Doença Inflamatória Intestinal
A Doença Inflamatória Intestinal ( DII ) é uma denominação genérica, que engloba patologias cuja etiologia é conhecida ( colite isquémica, enterocolite actínica, infecções, etc ) ou são idiopáticas ( doença de Crohn, colite ulcerosa, colite linfocítica, colagenose, etc ). De entre todas as DII, a doença de Crohn e a colite ulcerosa são responsáveis por 80 - 90% destas patologias.
A DII é diagnosticada pela clínica, dados laboratoriais, radiologia, endoscopia e anatomo-patologia. Estas doenças têm o seu início, mais frequentemente, entre os 20 e os 30 anos, com uma maior incidência nos brancos e judeus e ligeiro predomínio do sexo feminino.
A clínica destas doenças depende da sua extensão bem como da sua gravidade.
A doença de Crohn pode apresentar sintomatologia muito discreta, bem como pode a sua sintomatologia mais evidente ser extra-intestinal, podendo atrasar, desta forma, o diagnóstico por muito tempo.
A sintomatologia inicial pode ser intestinal ou ser secundária a complicações da patologia. O início é geralmente insidioso e dependente da localização, que se pode extender da boca ao ânus e região perianal. A localização mais comum é a região ileocólica e a sintomatologia mais habitual é :
- Diarreia no geral não sanguinolenta, com 5-6 evacuações diárias, principalmente na doença confinada ao íleo
- Perda de peso
- Febre baixa
- Astenia
- Dor abdominal, geralmente tipo cólica, na FID, refletindo a inflamação da região ileocecal; quando o cólon está envolvido, as dores podem atingir a FIE
- Perda sanguínea, via retal, que se verifica quando há comprometimento do cólon ; lesões perianais podem estar presentes
- Crises intermitentes
- Episódios transitórios de obstrução intestinal parcial ou total, particularmente quando há comprometimento do intestino delgado
- Exame físico cujos sinais são dependentes da extensão de envolvimento intestinal, severidade do quadro e suas complicações, podendo ir desde sinais inespecíficos até sinais manifestos de má absorpção intestinal:
- massa abdominal em geral, se presente, na FID ou irritação peritoneal
- fístula, abcesso ou fissuras perianais
- manifestações extra-intestinais, como úlceras orais, artrites, artralgias, inflamação ocular, eritema nodoso, pioderma gangrenoso
- maior incidência de litíase biliar, na forma ileal distal, devido à má absorpção, e redução do “pool” de sais biliares e hipomotilidade vesicular
- Exames laboratoriais
- os dados analíticos podem ser normais ou estarem ligeiramente alterados
- anemia hipocrómica microcítica, por perda de ferro, leucocitose por vezes com eosinofilia e monocitose, hipoalbuminemia, trombocitose
- aumento da VS, PCR, α1-glicoproteína ácida
- nas situações graves, pode verificar-se hipocaliémia, hipoclorémia, hiponatrémia, alcalose ou acidose metabólica
- presença de leucócitos nas fezes
- pANCA, ASCA, anticorpo anti-células do pâncreas exócrino, anticorpos anti-células gobblet
- Exames radiológicos
- radiografia simples do abdómen, que revela ansas dilatadas e níveis hidroaéreos, se há obstrução intestinal, ou pneumoperitoneu, se há perfuração intestinal
- clister opaco onde se vê perda das haustras
- Endoscopia com biópsia: na doença de Crohn são característicos granulomas ou infiltração transmural, que se podem encontrar na biópsia de regiões de mucosa aparentemente normal; na doença de Crohn, o recto é habitualmente poupado. A extensão e gravidade das lesões encontradas no cólon é determinada pela colonoscopia, sendo que se devem efectuar biópsias mesmo na mucosa aparentemente normal
Também são de significado diagnóstico para a doença de Crohn outros parâmetros e dados de exames complementares de diagnóstico, nomeadamente:
- Hemograma: pode ser encontrada anemia microcítica hipocrómica ou megaloblástica; leucocitose; trombocitose ( nos casos mais graves )
- aumento da VS
- Alta frequência de anergia, que pode ser observada em 30% dos casos
- Hipoalbuminemia causada por desnutrição ou perdas entéricas
- Aumento das concentrações séricas da fosfatase alcalina, gama-glutamiltranspeptidase e bilirrubinas, nas situações de complicações hepáticas
- Alteração do balanço da gordura fecal, com esteatorreia, nos casos de acometimento extenso do intestino delgado
- Ultrassonografia, TAC ou enterorressonância magnética, que podem evidenciar situações de estenose das ansas comprometidas e abcessos
O diagnóstico diferencial faz-se com a colite ulcerosa, doenças infecciosas ( tuberculose intestinal, infecção por Yersinia enterocolitica, blastomicose, actinomicose, histoplasmose ), doença isquémica intestinal, apendicite bloqueada, perfuração intestinal bloqueada, amiloidose, sarcoidose, forma pseudo-tumoral da esquistossomíase, ameboma, tumores ( linfomas, adenocarcinoma ) e síndrome carcinóide.
Sem comentários:
Enviar um comentário