O balanço do zinco no organismo, em doentes a fazerem suplementação
de ácido fólico, é provavelmente mantido, embora os estudos ainda
sejam inconclusivos, visto por um lado haver maior perda pelas fezes
mas, por outro lado, uma excreção urinária menor.
Verificou-se, no
entanto, uma alta correlação entre ocorrência de complicações na
gravidez e a combinação de baixa concentração sérica de zinco e
alta concentração de folato sérico. Foi postulado que tanto a
administração de ácido fólico, como de ferro, pode interferir na
absorpção intestinal do zinco. A absorpção do zinco é diminuída
pela administração oral, concomitante, de ácido fólico e esta
diminuição, é ainda mais acentuada, se for suplementado, por via
oral, ferro e ácido fólico.
Uma enorme variedade
de antagonistas de ácido fólico é utilizada em patologias variadas
como cancro, leucemia, psoríase, artrite reumatóide, poliomiosite,
dermatomiosite, sarcoidose, asma brônquica, cirrose biliar primária,
infecções bacterianas várias, malária, hipertensão, doença de
Crohn, colite ulcerosa, gota e epilepsia, entre outras. Virtualmente
nada é conhecido sobre a segurança ou toxicidade da suplementação
do ácido fólico em doentes tratados com medicamentos que interferem
no metabolismo dos folatos.
Fontes naturais de
ácido fólico não causam toxicidade.
A maioria dos
folatos da dieta existe na forma de poliglutamato, que é convertida,
na parede do colon, a monoglutamato e é absorvida na corrente
sanguínea. Os folatos sintetizados pelas bactérias intestinais não
contribuem significativamente para a nutrição de folatos, dado que
esta síntese é restringida ao cólon e a absorpção ocorre
principalmente no delgado ( jejuno ).
A sulfassalazina
interfere com a absorpção dos folatos. A utilização dos folatos
na dieta depende do fornecimento de outras vitaminas ( do grupo B e
vitamina C ) que estão envolvidas em reacções químicas
necessárias para o metabolismo dos folatos da dieta.
O ácido fólico, em
conjunto com a vitamina B12, pode prevenir defeitos do tubo neural. O
ácido fólico está envolvido na formação de novas células e na
síntese do DNA, por fazer parte dos coenzimas dihidrofolato e
tetrahidrofolato. O ácido fólico activa as coenzimas da vitamina B12,
enquanto que a vitamina B12 é necessária para o funcionamento das
coenzimas do folato, sendo assim interdependentes.
O ácido fólico tem
a capacidade de degradar a homocisteína, um aminoácido que, se se
acumula, lesa as paredes arteriais aumentando o risco de coágulos
sanguíneos. Desta forma, doenças cardiovasculares são prevenidas
pela acção do ácido fólico. A homocisteína também pode causar
inflamação que pode lesar a parede de órgãos como o intestino.
O ácido fólico
também tem acção de combater o aparecimento de vários tipos de
cancro como o do cólon, da bexiga ou dos pulmões.
A biodisponibilidade
do ácido fólico é mais baixa quando se trata de fonte natural (
vegetais de folhas verdes, sementes, fígado, leguminosas, cereais
fortificados ) do que quando é a vitamina sintética. Apenas metade,
ou ainda menos, do folato da dieta é absorvido.
A deficiência de
ácido fólico pode resultar em lesão no intestino. Se as células
do trato gastrointestinal são lesadas, o folato pode ser perdido e,
assim, pode originar mais danos e perdas de outros nutrientes,
levando ao aparecimento de anemia. A anemia pela falta do folato pode
permitir que haja danos no DNA das células vermelhas do sangue, que
assim podem parar a divisão e maturação eritrocitária e, desse
modo, aparecem eritrócitos maiores e em menor número. Anemia ,
língua vermelha e lisa, confusão mental, fraqueza, fadiga,
irritabilidade, cefaleias, falta de ar, diarreia, perda de peso,
insónia, depressão, parestesias, reflexos hiperactivos, distúrbios
cognitivos, perda de memória são os sintomas mais comuns da falta
de ácido fólico.
O álcool diminui
substancialmente a absorpção do ácido fólico.
A acção principal
do ácido fólico é ajudar à formação dos eritrócitos e,
igualmente, auxiliar a formação do DNA.
Os tecidos que se
renovam muito rapidamente, como as células sanguíneas na medula
óssea e os enterócitos, especialmente do intestino delgado, são os
mais prejudicados com a sua deficiência.
O ácido fólico
executa as suas funções actuando como dador de carbono. A acção
do ácido fólico segue os seguintes passos:
- a serina reage com o tetrahidrofolato para formar o 5,10-metilenetetrahidrofolato, envolvido na síntese do DNA
- um grupo metilico é doado à cobalamina ( vitamina B12 ) pelo 5-metiltetrahidrofolato para formar a metilcobalamina que, sob a acção da sintase da metionina, doa um grupo metílico à homocisteína, convertendo a homocisteína em metionina
- a metionina é convertida em 5-adenosilmetionina, um dador metílico, que se apresenta envolvido em múltiplos processos bioquímicos.
Serina +
tetrahidrofolato ----> 5,10-metilenetetrahidrofolato ( envolvido
na síntese de DNA )
5-metiltetrahidrofolato
----> metil + cobalamina ----> metilcobalamina –//-->
metil +
homocisteína
----> metionina ----> 5-adenosilmetionina
Situações de
displasia, característica pré-cancerosa, podem beneficiar da
suplementação de ácido fólico. Casos de displasia do colo do
útero, em mulheres fazendo contraceptivos orais, melhoraram
substancialmente com tratamento, por 3-4 meses, com 10 mg de ácido
fólico diário.
