quarta-feira, dezembro 19, 2012

Ácido fólico


Ácido fólico



O ácido fólico, ácido pteroilglutâmico ou vitamina B9, é considerado não ter toxicidade para o ser humano, mas pode causar lesões neurológicas quando administrado a doentes com anemia perniciosa. Também, em doentes  epilépticos  tratados  com  anticonvulsivantes   ( difenilhidantoína, valproato de sódio ), o ácido fólico pode desencadear crises convulsivas.
A absorpção do zinco, pelo intestino, pode ser prejudicada pela suplementação de ácido fólico. O ácido fólico é armazenado, principalmente, no fígado. Antibióticos, como a estreptomicina, destroem as bactérias produtoras de ácido fólico, pelo que podem diminuir a sua concentração. No entanto esta situação tem pouca importância dado que as bactérias produtoras de folato estão principalmente no cólon e a absorpção do ácido fólico realiza-se no jejuno.
O efeito tóxico mais grave do ácido fólico, em sobredosagem, é a capacidade de mascarar as manifestações anémicas da anemia perniciosa, permitindo a progressão da doença neurológica, nomeadamente a degenerescência posterolateral da medula. Como uma concentração normal de vitamina B12, praticamente, exclui o diagnóstico de anemia perniciosa, o doseamento desta vitamina deve ser feito, como medida de precaução, antes de ser administrado ácido fólico em doses terapêuticas.
Esta situação de o ácido fólico piorar os efeitos neurológicos da anemia perniciosa, nomeadamente a degenerescência posterolateral da medula, é uma situação extremamente rara.
O ácido fólico, em altas doses, pode reverter o efeito dos anti-convulsivantes ( difenil-hidantoína e valproato de sódio ), mas esta situação também é rara.
O ácido fólico é mal absorvido pelo intestino, nos doentes com deficiência de zinco. O balanço do zinco no organismo, em doentes a fazerem suplementação de ácido fólico, é provavelmente mantido, embora os estudos ainda sejam inconclusivos, visto por um lado haver maior perda pelas fezes mas, por outro lado, uma excreção urinária menor.
Verificou-se, no entanto, uma alta correlação entre ocorrência de complicações na gravidez e a combinação de baixa concentração sérica de zinco e alta concentração de folato sérico. Foi postulado que tanto a administração de ácido fólico, como de ferro, pode interferir na absorpção intestinal do zinco. A absorpção do zinco é diminuída pela administração oral, concomitante, de ácido fólico e esta diminuição, é ainda mais acentuada, se for suplementado, por via oral, ferro e ácido fólico.
Uma enorme variedade de antagonistas de ácido fólico é utilizada em patologias variadas como cancro, leucemia, psoríase, artrite reumatóide, poliomiosite, dermatomiosite, sarcoidose, asma brônquica, cirrose biliar primária, infecções bacterianas várias, malária, hipertensão, doença de Crohn, colite ulcerosa, gota e epilepsia, entre outras. Virtualmente nada é conhecido sobre a segurança ou toxicidade da suplementação do ácido fólico em doentes tratados com medicamentos que interferem no metabolismo dos folatos.
Fontes naturais de ácido fólico não causam toxicidade.
A maioria dos folatos da dieta existe na forma de poliglutamato, que é convertida, na parede do colon, a monoglutamato e é absorvida na corrente sanguínea. Os folatos sintetizados pelas bactérias intestinais não contribuem significativamente para a nutrição de folatos, dado que esta síntese é restringida ao cólon e a absorpção ocorre principalmente no delgado ( jejuno ).

A sulfassalazina interfere com a absorpção dos folatos. A utilização dos folatos na dieta depende do fornecimento de outras vitaminas ( do grupo B e vitamina C ) que estão envolvidas em reacções químicas necessárias para o metabolismo dos folatos da dieta.