O ácido fólico é
essencial para a formação do heme da hemoglobina, estando desta
forma relacionado com a formação dos eritrócitos.
As funções do
ácido fólico são.
- actua como coenzima no processo de transferência de carbono
- intervem na formação das purinas e pirimidinas, assim participando na formação do DNA, RNA e proteínas
- necessário na produção dos eritrócitos por estar envolvido na formação do heme
- tem funções na correcta maturação do tubo neural
- reduz as ocorrências de patologia cardiovascular
- previne vários tipos de cancro ( colon, bexiga, pulmões e outros )
- aumenta o apetite
- estimula a formação dos ácidos digestivos
O folato existente
na carne é relativamente estável ao cozinhar das refeições. O
contrário sucede com o folato dos vegetais que se degrada
rapidamente pela cozedura. O ácido fólico deve ser ingerido com
vitamina C, para a sua absorpção ser máxima. Também as vitaminas
B1, B2 e B3 favorecem o metabolismo natural do ácido fólico.
A intoxicação pelo
ácido fólico, se bem que muito rara pelo excesso de vitamina ser
excretada pela urina por ser uma vitamina hidrossolúvel, pode
provocar alterações no sistema nervoso central decorrentes do
aumento da síntese de aminas cerebrais.
O ácido fólico é
necessário para a fertilidade masculina e feminina. Contribui para a
normal espermogénese.
Os níveis de ácido
fólico no sangue correlacionam-se bem com um menor risco de cancro
do estômago, esófago, mama ( o caso do cancro da mama é ainda
controverso o papel do folato ser benéfico ou prejudicial sobre a
sua evolução ) e ovário. Tem sido, pelo contrário, referido que
altas concentrações de ácido fólico podem ser promotoras de
iniciação de alguns tumores ou ajudam a evolução de tumores já
declarados. O folato tem mostrado desempenhar um duplo papel no
desenvolvimento do cancro: ingestão insuficiente do folato pode
facilitar a carcinogénese e alta ingestão de folato promove a
evolução de um cancro já existente.
O folato é
necessário para transportar o carbono para as reacções de
metilação e de síntese dos ácidos nucleicos ( a mais envolvida é
a timidina - timidina é a ligação da base timina com o anel desoxirribose - mas também as bases purinas o são ). Assim, a
deficiência de folato impede a síntese do DNA e da divisão celular
dos eritroblastos e células neoplásicas devido à sua maior
frequência de divisão celular. O RNA, a transcripção e a síntese
de proteínas posterior à transcripção são menos afectadas pelo
déficit de folato, tal como o mRNA que pode ser reciclado e
reutilizado. Dado que a falta de folato limita a divisão celular, a
eritropoiese é dificultada, levando a anemia megaloblástica
caracterizada por eritrócitos grandes e imaturos. Isto resulta de
tentativas persistentemente frustradas da replicação do DNA normal,
reparação do DNA e divisão celular e produz eritrócitos
anormalmente grandes ( megaloblastos e polimorfonucleares
hipersegmentados ) com citoplasma abundante, com RNA e síntese
proteica, mas acumulação e fragmentação de cromatina nuclear.
Todas as funções
biológicas do ácido fólico são realizadas pelo tetrahidrofolato e
seus derivados. A sua disponibilidade biológica para o corpo depende
da dihidrofolato redutase hepática.
A vitamina B12 é o único receptor de metiltetrahidrofolato e esta reacção produz
metil-vitamina B12 ( também chamada de metilcobalamina ). Existe
também um único aceitador de metilcobalamina, a homocisteína,
numa reacção catalizada pela homocisteína metiltransferase. Um defeito da
homocisteína metiltransferase, ou uma deficiência de vitamina B12,
pode levar a um “metil-trap” de tetrahidrofolato, em que este é
convertido num reservatório de metiltetrahidrofolato que não tem
maneira de ser metabolizado, e serve de dissipador do
tetrahidrofolato que causa subsequente déficit em folato. Assim, uma
baixa concentração sérica de vitamina B12 pode originar uma grande
quantidade de metiltetrahidrofolato, incapaz de sofrer reacções, e
que simula deficiência em folato.
Metil trap
metil + cobalamina ----> metilcobalamina –//--> metil +
homocisteína ----> metionina
Estas reacções
esquematizam-se do seguinte modo:
folato
+ 2OH ---> dihidrofolato
dihidrofolato
+ 2OH ---> tetrahidrofolato
tetrahidrofolato
+ 2C ---> metilenetetrahidrofolato + 2O
metilenetetrahidrofolato
+ C ---> metiltetrahidrofolato
O ácido fólico
absorve-se quase completamente no trato gastrointestinal, a maior
parte no intestino delgado superior, inclusivé em presença de
síndrome de má absorpção. A união do ácido fólico às
proteínas é grande, e o armazenamento é feito, em grande parte, no
fígado, onde também é metabolizado. No fígado e no plasma, na
presença de ácido ascórbico ( vitamina C ), o ácido fólico
converte-se em ácido tetrahidrofólico, a sua forma metabolicamente
activa, pela acção da enzima dihidrofolato redutase. É eliminado
pelas fezes e pela urina.
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