O ácido fólico, em conjunto com a vitamina B12, pode prevenir defeitos do tubo neural. O ácido fólico está envolvido na formação de novas células e na síntese do DNA, por fazer parte dos coenzimas dihidrofolato e tetrahidrofolato. O ácido fólico activa as coenzimas da vitamina B12, enquanto que a vitamina B12 é necessária para o funcionamento das coenzimas do folato, sendo assim interdependentes.
O ácido fólico tem a capacidade de degradar a homocisteína, um aminoácido que, se se acumula, lesa as paredes arteriais aumentando o risco de coágulos sanguíneos. Desta forma, doenças cardiovasculares são prevenidas pela acção do ácido fólico. A homocisteína também pode causar inflamação que pode lesar a parede de órgãos como o intestino.
O ácido fólico também tem acção de combater o aparecimento de vários tipos de cancro como o do cólon, da bexiga ou dos pulmões.
A biodisponibilidade do ácido fólico é mais baixa quando se trata de fonte natural ( vegetais de folhas verdes, sementes, fígado, leguminosas, cereais fortificados ) do que quando é a vitamina sintética. Apenas metade, ou ainda menos, do folato da dieta é absorvido.
A deficiência de ácido fólico pode resultar em lesão no intestino. Se as células do trato gastrointestinal são lesadas, o folato pode ser perdido e, assim, pode originar mais danos e perdas de outros nutrientes, levando ao aparecimento de anemia. A anemia pela falta do folato pode permitir que haja danos no DNA das células vermelhas do sangue, que assim podem parar a divisão e maturação eritrocitária e, desse modo, aparecem eritrócitos maiores e em menor número. Anemia , língua vermelha e lisa, confusão mental, fraqueza, fadiga, irritabilidade, cefaleias, falta de ar, diarreia, perda de peso, insónia, depressão, parestesias, reflexos hiperactivos, distúrbios cognitivos, perda de memória são os sintomas mais comuns da falta de ácido fólico.
O álcool diminui substancialmente a absorpção do ácido fólico.

A acção principal do ácido fólico é ajudar à formação dos eritrócitos e, igualmente, auxiliar a formação do DNA.
Os tecidos que se renovam muito rapidamente, como as células sanguíneas na medula óssea e os enterócitos, especialmente do intestino delgado, são os mais prejudicados com a sua deficiência.
O ácido fólico executa as suas funções actuando como dador de carbono. A acção do ácido fólico segue os seguintes passos:
  • a serina reage com o tetrahidrofolato para formar o 5,10-metilenetetrahidrofolato, envolvido na síntese do DNA
  • um grupo metilico é doado à cobalamina ( vitamina B12 ) pelo 5-metiltetrahidrofolato para formar a metilcobalamina que, sob a acção da sintase da metionina, doa um grupo metílico à homocisteína, convertendo a homocisteína em metionina
  • a metionina é convertida em 5-adenosilmetionina, um dador metílico, que se apresenta envolvido em múltiplos processos bioquímicos.


Serina + tetrahidrofolato ----> 5,10-metilenetetrahidrofolato ( envolvido na síntese de DNA )

5-metiltetrahidrofolato ----> metil + cobalamina ----> metilcobalamina –//--> metil +
homocisteína ----> metionina ----> 5-adenosilmetionina



Situações de displasia, característica pré-cancerosa, podem beneficiar da suplementação de ácido fólico. Casos de displasia do colo do útero, em mulheres fazendo contraceptivos orais, melhoraram substancialmente com tratamento, por 3-4 meses, com 10 mg de ácido fólico diário.
O ácido fólico é essencial para a formação do heme da hemoglobina, estando desta forma relacionado com a formação dos eritrócitos.

As funções do ácido fólico são.
  • actua como coenzima no processo de transferência de carbono
  • intervem na formação das purinas e pirimidinas, assim participando na formação do DNA, RNA e proteínas
  • necessário na produção dos eritrócitos por estar envolvido na formação do heme
  • tem funções na correcta maturação do tubo neural
  • reduz as ocorrências de patologia cardiovascular
  • previne vários tipos de cancro ( colon, bexiga, pulmões e outros )
  • aumenta o apetite
  • estimula a formação dos ácidos digestivos

O folato existente na carne é relativamente estável ao cozinhar das refeições. O contrário sucede com o folato dos vegetais que se degrada rapidamente pela cozedura. O ácido fólico deve ser ingerido com vitamina C, para a sua absorpção ser máxima. Também as vitaminas B1, B2 e B3 favorecem o metabolismo natural do ácido fólico.

A intoxicação pelo ácido fólico, se bem que muito rara pelo excesso de vitamina ser excretada pela urina por ser uma vitamina hidrossolúvel, pode provocar alterações no sistema nervoso central decorrentes do aumento da síntese de aminas cerebrais.

O ácido fólico é necessário para a fertilidade masculina e feminina. Contribui para a normal espermogénese.

Os níveis de ácido fólico no sangue correlacionam-se bem com um menor risco de cancro do estômago, esófago, mama ( o caso do cancro da mama é ainda controverso o papel do folato ser benéfico ou prejudicial sobre a sua evolução ) e ovário. Tem sido, pelo contrário, referido que altas concentrações de ácido fólico podem ser promotoras de iniciação de alguns tumores ou ajudam a evolução de tumores já declarados. O folato tem mostrado desempenhar um duplo papel no desenvolvimento do cancro: ingestão insuficiente do folato pode facilitar a carcinogénese e alta ingestão de folato promove a evolução de um cancro já existente.

O folato é necessário para transportar o carbono para as reacções de metilação e de síntese dos ácidos nucleicos ( a mais envolvida é a timidina - timidina é a ligação da base timina com o anel desoxirribose -  mas também as bases purinas o são ). Assim, a deficiência de folato impede a síntese do DNA e da divisão celular dos eritroblastos e células neoplásicas devido à sua maior frequência de divisão celular. O RNA, a transcripção e a síntese de proteínas posterior à transcripção são menos afectadas pelo déficit de folato, tal como o mRNA que pode ser reciclado e reutilizado. Dado que a falta de folato limita a divisão celular, a eritropoiese é dificultada, levando a anemia megaloblástica caracterizada por eritrócitos grandes e imaturos. Isto resulta de tentativas persistentemente frustradas da replicação do DNA normal, reparação do DNA e divisão celular e produz eritrócitos anormalmente grandes ( megaloblastos e polimorfonucleares hipersegmentados ) com citoplasma abundante, com RNA e síntese proteica, mas acumulação e fragmentação de cromatina nuclear.

Todas as funções biológicas do ácido fólico são realizadas pelo tetrahidrofolato e seus derivados. A sua disponibilidade biológica para o corpo depende da dihidrofolato redutase hepática.


A vitamina   B12  é  o  único  receptor  de  metiltetrahidrofolato  e  esta reacção produz metil-vitamina B12 ( também chamada de metilcobalamina ). Existe também um único aceitador de metilcobalamina, a homocisteína, numa reacção catalizada pela homocisteína metiltransferase. Um defeito da homocisteína metiltransferase, ou uma deficiência de vitamina B12, pode levar a um “metil-trap” de tetrahidrofolato, em que este é convertido num reservatório de metiltetrahidrofolato que não tem maneira de ser metabolizado, e serve de dissipador do tetrahidrofolato que causa subsequente déficit em folato. Assim, uma baixa concentração sérica de vitamina B12 pode originar uma grande quantidade de metiltetrahidrofolato, incapaz de sofrer reacções, e que simula deficiência em folato.



Metil trap

metil + cobalamina ----> metilcobalamina –//--> metil +
homocisteína ----> metionina


Estas reacções esquematizam-se do seguinte modo:

folato + 2OH ---> dihidrofolato
dihidrofolato + 2OH ---> tetrahidrofolato
tetrahidrofolato + 2C ---> metilenetetrahidrofolato + 2O
metilenetetrahidrofolato + C ---> metiltetrahidrofolato


O ácido fólico absorve-se quase completamente no trato gastrointestinal, a maior parte no intestino delgado superior, inclusivé em presença de síndrome de má absorpção. A união do ácido fólico às proteínas é grande, e o armazenamento é feito, em grande parte, no fígado, onde também é metabolizado. No fígado e no plasma, na presença de ácido ascórbico ( vitamina C ), o ácido fólico converte-se em ácido tetrahidrofólico, a sua forma metabolicamente activa, pela acção da enzima dihidrofolato redutase. É eliminado pelas fezes e pela urina.


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